Em entrevista à agência Bloomberg, Mário Centeno considerou que há espaço para libertar a economia e reforçar despesa e investimento antes de um potencial aumento do desemprego dificultar um possível crescimento.
O governador do BdP mostrou-se aberto a cortes superiores aos de 25 pontos base que têm sido alcançados nas últimas reuniões.
"Não precisamos de nos restringir a uma métrica de descer apenas de 25 em 25 pontos base", disse, na entrevista à Bloomberg em Washington, à margem das reuniões anuais do Fundo Monetário Internacional (FMI).
"Para uma economia que passou 10 anos com uma inflação média de 0,9%, para uma economia que não está a investir, para uma economia que é apoiada por um mercado de trabalho que mostra alguns sinais de fraqueza, precisamos de considerar a possibilidade de avançar em passos maiores", insistiu.
O antigo ministro das Finanças sugeriu, ainda, que a perspetiva de a inflação atingir o objetivo de 2% em breve poderá contribuir para uma aceleração da descida.
De acordo com a Bloomberg, se por um lado os economistas preveem descidas de 25 pontos base nas próximas três reuniões e outros dois movimentos até ao final de 2025, os mercados financeiros antecipam descidas mais agressivas, aumentando a aposta numa descida de 50 pontos base em dezembro.
O BCE decidiu, na semana passada, a terceira descida do ano -- a segunda consecutiva -- das taxas diretoras em 25 pontos base.
Para Centeno, a zona euro corre o risco de entrar num ciclo vicioso que pode prejudicar a economia de forma progressiva.
"Os riscos negativos são todos endógenos à política. Estamos a arriscar que a economia e a inflação desçam mais que o necessário", alertou.
A presidente do BCE, Christine Lagarde, afirmou na semana passada que a decisão de cortar as taxas de juro foi unânime no banco central e que o desempenho económico foi mais débil que o esperado.
A presidente do BCE disse ainda que a evolução económica tem ficado abaixo do previsto e que se espera a divulgação de mais dados económicos para tomar as decisões de política monetária reunião a reunião, reiterando que não há uma trajetória de taxas determinada previamente.
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