Governo demissionário, novo aeroporto e Georgina. O discurso de Herman

O comediante foi hoje distinguido com a Medalha de Mérito Cultural, atribuída pelo Governo português, em reconhecimento pelo seu percurso profissional.

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Mariline Direito Rodrigues
19/03/2024 16:02 ‧ 19/03/2024 por Mariline Direito Rodrigues

Fama

Herman José

Aconteceu na tarde desta terça-feira, 19 de março, a cerimónia de atribuição da Medalha de Mérito Cultural a Herman José no Palácio de São Bento, no qual esteve presente o primeiro-ministro cessante António Costa e o ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva. 

"Sou neste momento a maior cabeça do teatro português, depois da morte do ator Costa Ferreira, que era o único que tinha uma cabeça de igual diâmetro", começou por dizer o comediante, provocando, desde logo, risos nos presentes. 

Na visão de Herman "há dois tipos de humorista": o primeiro são "pessoas normais", que ao longo da vida "vão lendo coisas", escrevendo, sendo que em alguns casos acabam por construir "carreiras interessantes" e depois há humoristas como Herman.

"Nasci com uma doença chamada 'humoristite' aguda, que é a tendência natural para o disparate, sempre, em todas as ocasiões", afirmou. 

"Cedo comecei na escola alemã a imitar professores muito bem, com 4, 5, 6 anos, e logo aí percebi como é que funcionava o ser humano em relação ao humor. Havia três tipos de professores: o que gostava e achava engraçado, mas que não mostrava muito, o professor do vosso género, de gostar mesmo e de achar divertidíssimo, e os mais perigosos, os que não diziam nada, faziam só um sorriso à Monalisa e depois iam por trás ver como é que para o ano já não havia momento de humor na festa", descreve.

Ainda sobre a liberdade humorística, refletiu. "Passado uns tempos sinto a mesma coisa com o [programa] 'Humor de Perdição'. Alguém foi por detrás, silenciosamente, dizer: 'Tirem lá do ar o programa do rapaz, porque nos está a incomodar'. Mas recebi então um telefonema de um homem, que era Presidente da República, chamado Mário Soares"

"Aguente-se que isto mais tarde ou mais cedo dá a volta", disse Herman José imitando o político e lembrando as palavras de encorajamento que recebeu.

"Passados quatro anos, 1992, volta-me a ligar o Mário Soares: 'Está bom, pá? Você quer ser condecorado?'. 'Eu gostava, senhor Presidente'. 'Não sou um pouco novo?'. 'Não é nada, você merece tudo'", relata, lembrando a ocasião em que foi agraciado com o grau de Comendador da Ordem do Mérito, pelo então Presidente da República Mário Soares. 

"Daí para cá a minha vida foi um vazio, até ao momento em que recebo um telefonema do senhor Ministro da Cultura, com uma voz já colocada de maneira diferente, a dizer: 'tínhamos muito prazer em condecorá-lo'. Devo dizer que a felicidade que senti neste momento teve a intensidade que eu senti em 1992, sobretudo potenciado pelo facto de ser de um governo que está hiper demissionário, são pessoas que daqui a uns dias já não mandam nada", afirmou. 

Entretanto, dirigindo-se a António Costa, afirmou: "Imagine que se mantinha primeiro-ministro e que daqui a uns meses me estava a ligar: 'Herman José, pá! Vou precisar de si para me ajudar a descobrir o novo sítio para o aeroporto'. Ou pior ainda, ligar-me o senhor ministro das Finanças, Fernando Medina: 'Tenho aqui um problema, tenho 4 mil milhões a mais e não sei como hei de gastar isto'. Tínhamos de ir avião à Arábia Saudita para pedir a Georgina emprestada durante 15 dias"

O comediante terminou o discurso agradecendo a honra. 

Recorde-se que o comediante está de parabéns, hoje completa 70 voltas ao sol. 

Leia Também: Herman José distinguido com Medalha de Mérito Cultural

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