Um estudo divulgado nesta terça-feira pelo periódico científico Nature revelou que uma equipa de cientistas conseguiu remover pela primeira vez o vírus VIH do genoma de animais vivos. A experiência, conduzida por cientistas da Faculdade de Medicina da Universidade Temple, na Pensilvânia, e do Centro Médico da Universidade de Nebraska, nos Estados Unidos, envolveu técnicas de edição de genes e representa um caminho extremamente promissor para a cura da SIDA.
Contrariamente, aos tratamentos antirretrovirais disponibilizados atualmente, que impedem a replicação do vírus, mas não o eliminam do organismo, os resultados obtidos pela pesquisa apontaram de maneira inédita para a possibilidade da doença poder ser curada. Os testes foram realizados em ratos de laboratório.
Neste momento está a ser realizada a segunda fase do estudo, desta vez em primatas. Caso se mostre novamente bem-sucedido, o processo poderá ser repetido em humanos.
Segundo os cientistas responsáveis pelo estudo, o tratamento teve êxito a partir da combinação de duas ferramentas. A primeira delas, chamada de Laser Art, consiste na manipulação de fármacos convencionais de tratamentos antirretrovirais, de modo a facilitar o acesso do conteúdo dessas drogas às membranas das células, onde o vírus se costuma alojar, e a retardar a dispersão desse material, garantindo que o material acompanhe o ciclo do VIH. Medicamentos comuns, por sua vez, têm curta duração e exigem dosagem diária.
A segunda técnica, batizada de Crispr, edita os genes das células infectadas com o vírus que não foram captadas pelo Laser Art para remover o VIH. Isoladamente, os tratamentos não surtiram o efeito esperado mas, quando combinados, o vírus foi eliminado em 30% dos 29 ratos usados na pesquisa. Em entrevista à ao canal televisivo CNN, Kamel Khalili, um dos líderes da pesquisa, afirmou que as descobertas representam apenas um primeiro passo para a cura. Uma das premissas do trabalho, segundo ele, foi tratar a SIDA como uma doença genética, e não infecciosa.
Os cientistas também inseriram células imunológicas dos animais tratados em ratos saudáveis para garantir que todos os resquícios do VIH tinham sido eliminados. Os testes não identificaram o vírus, confirmando a tese da pesquisa. Na segunda fase, a avaliação dos primatas deve demorar cerca de nove meses para que os investigadores se certifiquem, cientificamente, se o vírus foi definitivamente eliminado dos seus genomas.