"País teve três governos em 5 anos. Se fosse uma empresa, estaria falida"

Rita Maria Nunes, Country Manager da The Alternative Board (TAB) em Portugal, sublinha o impacto desta situação no tecido empresarial nacional e salienta a falta de visão estratégica. Aponta ainda que o "país funciona em ciclos curtos, de governações intermitentes, sem tempo para executar reformas estruturais".

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© TAB Portugal

Beatriz Vasconcelos
18/03/2025 11:05 ‧ ontem por Beatriz Vasconcelos

Economia

Rita Maria Nunes

Portugal caminha para eleições legislativas, que se vão realizar a 18 de maio, na sequência da crise política que levou à demissão do Governo PSD/CDS-PP. Rita Maria Nunes, country manager da The Alternative Board (TAB) em Portugal, sublinha, em declarações ao Notícias ao Minuto, o impacto desta situação no tecido empresarial e salienta a falta de visão estratégica. 

 

"Portugal teve três governos em cinco anos. Se fosse uma empresa, estaria falida. Quem é que sobrevive a esta roleta russa de decisões, cortes, medidas e recuos?", questionou Rita Maria Nunes, acrescentando: "A queda de um governo, por si só, não paralisa um país. Mas tantos governos em tão pouco tempo, isso sim, é um sintoma grave. O verdadeiro problema não é a mudança de rostos no poder – é a falta de visão estratégica que permita a um país e às suas empresas crescerem sem estarem reféns dos ciclos políticos". 

Para as empresas, o problema não é a crise em si, mas antes a normalização deste cenário de instabilidade, já que ainda há um ano o país foi às urnas. 

Empresas ficam reféns deste jogo político. Como podem planear o futuro se o próprio Estado não sabe onde estará daqui a seis meses?

"A maior consequência para as empresas não é a queda de um governo em si, mas sim a normalização da instabilidade. O país funciona em ciclos curtos, de governações intermitentes, sem tempo para executar reformas estruturais. Cada novo governo reinventa a roda, desfaz o que foi feito antes, e as empresas ficam reféns deste jogo político. Como podem planear o futuro se o próprio Estado não sabe onde estará daqui a seis meses?", apontou. 

Rita Maria Nunes considera que o impacto nas empresas se divide em três pontos: 

  • Investimento e Crescimento – "Empresas não investem no escuro. Quando a incerteza política cresce, as multinacionais retraem-se e as PMEs, que já vivem no limite, adiam decisões estratégicas. Os fundos e incentivos tornam-se imprevisíveis, a carga fiscal oscila, e o Estado, que deveria ser um motor de desenvolvimento, transforma-se num obstáculo";
  • Financiamento e Acesso ao Crédito – "A confiança dos mercados é um ativo intangível, mas com consequências bem tangíveis. Uma crise política pode significar spreads mais altos, risco-país agravado e custo de financiamento mais caro, sobretudo para pequenas empresas. Um negócio saudável hoje pode estar insolvente amanhã porque a taxa de juro subiu ou um pagamento do Estado atrasou"; 
  • Funcionamento do Estado e Bloqueio Administrativa – "Quando um governo cai,tudo fica em suspenso. Processos burocráticos que já eram lentos tornam-se impossíveis, pagamentos a fornecedores do Estado atrasam-se e qualquer reforma necessária (fiscal, laboral, digitalização) fica suspensa até "o próximo resolver". Só que o próximo, quase sempre, recomeça do zero".

A country manager da TAB em Portugal conclui que "a maior consequência da crise política não é a queda de um governo, mas a queda de um país inteiro na armadilha da mediocridade, da falta de visão de longo prazo e da constante improvisação". 

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