O médico explica: Tudo o que deve saber sobre o vitiligo
A médica dermatologista Helena Toda Brito, clínica no Hospital Lusíadas, em Lisboa, falou em pormenor com o Lifestyle ao Minuto sobre o vitiligo - a doença de pele autominune que provoca, como sintoma, manchas brancas na pele e que afeta apenas 1% da população.
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Lifestyle Entrevista
"O vitiligo é uma doença que apesar de não colocar a vida em risco, pode afetar bastante a autoestima e diminuir significativamente a qualidade de vida. A alteração da aparência, associada ao estigma social em torno da doença (pelo receio, não fundamentado, de que seja contagioso), pode causar isolamento social, depressão e ansiedade nas pessoas com vitiligo", explica Helena Toda Brito.
Trata-se de uma doença autoimune que provoca, como sintoma, manchas brancas na pele. Se nada for feito, as marcas crescem e espalham-se pelo corpo.
Isso ocorre porque os melanócitos, células responsáveis pela produção da melanina, substância que dá cor à pele, começam a ser atacadas pelo próprio sistema imunitário, por algum motivo que ainda é desconhecido pela comunidade médica. Sem o pigmento, a cor da pele muda, os pelos do local afetado nascem brancos — e a região fica sensível a queimaduras solares.
Apesar de não ser transmissível ou contagiosa nem abalar diretamente a saúde física do indivíduo, o vitiligo ainda está envolto em mitos e estigmas, provocando muitas vezes nos indíviduos afetados problemas de autoestima, ansiedade e até depressão.
A médica dermatologista Helena Toda Brito partilhou com o Lifestyle ao Minuto tudo aquilo que deve saber, sobre esta doença que marca dura e profundamente a pele e a mente.
O que é o vitiligo?
O vitiligo é uma doença crónica caracterizada pelo aparecimento de manchas despigmentadas na pele, que resultam da perda progressiva de melanócitos (células responsáveis pela produção de melanina, o pigmento que determina a cor da pele e do pelo).
As manchas são tipicamente brancas, mas podem por vezes ter tonalidades intermédias. Nas zonas pilosas (por exemplo, no couro cabeludo ou nas sobrancelhas), pode ocorrer perda da cor dos pelos, com aparecimento de pelos de cor branca.
Existem vários tipos de vitiligo ou apenas um?
O vitiligo pode ser classificado em diferentes tipos e subtipos.
Os dois principais tipos de vitiligo incluem: segmentar (surge em apenas um segmento do corpo, como a perna, face, ou braço) e não segmentar (o tipo mais frequente, aparece em ambos os lados do corpo).
O vitiligo pode ainda ser classificado consoante a extensão da doença, em três subtipos: localizado (lesões limitadas a uma ou poucas áreas corporais), generalizado (a forma mais frequente, com manchas dispersas pelo corpo) e universal (forma rara, com perda da maioria do pigmento do corpo).
Como e porque surge?
A causa do vitiligo permanece desconhecida. Sabe-se que é uma doença não contagiosa, com predisposição genética, que resulta da perda local de melanócitos (células responsáveis pela produção de melanina).
O mecanismo responsável pela destruição dos melanócitos não está completamente esclarecido, mas pensa-se que tenha uma origem autoimune (destruição pelo próprio sistema imunitário, que identifica erradamente a melanina como estranha ao organismo e destrói as células responsáveis pela sua produção).
Trata-se de uma doença genética?
Trata-se de uma doença com predisposição genética, observando-se incidência familiar em cerca de um terço dos casos. Para além dos fatores genéticos, outros fatores não-genéticos parecem desempenhar um papel no aparecimento da doença.
Em que idade costuma aparecer?
Embora possa surgir em qualquer idade, é mais frequente no adulto jovem (idade média de 20 anos), sendo raro no recém-nascido e idosos. Em metade dos casos, a doença manifesta-se antes dos 21 anos.
Qual é a incidência desta patologia, é comum?
O vitiligo ocorre em cerca de 1% da população mundial.
Afeta ambos os sexos da mesma maneira?
Afeta de igual forma homens e mulheres.
Quais são os sintomas iniciais da doença?
O vitiligo começa frequentemente com o aparecimento de uma ou mais manchas de cor clara na pele, que se tornam gradualmente brancas. As manchas podem ter formas e dimensões variadas, são inicialmente pequenas, tornando-se progressivamente maiores. Embora geralmente assintomáticas, em algumas pessoas pode haver prurido ('comichão') associado.
A evolução da doença é variável de pessoa para pessoa, não sendo possível prever a extensão que a doença irá apresentar.
Quais as localizações caraterísticas das lesões de vitiligo?
As lesões desta patologia podem surgir em qualquer localização no corpo, mas manifestam-se com mais frequência na face, pescoço, mãos, contorno dos orifícios corporais (pele em torno da boca e olhos), mucosas (por exemplo na mucosa oral ou genitais) e pregas cutâneas (axilas e virilhas). As áreas de trauma ou atrito repetido (sobretudo nas proeminências ósseas) também representam localizações comuns das lesões de vitiligo.
Quais as doenças que podem estar associadas ao vitiligo?
Embora a maioria dos doentes com esta doença seja saudável, sem outras patologias associadas, sabe-se que o vitiligo apresenta uma associação epidemiológica com diversas doenças autoimunes, nomeadamente da tiróide, alopecia areata, anemia perniciosa, lupus eritematoso, artrite reumatóide, diabetes mellitus e doença de Addison.
Existem tratamentos para a doença?
Existem várias opções terapêuticas no vitiligo, sendo o objetivo da maioria dos tratamentos a repigmentação das manchas despigmentadas. A repigmentação pode ser conseguida através de: terapêuticas tópicas (aplicadas na pele, como os corticosteróides e inibidores da calcineurina), fototerapia (fontes artificiais de radiação ultravioleta), laserterapia e terapêutica cirúrgica (micro-enxertos de pele).
Em casos cuidadosamente selecionados, de vitiligo muito extenso sem resposta aos outros tratamentos, podem realizar-se tratamentos para despigmentação das áreas de pele normal, através de terapêuticas tópicas ou laserterapia.
Adicionalmente, salienta-se a importância da proteção solar adequada, que tem um duplo objetivo nos doentes com vitiligo: proteger as manchas brancas das queimaduras solares e cancro de pele (a falta de melanina torna a pele mais vulnerável aos efeitos nocivos da radiação solar) e evitar que a pele em redor se bronzeie e torne as manchas de vitiligo mais óbvias.
Há cura?
Não existe cura para o vitiligo, embora existam diversas opções terapêuticas com resultados satisfatórios na melhoria do aspeto das lesões.
Como é que esta condição afeta os pacientes fisica e psicologicamente?
O vitiligo é uma doença que apesar de não colocar a vida em risco, pode afetar bastante a autoestima e diminuir significativamente a qualidade de vida. A alteração da aparência, associada ao estigma social em torno da doença (pelo receio, não fundamentado, de que seja contagioso), pode causar isolamento social, depressão e ansiedade nas pessoas com vitiligo.
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