António Costa deu hoje, dia 3 de maio, uma nova entrevista a Cristina Ferreira, a primeira sem exercer um cargo público.
Na conversa, decorrida nos estúdios do 'Dois Às 10', da TVI, o antigo primeiro-ministro português começou por confessar que há "pequenos luxos" que voltou a ter depois da demissão, tais como "ter o telemóvel desligado à noite" e "não ter de pôr despertador".
Recordando depois a decisão de deixar o Governo na sequência da Operação Influencer, António Costa sublinhou que teve a "sensação de ter sido atropelado por um comboio e de ter ficado vivo, com as dores próprias do atropelamento". Já entre os dias 7 de novembro e 2 de abril, período entre a apresentação da demissão e a saída efetiva do Governo, admite que foram "bons meses", em que foi possível "gerir as emoções e arrumar as coisas". "Quando saí de casa para a tomada de posse do doutor Luís Montenegro foi com total tranquilidade e pronto para uma nova vida", completou.
Após ter apresentado a demissão por recusar governar num clima de suspeição, António Costa diz agora que "doeu" ter tido a sua integridade posta em causa. "O primeiro-ministro não é um membro do Governo como os outros, não pode haver uma suspeição oficial sobre a sua probidade", acrescentou.
Antes de se demitir, o ex-governante falou com a esposa, Fernanda Tadeu, a pessoa "a quem mais custou" esta sua atividade. "Ela também não teve a menor das dúvidas do que havia a fazer, era muito claro e fi-lo", partilhou.
Agora afastado de funções políticas, António Costa é várias vezes abordado na rua, o que o leva a sentir que a "a confiança não se quebrou", "É mais fácil ser ex-primeiro-ministro do que primeiro-ministro", vincou, entre risos.
Em relação às redes sociais, recusa ler o que é escrito, até porque este é um "espaço de opinião de anonimato, onde se pode dizer os maiores disparates".
Desafiado por Cristina Ferreira a indicar o momento mais difícil da sua governação, António Costa explicou que não se tratou da pandemia, mas sim dos últimos dois anos, marcados pela inflação: "Foram os mais difíceis, sabendo do impacto brutal na vida das pessoas e a falta de ferramentas que tínhamos. Foi o período mais difícil de gerir".
Sobre a relação com o atual Presidente da República, Marcelo de Sousa, assumiu que houve uma regra muito importante que os dois definiram: "As nossas conversas nem em memórias serão contadas".
Entretanto, António Costa voltou a estudar. Inscreveu-se numa pós-graduação da Universidade Católica, em Lisboa, e explicou que o motivo se prende com o facto de ter de "iniciar uma nova atividade profissional".
Sobre o futuro, afastou, uma vez mais, a possibilidade de se candidatar ao cargo de Presidente da República. "É um cargo que nunca exercerei e para o qual nunca me candidatarei", disse. Por outro lado, confrontado com a possibilidade de vir a ter um cargo europeu, respondeu: "Depende das circunstâncias, mas diria que com um processo a decorrer é muito difícil haver essa solução".
Atualmente, António Costa vive satisfeito com o facto de "não ter horários" e de ter ganhado "qualidade de vida".
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