"A minha personagem nos 'Morangos Com Açúcar' marcou uma geração"
Ivo Lucas esteve à conversa com o Fama Ao Minuto para uma entrevista onde passamos em revista um percurso profissional dividido entre duas grandes paixões: a música e a representação.
© Reprodução Instagram
Fama Ivo Lucas
Ivo Lucas, o inesquecível Gonçalo da série da TVI 'Morangos Com Açúcar', despertou cedo para o mundo do espetáculo. Aos oito anos a paixão pela música levou-o a entrar no conservatório de piano, mais tarde, e já com a música bem enraizada na sua vida, descobriu que tinha afinal dois amores ao enamorar-se também pela representação.
Dono de um talento inegável, Ivo Lucas decidiu na passada semana que usaria a sua arte para ajudar Portugal na luta conta a pandemia do novo coronavírus. O músico e ator lançou o tema 'Soubesse Tudo' e resolveu oferecer ao SNS [Serviço Nacional de Saúde] a totalidade das receitas conseguidas com o tema nas plataformas digitais. Um gesto solidário que nos explicou ao pormenor em entrevista ao Fama Ao Minuto.
Não podemos deixar de começar pelo início, como surge a tua paixão pela música e, neste caso, também pela representação?
A música surgiu primeiro. Nasci numa família de músicos e cresci com isso todos os dias. Aos oito anos entrei para o conservatório de piano e ao longo da minha adolescência fui aprendendo outros instrumentos. Já a representação, apesar de ter participado nas peças de teatro escolares, nunca foi algo que estivesse nos meus planos. Quando surgiu a oportunidade de fazer o primeiro casting, imediatamente percebi que era algo que queria fazer para o resto da minha vida a par da música.
A verdade é que a tua irmã também é cantora, podemos dizer que o talento é algo que vem de família?
Sim, estamos todos ligados de alguma forma à música. A minha irmã canta, o meu avô (Victor Gomes) foi o rei do rock dos anos 60, e toda a minha família materna canta ou é instrumentista.
Não foi fácil. A minha personagem nos ‘Morangos com Açúcar’ marcou uma geraçãoCostumam trabalhar juntos?
Partilhamos opiniões e ideias um com o outro. Sempre que posso ajudo-a na composição, e dou-lhe os meus conselhos. O mesmo da parte dela.
Para o grande público o Ivo passa a ser conhecido na série ‘Morangos com Açúcar’. Foi difícil deixar de ser o Gonçalo, personagem da série, e passar a ser para o público o Ivo Lucas?
Não foi fácil. A minha personagem nos ‘Morangos com Açúcar’ marcou uma geração que ao fim de 12 anos ainda se lembra da canção 'M’Água'. Mas com o passar do tempo e com outras personagens igualmente marcantes que tive o prazer de fazer, acabei por marcar um pouco mais o meu nome.
Seguiram-se depois muitas outras participações em novelas e séries no papel de ator. Mesmo nas alturas de maior trabalho na área da representação, a música nunca ficou esquecida?
Nunca ficou esquecida. Enquanto estava a fazer a série da RTP 'Sim! Chef' estava em promoção de single e cheguei a sair directamente de um dia de gravações para Cantanhede para atuar na Expofacic.
Na representação estou dependente da oportunidade, do telefonema, ou do projecto certoÉ possível conciliar as duas coisas (a música e a representação) e dar o melhor em cada uma das áreas?
É possível, sim. Não é fácil manter o foco a 100% nas duas, e dorme-se um pouco menos... Mas como sou feliz com as duas vertentes a entrega é a mesma.
Recuando novamente à representação, uma das tuas últimas participações numa produção televisiva prende-se com a série ‘Bem-vindo a Beirais’. Há quem diga que a série poderá voltar em breve à TV, voltarás a fazer parte do elenco caso se verifique essa possibilidade?
Teria todo o gosto. Foi um projecto que me marcou muito e que nos deixou a todos muito tristes na altura de terminar, seria muito bom reencontrar todo o elenco de novo.
Estás agora mais focado na tua carreira enquanto músico, a representação ficou para segundo plano?
Não propriamente. A carreira musical depende de mim e dos meus próprios timings e métodos. Na representação estou dependente da oportunidade, do telefonema, ou do projecto certo. É normal que pareça mais activo na música pois só depende de mim.
Em Portugal nem sempre é fácil conseguir singrar no mundo da música, quais as maiores dificuldades que sentiste até aqui?
Ganhar credibilidade enquanto artista e construir o meu nome.
Acredito que mesmo depois de tudo isto passar, vão ficar muitas cicatrizes no nosso SNS e o dinheiro total das vendas da música pode ajudar É possível viver apenas da música em Portugal?
Sim, é. É uma profissão que depende do nosso esforço e dedicação. Acredito que recebemos mediante o nosso trabalho.
Há quem diga que o público português mudou e está a agora a consumir mais música portuguesa, feita por artistas portugueses, concordas?
Concordo! A música portuguesa está a passar uma ótima fase e é cada vez mais consumida. Não só o público português está mais disponível para a ouvir, como se fazem cada vez mais músicas com mais qualidade.
Lançaste ne sexta-feira um novo single, ‘Soubesse Tudo’. De que fala este tema?
'Soubesse Tudo' é uma carta que eu nunca escrevi aos fantasmas do meu passado. Fala sobre coisas que vivi e que não tive coragem de confrontar com medo de perder alguém. É a canção mais sincera que escrevi.
Decidiste doar as receitas das vendas digitais deste single ao SNS [Serviço Nacional de Saúde], queres explicar-nos o porquê desta decisão?
Porque acredito que toda a ajuda é válida e necessária. Acredito que mesmo depois de tudo isto passar, vão ficar muitas cicatrizes no nosso SNS e o dinheiro total das vendas da música pode ajudar de alguma forma.
Este tema é uma balada, tal como muitas das tuas canções. Tens uma preferência pelas baladas e música romântica?
Não diria que é uma preferência. Sempre consumi mais baladas e acabo por compor com mais facilidade este tipo de canção. E assim expresso também o meu lado mais íntimo nas canções.
Ainda não existem os devidos apoios para este setor. Não são só os músicos, é também o agente, o manager, o roadie, o técnico. Vivemos uma incerteza profundaJá escreveste músicas para outros artistas muito conhecidos do público. Depois de terminares uma dessas músicas, alguma vez ficaste com a sensação de: ‘Bem, podia ter sido eu a cantar esta música’?
Não. Adoro o processo de criar uma canção para outro artista, pois quando a estou a escrever tento vestir a pele dele e contar a sua história. Assim como tento usar a linguagem de quem a vai interpretar. E quando entrego a música feita, é porque sinto que ninguém a vai defender tão bem como esse artista. Nem mesmo eu.
Falando agora novamente sobre a atual situação do país, e do mundo, relacionada com a pandemia do novo coronavírus. Como têm sido estas semanas em que não consegues sair para trabalhar? Está a ser fácil a adaptação a estes novos tempos?
É difícil para mim estar tanto tempo em casa. Não é algo normal na minha vida e isso está a ser o mais difícil na adaptação. Por outro lado, tenho um estúdio em minha casa e vou trabalhando da mesma forma, mas sozinho. Acabo por me distrair colocando muita composição em dia.
O cancelamento de espetáculos devido à pandemia do novo coronavírus promete deixar muitos artistas em dificuldades económicas. Qual a tua opinião em relação a este tema? Sentes-te apreensivo sobre o futuro?
É bastante preocupante, e defendo que ainda não existem os devidos apoios para este setor. Não são só os músicos, é também o agente, o manager, o roadie, o técnico. Vivemos uma incerteza profunda.
Sabemos que vives com a tua namorada, Mafalda Castro, o que têm feito para passar o tempo nesta quarentena e como estão ambos a encarar este dias sem sair de casa?
Está a correr com grande normalidade. Respeitamos imenso o espaço de cada um e o tempo que cada um precisa para as suas coisas. Vamos mantendo-nos ocupados a ver muitas séries juntos, a cozinhar, e a passar tempo um com o outro.
Em relação ao teu namoro com a Mafalda, a partir de determinado momento vocês decidiram deixar de partilhar nas redes sociais muitos dos vossos momentos enquanto casal. Qual o motivo dessa decisão que acabou até por levantar alguns rumores sobre o fim do namoro?
Nenhum motivo em especial. Prezamos a nossa relação e a nossa privacidade.
Falando agora em relação ao futuro, quais os projetos que estão para vir? Conta-nos tudo.
Neste momento estou a trabalhar já nas próximas canções. Estou a preparar um álbum que pretendo lançar ainda este ano. Estou também a escrever para outros artistas nacionais de renome, e a produzir trabalhos de outros. Este ano será totalmente focado na música. Se surgir uma oportunidade de voltar à ficção nacional, lá estarei.
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