Santiago Lagoá. Este é um dos nomes que aos domingos entra na casa dos portugueses cheio de alegria e animação no programa 'Somos Portugal'. Bem-disposto e de conversa fácil, o anfitrião partilhou connosco a sua longa caminhada até chegar aqui, e por conseguinte, concretizar um sonho.
Começou no Porto Canal, lugar onde tirou a "licenciatura e mestrado" como apresentadora e, desde então, nunca mais parou.
Mas o desejo da comunicação nasceu mesmo com o gosto pelo teatro, escolha que surpreendeu a sua família que esperava que Santiago desse continuação à tradição como militar.
Como é que surgiu esta paixão pela televisão?
É um feliz acidente de percurso, porque eu comecei na verdade em teatro, no Porto, onde fiz uma licenciatura. A televisão aparece de um casting, assim do nada.
Então foi logo como apresentador?
Sim, sem experiência nenhuma, zero. Nem sabia que tipo de programa iria fazer, só que era um 'late night'. Deram-me uns DVD e quando chego a casa e começo a ver, percebo que é uma coisa muito estranha. Basicamente era eu sentado num cadeirão, lançava-se um tema e as pessoas enviavam uma mensagem paga que ia passar lá para se comentar.
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E como foi o primeiro programa?
Foram 15 minutos a falar e ninguém a responder. Lembro-me que nesse noite cheguei lá, estava tudo fechado e eu muito nervoso, porque não fazia ideia de como aquilo iria correr. Abrem o portão e eu digo: "Olhe, venho só apresentar um programa". Esse é um dos princípios da casa: "Ou fazes ou fazes, ou aprendes ou aprendes". Fazíamos televisão com nada.
E quanto tempo demorou essa aventura no Porto Canal?
Foram cinco/seis anos. Foi uma boa licenciatura com mestrado. Deixei-me levar pelos encantos da televisão, o direto, o não saberes o que esperar. Há sempre o imprevisto, o improviso, por muito que te prepares nunca sabes o que te vai acontecer.
Falando em imprevistos, quais foram os mais engraçados?
Um aconteceu no Porto Canal. Estou em direto e de repente ouço assim: 'ZZZZ, pá!'. Olho para cima e um dos projetores começa a arder. "Vocês em casa não se preocupem que está tudo bem, mas é só para avisar o nosso realizador..." de repente as luzes vão abaixo. "Olha, é isto, ficamos sem luzes". Continuamos o direto às escuras. Entretanto, foram buscar um projetor pequeno e parecia que estava a fazer um programa à luz das velas.
Outro. Houve um problema na matriz no Porto Canal. A matriz é algo que controla toda a emissão. Um dia chego lá, subo à régie e o meu amigo Nuno Malheiro, que estava assiduamente comigo, diz-me assim: "Meu, temos um problema. Não temos nada. Não temos fundo, não temos vídeo, música, mensagem, nada para fazer o programa". Começo o programa e a primeira coisa que digo é: "Olá amigos, hoje temos um grande programa, não, não temos é mentira. Basicamente aquilo que temos para vocês hoje é nada. Estavam à espera de músicas? Não temos. Estavam à espera de vídeos engraçados? Não temos. Não tenho nada, vou estar aqui 50 minutos a falar convosco". Então comecei a dar receitas. Foi dos programas mais difíceis que fiz e a determinada altura disseram-me que já tinham algumas mensagens e que me as levariam em papel.
Quando estás 20 anos a ganhar, já não sabes o que é perder Falando em amizades em televisão, há também a perceção de que existe muita competição nos bastidores...
E há! Mas neste momento felizmente não sinto isso. Na TVI estamos a viver uma fase muito especial, em que estamos realmente e preparar o futuro. Passamos por um momento muito delicado, como é público. Quanto perdes, à exceção do 'Somos Portugal' no domingo, que era o único programa de liderava, passámos por uma altura 'desnorte', em que ninguém percebia muito bem qual era o caminho. Quando estás 20 anos a ganhar, já não sabes o que é perder. Com a chegada da Cristina, o âmbito dentro do canal muda para algo muito positivo. Ouço os meus colegas a dizer que aquela era a essência da TVI, da união do grupo. As pessoas a quererem o sucesso de quem estava ao seu lado, porque ninguém ganha sozinho, mas sim em conjunto. A Cristina trouxe isso, é imparável, apoia-nos em tudo.
Rivalidades na televisão? Há, claro que sim, como em qualquer emprego, porque toda a gente quer aquela promoção, aquele contrato, aquele programa Rivalidades na televisão? Há, claro que sim, como em qualquer emprego, porque toda a gente quer aquela promoção, aquele contrato, aquele programa. Depende de como lidas com isso. Um colega que está a competir contigo, até podemos acabar por ser amigos.
A competição está ligada ao ego pelo facto de esta profissão levar à exposição pública?
Qualquer coisa te pode aumentar o ego, é um dos teus maiores inimigos. Imagina que sais à rua todos os dias e toda a gente te diz que és fabuloso. Às vezes vais acreditar que és a melhor coisa do mundo, o que não é mau, porque te vai dar auto-estima, mas isso tem de partir de ti. Se te deixas influenciar pelo que dizem de ti de positivo, um dia também vão dizer algo negativo e isso vai-te afetar. Tens de estar sempre a questionar-te. "Estou a fazer isto porque as pessoas me estão a dizer ou porque é a minha essência?".
Mas o Santiago nunca fugiu da sua essência?
Se calhar já escorreguei, mas a vida dá-te logo uma chapada. Isso acontecia-me no Porto Canal. O programa era diário e terminávamos a dizer que era fabuloso e que eu era o maior. No dia a seguir fazes o pior programa da tua vida. Mas é essencial falhares.
Cheguei a fazer um mau programa de propósito. Porque já estava a correr muito bem há muito tempo e tinha essa necessidade de me colocar à provaCheguei a fazer um mau programa de propósito. Porque já estava a correr muito bem há muito tempo e tinha essa necessidade de me colocar à prova. Não no sentido de falhar com o telespectador, mas de entregar uma coisa de qualidade dúbia onde podes arriscar artisticamente.
E a família como é que lidou com tudo isto?
Foi tudo tão progressivo, com tantas dificuldades, com uma passagem pelo estrangeiro durante um ano sem vir a Portugal. Quando são 10, 12 anos de trabalho, quando é tudo muito lento, as pessoas também se vão adaptando contigo, porque estando na televisão já é a coisa mais normal do mundo.
Mas são críticos em relação ao seu trabalho ou não?
Em casa não falo de trabalho. A minha mãe de vez em quando diz: "Estavas tão mal vestido no outro dia filho. Quem é que te veste?". E eu respondo que sou eu. "Eu vi logo. Vou-te oferecer um casaquinho". Chegas a casa e queres estar com as pessoas, queres te abstrair.
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Odiaram, porque era suposto eu ser militar. Venho de uma linhagem de militares, todos com patentes
E a escolha de primeiramente seguir teatro foi uma surpresa?
Odiaram, porque era suposto eu ser militar. Venho de uma linhagem de militares, todos com patentes. O meu pai é comando, o meu bisavô esteve na primeira grande guerra, o meu avô era capitão marinha... A reação não foi a melhor, mas foi momentânea. As pessoas têm de compreender.
Acredito que as pessoas que mais se expõem publicamente são aquelas que mais precisam de privacidade E nas redes sociais como é que as pessoas interagem com o Santiago?
Deveria ter uma melhor relação com as redes sociais, tenho que as melhorar. É uma relação de amor-ódio. Acredito que as pessoas que mais se expõem publicamente são aquelas que mais precisam de privacidade. Se tu apareces muito na televisão e toda a gente te vê a toda a hora, quando estás na tua vida privada precisas de te recolher. Se mostras tudo depois não vais ter segredo. Em casa acaba por ser o teu templo, o teu santuário, onde estás protegido. Não tenho dúvidas que se fosse mais proativo teria melhores oportunidades de trabalho.
Então, quanto mais seguidores, melhores ofertas de trabalho?
Acho que o mercado está a ditar isso. É um dos fatores que te abre essas portas.
E isso não é injusto?
É e não é. Adoraria dizer que é, mas se formos a pensar de forma objetiva não é assim tão injusto quanto isso, porque é uma forma de provares que tens trabalho feito. Se tens 100 mil seguidores e nunca tiveste uma plataforma a promover-te, quer dizer que tens mérito. Foste aprender como se edita o vídeo, como se filma, tiveste coragem de fazer o primeiro vídeo. Nos anos 90, muitas pessoas eram escolhidas por serem modelos. Não há hoje em dia uma escola de apresentadores, há workshops. Estamos a caminhar para um mundo diferente e temos de nos adaptar.
Ainda há preconceito em relação a programas como o 'Somos Portugal', neste caso, aquela ideia que é só para público mais velho?
Não nos podemos focar nessa ideia. Não temos de ter vergonha do nosso público. Não é tanto a ideia da faixa etária é mais o mostrar as tradições e os mais jovens não estão preocupados com isso. Não tenho dúvida nenhuma que aquilo que nós fazemos ao domingo acaba por ser uma forma de serviço público. Mostramos onde mais ninguém vai. Estamos orgulhosamente na estrada há mais de 10 anos.
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Mas este programa era algo que estava destinado. Já contou que um dia estava a ver e percebeu que era para ali que iria...
Do sofá do Porto Canal a apresentares o 'Somos Portugal'. Era um salto planetário, uma coisa dúvida. Acreditava que é um programa de amor, diversão, ritmo, alegria, improviso. E tem comida que também é bom. Senti que tinha o perfil para estar ali e que iria ser muito feliz.
Lembra-se do primeiro programa que fez?
O Carnaval de Torres Vedras. Que deve ser o programa mais difícil, porque é o único em que praticamente não há guião. Fui atirados aos lobos, mas os meus colegas apoiaram-me imenso. Foi o chegar ao meu objetivo.
Quem olha para o Santiago na televisão percebe que é muito feliz ali. E fora da televisão, essa energia mantém-se?
Não, sou muito tranquilo. É muito bom fazeres os outros felizes. Saberes que consegues tornar a vida das pessoas um pouco mais leve... depois quando chego a casa preciso do silêncio, porque é muito importante. Tem de haver sempre um equilíbrio. Sou sossegado, mas se me derem um microfone para a mão, eu não me vou calar.
Qual era o conselho que daria ao Santiago quando começou na televisão?
Ele não ia ouvir, não vale a pena porque o gajo é casmurro. As únicas lições que vais ouvir são os teus falhanços e falhar é muito importante. Digo isto porque toda a gente quer fazer tudo certinho, e isso não é preciso. Vejo que há um peso muito grande em fazer tudo bem para quem está a começar. Tens de ser tu e isso é muito difícil, mas esse é o caminho que funciona na televisão.
Qual seria o programa de sonho do Santiago?
Gostava muito de fazer um game show. Eu gosto de dar coisas às pessoas e cresci numa altura em que eram muito fortes. Lembro-me de ver a 'Roda da Sorte' com Herman. Olhas para o Fernando Mendes no 'Preço Certo' e ele é feliz.