Pelo menos nove mulheres acusam o cantor de ópera Plácido Domingo de assédio sexual, em casos que ocorreram entre 1980 e 2002, numa reportagem levada a cabo pela Associated Press, que falou, no entanto, com mais de 30 mulheres que se cruzaram com o artista profissionalmente ao longo de três décadas. Todas confirmam as histórias.
As mulheres em causa são oito cantoras e uma bailarina que trabalharam com o cantor ao longo do período citado, sendo que apenas uma acedeu a ser identificada - a cantora Patricia Wulf. De acordo com os testemunhos recolhidos, Plácido Domingo aproveitava a sua posição de poder dentro de companhias de ópera para pressionar as mulheres a manter relações sexuais sob a ameaça latente de as prejudicar profissionalmente.
Uma das mulheres acusou o cantor lírico, de nacionalidade espanhola, de ter colocado a mão dentro da sua saia, enquanto outras três alegaram que forçou beijos, seja em camarins, quartos de hotel ou almoços de trabalho.
"Alguém estar a tentar a segurar-te a mão durante um almoço de trabalho é estranho — e pôr a mão no teu joelho é um pouco estranho. Ele estava sempre a tocar-me de qualquer maneira, sempre aos beijos", acusou uma das mulheres.
Para além das nove profissionais, outras seis mulheres falaram em abordagens sugestivas por parte de Plácido Domingo que as deixou desconfortáveis. A AP indica que as alegadas vítimas eram bailarinas, músicas de orquestra, membros do staff do cantor, professoras de canto e uma administradora.
O tenor, um dos cantores de ópera mais conhecidos do mundo, respondeu ao contacto da agência noticiosa, através de comunicado, dizendo que "as alegações destas pessoas anónimas, que remontam a situações com mais de 30 anos, são profundamente graves e, tal como foram apresentadas, imprecisas".
O artista de 78 anos de idade recusou-se, porém, a comentar casos específicos, admitindo a sua surpresa para com as revelações. "Não deixa de ser doloroso de ouvir que posso ter perturbado alguém, ou feito alguém sentir-se desconfortável - não interessa há quanto tempo e apesar das minhas melhores intenções".
"Acredito que todas as minhas interações e relações foram sempre bem recebidas e consensuais", sublinhou. "No entanto, reconheço que as regras e os padrões pelos quais nos regemos - e nos devemos reger - hoje em dia são muito diferentes do que eram no passado", admitiu.
Em dezembro de 2017, as pessoas que denunciaram casos de assédio e abuso sexual, num movimento coletivo denominado #MeToo, surgido nos Estados Unidos, foram nomeadas 'Personalidade do Ano' pela revista norte-americana Time.
Um dos casos mais mediáticos envolveu o produtor norte-americano Harvey Weinstein, acusado de assédio e abuso sexual por mais de 80 mulheres, entre as quais várias estrelas de Hollywood, como Gwyneth Paltrow, Ashley Judd e Angelina Jolie.
Depois destas denúncias, através de investigações pelo jornal The New York Times e a revista The New Yorker, e que levaram Harvey Weinstein a ser despedido da empresa que cofundou e à sua expulsão de várias associações e organizações, nomeadamente da Academia de Hollywood, outros casos foram surgindo.
Entre os acusados de assédio e abusos sexuais, mas também de má-conduta sexual, estão atores como Kevin Spacey e Dustin Hoffman, o ex-presidente da Amazon Studios Roy Price, os realizadores Brett Ratner e James Toback, os jornalistas Charlie Rose, Glenn Thrush e Matt Lauer, o fotógrafo Terry Richardson e o comediante norte-americano Louis C.K..