"Embora qualquer oferta para melhorar as relações possa ter pouca substância, Pequim vai tentar tirar partido das tensões transatlânticas alimentadas por Trump", escreve o 'think tank', que tem sede em Berlim, num novo relatório.
O grupo de reflexão prevê que a China aborde os estados membros e as empresas mais afetadas pela pressão de Washington, "na esperança de que possam ignorar a posição de Pequim em relação à Ucrânia".
"Para outros países europeus, Pequim vai continuar a utilizar os investimentos, o acesso ao mercado chinês e a ameaça de retaliação económica para moldar o seu comportamento e perturbar a agenda europeia de redução de riscos", resumiu.
O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, prometeu durante a campanha impor taxas alfandegárias entre 10% e 20% sobre todas as importações. Para os produtos chineses, as taxas punitivas podem ascender a 60%.
Trump questionou também a continuidade dos Estados Unidos na NATO, numa altura em que a guerra na Ucrânia deu renovado propósito à aliança transatlântica.
A Europa, que definiu a China como "parceiro, concorrente e rival sistémico", pretende reduzir a sua dependência no comércio com o país asiático, face à aproximação de Pequim a Moscovo e às interrupções nas cadeias de abastecimento causadas pela pandemia da covid-19.
Bruxelas adotou também maior escrutínio sobre o investimento oriundo do país asiático, travando o crescente fluxo de capital chinês para a Europa.
"No próximo ano, a China vai tentar ter duas coisas: intensificar o apoio à Rússia e, ao mesmo tempo, restabelecer boas relações com a Europa", afirmou Helena Legarda, analista do MERICS. "Se os estados-membros da UE tentarem ficar do lado bom dos EUA e da China, a política da União Europeia em relação à China e a sua estratégia de redução dos riscos poderão ficar paralisadas", acrescentou.
O 'think tank' advertiu que a Europa "não se pode proteger de ambos os lados", ou "arriscar-se-á a descarrilar a sua agenda de redução de riscos e a sua política a longo prazo em relação à China".
"Sem uma estratégia e um conjunto de objetivos claros, a Europa poderá transformar-se numa arena de concorrência entre os EUA e a China", apontou.
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