Luís Simões é já uma cara bem conhecida dos portugueses. O ator, agora com 29 anos, começou a sua carreira com apenas sete na novela 'Jardins Proibidos'. Desde então tem tido o "privilégio", como o próprio sublinhou por várias vezes, de fazer parte de vários projetos, sendo que um dos que mais se destacou foi a série juvenil da TVI 'Morangos com Açúcar', onde deu vida ao eterno Carlos.
Atualmente, é possível vê-lo na novela de sucesso do mesmo canal - 'Festa é Festa' - na personagem de António.
Estivemos à conversa com o artista, onde recordamos o seu crescimento, pessoal e profissional, sempre debaixo dos olhos público.
Como têm corrido as gravações da novela 'Festa é Festa'?
Bem, tudo começou de forma experimental e tem sido o sucesso que se vê. É um projeto bastante divertido e leve, isso facilita bastante as coisas, traz muito mais alegria ao trabalho e mais oportunidades de criação. Tem sido ótimo reencontrar colegas e conhecer outros novos. Todos os dias têm sido uma aventura nova.
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O António de alguma forma é parecido com o Luís?
Os personagens acabam por ter sempre um bocadinho de nós porque somos nós que lhes damos vida, não é? Mas não têm nada a ver. Ao início, confesso que não estava a ser fácil encontrar um caminho com o qual eu me sentisse confortável, mas isso também é ótimo, descobrir coisas novas. O António tem os seus tempos, a sua forma de processar as coisas, as suas convicções. O público também nos vai ajudando a encontrar o caminho certo.
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É fácil gravar as cenas sem se rirem?
Depende do dia e das pessoas que estão em cena, do nível de concentração e do ambiente que está instalado. Acontece mais quando está o elenco todo presente, fica um bocado difícil de controlar aquela gente louca. Nas cenas mais individuais, como as da mercearia com a Ana Guiomar ou as do café com a Marta Andrino, vamo-nos adaptando ao temperamento de cada um e nos controlando. Por vezes, fugimos um bocadinho porque temos liberdade para improvisarmos.
O Luís estava longe de imaginar esta realidade quando entrou nos 'Jardins Proibidos' com apenas sete anos.
Estava muito longe de tudo, nessa altura não imaginava nada, só queria era divertir-me e descobrir coisas novas. Tenho sido um privilegiado ao ter a oportunidade de poder dar continuidade a este sonho, a esta vida que fui descobrindo e pela qual, inevitavelmente, me apaixonei. Com o passar do tempo às vezes haviam dúvidas do que é que iria fazer ou deixar de fazer, até que as coisas começaram a ficar mais concretas.
Como é que surgiu a oportunidade de entrar nos 'Jardins Proibidos'?
Era considerado um bocado como o bobo da corte da família [diz, entre risos]. Para além de ser o elemento mais novo, toda a gente se entretinha muito comigo. Fazia rir as pessoas. Achavam que eu tinha muito à vontade para a idade que tinha.
A minha mãe viu um casting aberto para crianças, inscreveu-me para perceber o que é que viria dali. O primeiro casting até foi para a novela 'Todo o Tempo do Mundo', que eu não fiquei, mas na altura quem estava a fazer disse que ia ficar com os nossos contactos e que me queria ver no próximo casting, que iria acontecer pouco tempo depois. Assim foi. Chamaram-me e acabei por ficar.
E não foi complicado crescer debaixo do olhar do público?
Claro que sim. As coisas têm de ser feitas e é difícil estar presente em tudo ao mesmo tempo. Trabalhar neste meio sempre me deu muito gosto e os meus pais perguntavam-me isso com frequência - se eu estava a gostar, o que me chateava, o que não gostava, se queria continuar ou não - não queriam que fosse uma obrigatoriedade para mim, mesmo havendo contratos. Os meus pais sempre zelaram pelo meu bem-estar, nunca esquecendo que eu era uma criança.
Começar a ser reconhecido na rua também traz uma outra forma de estar. Ao início não era assim tão simples compreender isso Cresceu rápido demais?
Há muita gente que me diz que cresci mais rápido do que as outras pessoas. Não sei bem o que pode significar, mas começar a trabalhar mais cedo, naturalmente, traz outro tipo de responsabilidades. Começar a ser reconhecido na rua também traz uma outra forma de estar. Ao início não era assim tão simples compreender isso. Em criança não é fácil distinguir e distanciar as coisas, perceber o porquê de ser abordado consecutivamente na rua quando se está em família, quando se quer ter a sua privacidade. Houve muitos momentos complicados e difíceis de gerir.
Passei por todas aquelas fases de revolta e de rebeldia, de nós próprios nos descobrirmos
Deverá ter passado por fases mais complicadas...
Passei por todas aquelas fases de revolta e de rebeldia, de descoberta própria. Não é fácil ter este reconhecimento e, hoje em dia, já é muito mais natural e vou lidando e gerindo as coisas de uma outra forma, com uma outra responsabilidade e olhar. Também já cresci, sou adulto, tenho outras ideias mais bem formadas.
Com a escola, o seu horário também era bastante preenchido, suponho.
Estudava, treinava - porque também fui atleta de alta competição - e tinha que trabalhar, o tempo estava todo bem contado. De certa forma isso também foi bom porque, curiosamente, os anos em que trabalhava mais eram sempre aqueles em que tinha melhor aproveitamento escolar. Quando não tenho muita coisa pra fazer fico assim um pouco descontrolado, um pouco perdido [confessa, sem conter um riso].
E no meio deste crescimento que acaba por ser público foi fácil arranjar amigos ou há sempre uma desconfiança?
Enquanto pessoas que estamos expostas ao público, naturalmente corremos mais esse risco de haver algumas amizades com outro tipo de interesse ou o que quer que seja, mas acho que isso acaba por acontecer a todos de uma forma geral na vida. Todos nós temos de ter atenção a esse tipo de aproximações. Também passei por várias peripécias desse género, mas tenho amigos de longa data.
Tenho um amigo que me acompanhou em tudo na vida - andamos na mesma creche, na mesma escola primária, no secundário, só depois quando fomos para a faculdade é que decidimos ir para cursos diferentes. E tal como este, houve outros que apareceram e que foram ficando.
Ficar muito amigo de uma pessoa e de repente as coisas acabarem de um dia para o outro e não haver nenhuma chatice ou problema. É difícil compreender e aceitar isso Tendo crescido nesta profissão sofreu algum choque de realidade que o tivesse marcado em particular?
Em televisão as coisas são muito rápidas, o tempo está um bocado contado e vivemos [os atores] muitas horas próximos. Vivemos coisas muito intensas naquele período de tempo. Quando terminam os projetos, a ligação que criamos com as pessoas não quer dizer que se percam, mas já não há aquele dia-a-dia com as mesmas rotinas. Inevitavelmente, as pessoas acabam por se distanciar e afastar um bocado, e não é por maldade, nem por não gostar, é porque cada um tem a sua vida.
Naquela fase mais jovem houve momentos em que foi mais difícil de lidar. Ficar muito amigo de uma pessoa e de repente as coisas acabarem de um dia para o outro e não haver nenhuma chatice ou problema. É difícil compreender e aceitar isso. Mas são coisas com as quais vamos aprendendo a lidar e crescendo. Tem a ver com o ritmo do trabalho e a proximidade que nos foi imposta. Isso é algo que ficou marcado na minha vida, porque há fases em que nos estamos a descobrir e a crescer e é difícil lidar com estas emoções e perdas.
E já passou por situações em que teve de trabalhar com pessoas de quem não gostava ou com quem não simpatizava?
Não é fácil, mas temos de aprender a lidar e a resolver essas coisas. O que não deve acontecer é faltas de respeito, e quando se consegue manter o nível de respeito, mal ou bem as coisas vão-se fazendo. Desde que não haja mau ambiente, tudo se vai fazendo. De uma forma geral gosto de me relacionar bem com toda a gente e gosto que as pessoas se deem bem comigo, e portanto também não dou muita oportunidade a esse tipo de sentimentos ou pensamentos.
Com aquela proximidade de que falei antes, às vezes as coisas ficam tão tensas que as pessoas acumulam coisas e há um dia em que explodem. Mas acho que conseguimos resolver e ficar bem uns com os outros, porque temos consciência que vamos ter de lidar com aquelas pessoas diariamente.
Até porque deve ser difícil gerir tantos egos...
A nossa profissão lida muito com o público, com uma questão de aprovação, se está certo ou errado, de gostos, é muito difícil. Estamos constantemente à procura de uma aprovação, isso mexe com o íntimo e com a segurança das pessoas. Vamos criando defesas que às vezes nos são úteis, outras nem tanto. A quem é que realmente se vai dar ouvidos? É difícil escolher o caminho pelo qual se vai seguir. Acho que tenho lidado bem com isso, não gosto de conflitos, gosto de me dar bem com toda a gente e que haja paz e tranquilidade no trabalho. O segredo do sucesso é esse, tudo funciona melhor quando há entendimento.
Um dos projetos mais marcantes do Luís foram os 'Morangos com Açúcar'. Nessa altura foi difícil lidar com a reação do público à série?
Os 'Morangos com Açúcar' de uma forma geral foram um fenómeno. Foi uma coisa que mexeu com o país inteiro, havia muita gente de criticava e dizia que não via, mas depois sabia as histórias todas. Ainda por cima o público-alvo era muito mais próximo de mim, na altura também tinha 15 anos e portanto não foi fácil, como é óbvio. As pessoas tinham muito mais facilidade em abordarem e entrarem na nossa vida e eu com 15 anos também estava a passar um bocadinho aquela fase de descoberta, de crescimento e de rebeldia e às vezes não era fácil lidar com muitas coisas. Todos nós temos os nossos dias bons e maus e também gostamos de ter a nossa privacidade. Era muito difícil sair à rua e ter privacidade num espaço público.
Ainda hoje há muita gente a chamar-me Carlos e a fazer essa referência aos 'Morangos com Açúcar'
Não conseguia ir às compras sem ser abordado, por exemplo?
Conseguia sair, mas sem ser abordado era difícil. Também foi uma experiência e tive de aprender a lidar com isso. Vamos ganhando mais essa consciência de que as pessoas querem estar próximas de nós porque somos ídolos, referências ou alguém que aquelas pessoas imaginam que será difícil voltar a ver ou a estar. É preciso termos essa sensibilidade para as pessoas serem felizes e terem a oportunidade de conferenciarem um bocadinho connosco. Agora, era importante as pessoas perceberem que temos uma vida, que somos seres humanos e também precisamos do nosso espaço.
Isto dito para um jovem de 15 anos na altura não era fácil, mas como trabalhava há alguns anos já tinha essa experiência, aquilo só foi um pouco mais intenso. Ainda hoje há muita gente a chamar-me Carlos e a fazer essa referência aos 'Morangos com Açúcar'.
Lembra-se de alguma situação mais caricata dessa época?
Houve várias situações em que tínhamos de ser escoltados para sairmos de certos sítios, para chegarmos aos locais de gravações. São situações que vão ficar para sempre. Sentir multidões a arrastarem-se só para nos verem.
Ainda hoje falo com colegas atores e técnicos dessa altura que dizem: 'queixávamo-nos tanto, que era tanto trabalho e hoje em dia olhamos para trás e dá saudades'. E é verdade. Era tanto trabalho, intensidade e maluquice junta que às vezes era difícil gerir a vida, porque entrava em piloto automático e estávamos 100% para aquilo.
Foi uma grande escola, aprendizagem e crescimento. Obviamente que dá saudades de muitas coisas. Foi uma aventura fantástica.
Qual era o conselho que daria ao Luís de 15 anos dessa altura?
Ui... de certa forma sempre fui um bocadinho ingénuo. Na altura pensava que já sabia muitas coisas da vida. Não sei que conselho se pode dar a um jovem, porque as coisas têm de ser vividas e muitos de nós só vamos aprendendo com os erros. Diria que podia ser um bocadinho mais atento, abrir mais os olhos para relações, trabalhos, tudo. Talvez também um pouco mais organizado na escola...
Foi ao fim dos 'Morangos com Açúcar' que o Luís começou a questionar se a representação seria o seu caminho ou essa reflexão surgiu numa fase mais tardia?
Ao longo do tempo fui amadurecendo essa ideia, tornando as coisas mais concretas na minha cabeça. Como sempre trabalhei desde muito cedo, não é que tivesse as coisas adquiridas, mas todo o projeto era uma experiência e uma nova escola. Para além da minha família me alertar para isso, eu próprio tinha essa ideia. Será só isto que irei fazer? Não tenho capacidade e interesse para outras coisas? Não era melhor salvaguardar-me para outras coisas? É fantástico ser ator, mas é uma profissão muito instável, pode-se viver de forma precária e acho que ninguém quer isso. Mas vivermos assim também traz outra liberdade, outra forma de estar na vida, outra forma de pensar e isso também não se paga.
Passaram-me tantas possibilidades pela cabeça só que o coração falou mais alto e fui estudar Teatro para Évora. Foi aí que as coisas começaram a ficar mais fixas na minha cabeça.
Não há plano B?
Apesar de me sentir um privilegiado e de trabalhar com bastante regularidade, olho para a qualidade de vida que quero conquistar e sim, de certa forma, também tem de haver um plano B. Já fiz várias coisas, não sou só ator, já tive negócios, já fui barman, animador, etc. Há sempre este pensamento contínuo do que se pode fazer paralelamente a isto.
E agora uma pergunta fundamental: o Luís está solteiro?
[Risos] Estou... solteiro e bom rapaz.
Há pessoas que mandam um 'bocadinho para fora de pé'...
E como lida com o assédio das fãs?
Com as redes sociais há um à vontade das pessoas por não estarem presentes, por não terem de confrontar ou lidarem com as reações pessoalmente. Há pessoas que mandam um 'bocadinho para fora de pé'...
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O que é 'um bocadinho para fora de pé'?
Um bocadinho de tudo... sempre existiu esse assédio e abordagens. As novas tecnologias vieram a desbloquear certas coisas e a tornar, aparentemente, as pessoas mais próximas. Acontecem vários tipos de assédio, uns mais abusivos, outros mais criativos...
Cada pessoa é como é, isso é que é bonito na vida, conhecermos pessoas diferentes e deixarmo-nos apaixonar. Portanto, não tenho assim nenhumas exigências
Quais as características que o Luís aprecia numa mulher?
Isso não existe, eu próprio penso nisso e a vida acaba sempre por nos dar a volta. Podemos ser super exigentes e dizer: 'só me relaciono com pessoas assim'. Até gabo as pessoas que conseguem ter essa força e disciplina, eu já sou mais um coração mole e deixo-me apaixonar e levar pelas pessoas como são, como as conheço, como se aproximam de mim. Antigamente dizia que gostava muito de morenas e de mulheres latinas, e se for a ver, as namoradas que tive foram quase todas loiras. Cada pessoa é como é, isso é que é bonito na vida, conhecermos pessoas diferentes e deixarmo-nos apaixonar. Portanto, não tenho assim nenhumas exigências.
O que é que tira o Luís do sério?
Há muitas coisas com as quais ainda tenho dificuldade em lidar. Uma certa hipocrisia e cinismo fazem-me um bocado de confusão. A opção da mentira e da omissão em vez da transparência são coisas que me custam a compreender. Deveria ser muito mais simples a verdade do que andar a omitir ou a esconder opiniões adversas, mas costumo ser uma pessoa tranquila, às vezes demasiado politicamente correto. Também faço um bocadinho de advogado do diabo para justificar coisas que nem sequer são justificáveis. Tudo tem um porquê e acho que se tem perdido a empatia pelas pessoas. As pessoas olham cada vez mais para si próprias, para o seu umbigo, e claro que assim é difícil nos relacionarmos e compreendermos a diversidade e problemáticas que existem.
A pandemia melhorou ou piorou isso?
Ao início achava que ia mudar e acreditava que nos ia aproximar e ter mais valores, mas a realidade acho que não seja essa. O dinheiro continua a ser a coisa mais importante e há uma falta de cuidado para connosco próprios. Acredito que haja muita gente que passou a valorizar mais as coisas e outra que se tenha tornado mais oportunista. A vida de uma forma geral vai ser sempre assim, de extremos.
Mudaria alguma coisa no seu percurso?
Sim, teria feito coisas de forma diferente. Há pessoas que sei que magoei que se hoje em dia pudesse voltar para trás não teria magoado. Coisas de rebeldia que se calhar não faria, mas que fazem parte da idade. Se calhar tive oportunidades de trabalhos e de fazer mais dinheiro e preferi ajudar os outros do que olhar para mim próprio. Falo disto porque são críticas que pessoas me fizeram. Hoje em dia sou feliz e orgulho-me do meu percurso.
Há pessoas que lhe devem um obrigado?
Se devem, não tenho sentido falta. Não vou guardar rancores, nem nada disso. Se faço as coisas é porque é de coração.
E uma carreira lá fora? É algo em que gostaria de apostar?
Por acaso nunca tive muito essa ambição. Se calhar por insegurança pessoal, porque acho que não sou bom o suficiente, ou que ainda tenho coisas para aprender. Depois sinto-me um bocado frágil nas línguas e são coisas que não abonam a meu favor. Mas são parvoíces da minha cabeça. Sempre que viajo consigo relacionar-me com qualquer pessoa. É uma ideia que começa a aparecer, agora para quando e de que forma não sei.
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