Os números não mentem: o atual sistema de trabalho está a matar. Pelo menos é o que afirma Jeffrey Pfeffer, escritor, investigador e professor da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, em declarações à BBC. Evidências compiladas por ele durante décadas mostram que 61% dos trabalhadores norte-americanos consideram o stress como a principal causa dos seus problemas de saúde, enquanto 7% revelaram ter sido hospitalizados em algum momento devido ao stress laboral.
De acordo com Pfeffer, pesquisas indicam que questões associadas ao trabalho seriam a quinta maior causa de morte nos EUA, cujo sistema é copiado pela maioria dos países ocidentais. Todavia, não é apenas nos Estados Unidos que esse tipo de situação ocorre. Em países asiáticos, como o Japão e a Coreia do Sul, onde o regime laboral é exigente, muitos trabalhadores também morrem por causas ligadas ao stress ou são levados a cometer suicídio.
O investigador mencionou o caso do japonês Kenji Hamada, um homem de 42 anos, que morreu em decorrência de um ataque cardíaco enquanto estava no seu escritório em Tóquio. Segundo Pfeffer, antes de morrer, Hamada havia trabalhado 40 dias consecutivos sem folga. Isso sem contar as duas horas gastas diariamente para chegar ao trabalho.
Este é apenas um dos inúmeros casos coletados por Pfeffer no seu último livro ‘Morrer por um salário’. “O trabalho tem se tornado desumano. Existem provas dos efeitos da carga excessiva de trabalho na saúde das pessoas. As longas jornadas, demissões e falta de seguros de saúde provocam uma enorme insegurança económica, conflitos familiares e doenças”, comentou à BBC News Mundo.
De quem é a culpa?
Segundo Pfeffer, durante os anos 50 e 60, os diretores de empresas afirmavam que era preciso equacionar os interesses de acionistas, clientes e funcionários. No entanto, essa perspetiva mudou e agora está totalmente centrada nos acionistas, cujos interesses não estão alinhados com o bem-estar dos funcionários – tudo o que eles desejam é retorno financeiro. Por causa disso, novos regimes de trabalho são instaurados, forçando os indivíduos a trabalharem horas a fio.
O investigador usa como exemplo os bancos de investimentos, onde há uma prática generalizada na qual os funcionários praticamente voltam para casa apenas para tomar banho. Para ele, esse tipo de sistema induz os trabalhadores a utilizarem algum tipo de substância química para se manterem acordados. Isso causa dependência química e, consequentemente, problemas graves de saúde.
A insegurança económica, especialmente a enfrentada por trabalhadores precários ou sem contrato, também influencia o cenário. “As empresas desconsideram a responsabilidade que têm com seus empregados”, comentou Pfeffer. Mas a responsabilidade não recai apenas sobre os empregadores, o governo também carrega sua parcela de culpa, uma vez que não faz nada a respeito do problema.
Para o especialista, a situação necessita de ser resolvida através de uma intervenção sistémica a partir de algum método regulatório. Essa regulação deverá vir do Estado, mas isso não acontecerá a menos que a população pressione os governos para criar leis que protejam os trabalhadores de forma coletiva.