As análises a esta guerra comercial têm-se multiplicado e os efeitos são ainda incertos, mas a maioria dos economistas e analistas considera que a incerteza deverá penalizar os mercados.
"Os mercados têm estado a cair acentuadamente à medida que as tarifas recíprocas dos EUA aumentam os receios de estagnação do crescimento, aumento da inflação e o desmoronamento de três décadas de consenso económico", sinalizam Gregor Hirt, diretor de Investimento global em Multiativos, e Martin Hochstein, Economista sénior da Allianz Global Investors (AllianzGI), numa nota de análise.
Já a Ebury diz acreditar que a direção dos mercados a partir daqui "depende muito do progresso das próximas negociações", se Trump suavizará a posição sobre as tarifas ou se essas medidas serão temporárias.
A expectativa é de que "serão firmados acordos que limitarão, em última análise, os danos económicos das tarifas", sinaliza a Ebury num relatório, ainda que ressalve que "a incerteza permanece altíssima, visto que há poucas leituras ou indicações reais sobre onde a taxa média das tarifas irá eventualmente se fixar e o prazo para que quaisquer acordos sejam alcançados".
"O apetite ao risco parece destinado a permanecer frágil por enquanto, e a expectativa é que os portos seguros permaneçam bem cotados enquanto Trump mantiver suas políticas ultraprotecionistas", lê-se no relatório, pelo que o dólar poderá recuperar pelo menos parte do estatuto de ativo de refúgio.
Mauro Valle, responsável pela dívida da Generali Investments, também nota que estão a aumentar os "receios de uma recessão global e o mercado antecipa novos cortes de juros por parte da Fed".
Já na Zona Euro, o Banco Central Europeu "poderá reduzir as taxas perante um impacto moderado das tarifas, compensado pelos estímulos orçamentais na Alemanha".
A DBRS, por sua vez, destaca o impacto que esta guerra tarifária pode ter nas empresas norte-americanas, nomeadamente no retalho: "os retalhistas dos EUA, especialmente aqueles que compram uma parcela significativa das suas mercadorias direta e/ou indiretamente da China, podem encontrar dificuldades para se desvincular dos seus fornecedores chineses no curto prazo".
Isto já que "a China é uma das maiores fontes (e, em alguns casos, a maior fonte) de mercadorias importadas direta ou indiretamente por alguns dos maiores retalhistas dos EUA", alerta a agência de notação financeira.
A Fitch aponta, numa análise divulgada hoje, que "as receitas tarifárias ajudarão a reduzir o défice orçamental dos EUA em 2025, mas o impacto no crescimento económico e os cortes adicionais de impostos provavelmente limitarão o tamanho de qualquer benefício orçamental duradouro".
Além disso, a agência de notação financeira acredita que as tarifas "aumentam significativamente os riscos de recessão nos EUA e limitam a capacidade da Reserva Federal de reduzir ainda mais as taxas de juros, dado o choque esperado nos preços".
A Fitch salienta também as "repercussões negativas da volatilidade do mercado financeiro", que poderiam agravar uma eventual desaceleração económica.
Leia Também: China volta a remeter queixa à OMC após novos aumentos dos EUA