Vida interrompida. Viver com hiperplasia da próstata e bexiga hiperativa
Muito se fala sobre as doenças urológicas malignas, como o cancro da próstata, que além de condicionarem a vida dos seus doentes, podem ser fatais. No entanto, existem doenças benignas que afetam a qualidade de vida dos doentes que vivem com elas. Falamos neste caso de Hiperplasia Benigna da Próstata (HBP) e Bexiga Hiperativa (BH).
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Lifestyle Entrevista
"Como se compreende, a qualidade de vida pode estar seriamente afetada nestes doentes, pela interferência constante dos sintomas na sua qualidade de vida, na sua qualidade de sono e na sua vida laboral, social e mesmo íntima", explica o professor Carlos Silva em entrevista ao Lifestyle ao Minuto.
Apesar de já existirem tratamentos disponíveis para ambas as patologias, o grande desafio é o diagnóstico precoce. Além dos principais sintomas que são, frequentemente, associados a outras causas, estes acabam por ter um grande impacto na autoestima dos homens e mulheres que com eles sofrem, o que contribui para o atraso do diagnóstico. Frequentemente estes doentes isolam-se e deixam de frequentar os sítios que mais gostam, devido ao desconforto subjacente aos sintomas.
A Hiperplasia Benigna da Próstata (HBP) consiste no aumento benigno das células da próstata, levando à compressão da uretra, podendo originar a obstrução da bexiga, refere Carlos Silva. Este aumento ocorre naturalmente associado à idade e sem causas exatas a apontar. Ao contrário do que se possa pensar esta doença não se manifesta apenas nos idosos e, por isso, é importante que os homens estejam alerta para os sintomas principais. No caso da HBP, a dificuldade em urinar, as perdas de urina e um jato urinário mais fino, fraco, curto e, por vezes, interrompido são sintomas que se estima que afetem cerca de 50% dos homens com mais de 50 anos, podendo este número atingir os 80% nos homens com mais de 75 anos.
Já a Bexiga Hiperativa caracteriza-se pela contração involuntária dos músculos da bexiga, podendo levar a perdas de urina, que por vezes acontecem nos momentos menos apropriados, originando um grande desconforto. Nos casos mais graves a Bexiga Hiperativa pode levar as pessoas que sofrem desta síndrome a ir casa de banho mais de oito vezes por dia e duas a três vezes por noite! Esta doença é muito frequente a partir dos 40 anos e cerca de três em 10 pessoas afirmam ter sintomas indicativos da doença. No caso da BH estes são a urgência urinária (vontade subida de ir à casa de banho), a frequência urinária (necessidade de ir à casa de banho com muita frequência) e a perda involuntária de urina, após uma necessidade forte e súbita de urinar.
Relativamente às terapias disponíveis Carlos Silva sublinha que "o objectivo principal do tratamento é a melhoria dos sintomas, o que se consegue na maior parte dos doentes com medidas comportamentais e alterações do estilo de vida (redução de peso, a ingestão moderada de líquidos, evitar as bebidas gaseificadas, café e cessação de tabaco) e medicações".
O que é a Hiperplasia Benigna da Próstata (HBP)?
A Hiperplasia Benigna da Próstata (HBP) é a doença mais frequente da próstata e é geralmente traduzida na linguagem comum como "próstata aumentada”. É uma doença diferente e independente da doença maligna - o Cancro da Próstata, não sendo uma a causa da outra.
Geralmente, um doente com HBP tem um aumento da próstata. Quanto maior for o tamanho da próstata maior é a probabilidade de causar problemas urinários poisinterfere com o esvaziamento e funcionamento da bexiga, causando sofrimento ao doente (embora os doentes usem frequentemente a expressão “sofro da próstata”, em vez de “sofro da bexiga”).
E a Bexiga Hiperativa?
Dizemos que estamos perante um doente com Bexiga Hiperativa quando o doente se queixa de urgência miccional. O termo 'urgência miccional' é muito sugestivo e é uma sensação anómala que se define como uma vontade forte, súbita e inadiável de urinar. Caso o doente não tenha uma casa de banho por perto, acaba por 'não chegar a tempo' e perde urina. Nestes casos, dizemos que estamos perante um caso de Bexiga hiperativa com incontinência urinária (Bexiga Hiperativa 'molhada'). O doente acaba por ir frequentemente e sempre que pode à casa de banho como parte das estratégias 'preventivas' para evitar, quer a sensação de desconforto associada à imperiosidade, quer a perda de urina.
Quais são os sintomas das patologias?
No caso da Bexiga Hiperativa, como já dito acima, os sintomas são o aumento do número de vezes que o doente tem que recorrer à casa de banho para urinar quer de dia quer de noite, e acima de tudo a urgência miccional que obriga o doente a despachar-se e correr para a casa de banho, pois se não chegar a tempo perde urina (incontinência urinária).
As queixas mais apresentadas pelos doentes com HBP são a necessidade de urinar mais frequentemente, quer de dia quer de noite; a necessidade de 'correr para a casa de banho' para urinar, havendo mesmo risco de perder urina (incontinência urinária), jacto urinário fraco; necessidade de fazer 'força com a barriga' para urinar e sensação de que a bexiga não esvaziou bem. Como se pode deduzir do atrás escrito, há sintomas que ocorrem quer na HBP quer na Bexiga Hiperativa, pois há uma associação entre HBP e Bexiga Hiperativa.
De todos estes sintomas, o que mais incomoda o doente é sem dúvida o facto de ter que ir à casa de banho durante a noite. O incómodo torna-se mais significativo quando o doente tem que acordar duas vezes ou mais porque sente necessidade de urinar, diminuindo significativamente a qualidade do sono. Mas também convém aqui realçar que nem sempre é a próstata a culpada de uma noite mal dormida! Há outras causas, sendo a doença da próstata apenas uma delas, embora frequente.
E as causas?
São várias as causas responsáveis pelo aparecimento dos sintomas quer na HBP quer na Bexiga Hiperativa.
No caso da HBP, sabe-se que o aumento do volume da próstata é um dos principais responsáveis pelos sintomas, pois pode provocar uma obstrução à saída da urina. Mas nem sempre, pois por vezes há doentes com próstatas muito grandes mas sem queixas e há doentes com próstatas pequenas (ditas 'normais') e que têm queixas urinárias. Há vários factores responsáveis pelo aumento da próstata, como o envelhecimento e as alterações hormonais associadas à idade. Há outros factores envolvidos seguramente, mas não completamente esclarecidos e que também podem estar implicados quer na HBP quer na Bexiga Hiperativa. Aliás, no caso dos homens há definitivamente uma associação entre HBP e Bexiga Hiperativa. Alterações da irrigação sanguínea na bexiga e alterações ao nível da inervação e das fibras musculares quer na bexiga quer na próstata estão a ser investigadas como possíveis causas dos sintomas nestes quadros clínicos.
Como é feito o diagnóstico?
Quer o diagnóstico de Bexiga Hiperativa quer da HBP são fáceis porque assentam nos sintomas de que os doentes se queixam, sendo o principal no caso da Bexiga Hiperativa a urgência urinária. É preciso ter em atenção, que há outras doenças que podem provocar os mesmos sintomas, pelo que é necessário frequentemente fazer exames para despistar essas doenças. Entre estas, saliento a litíase urinária ('pedras'), as infecções urinárias e alguns casos de doenças malignas da bexiga. Assim, devem ser incluídos na avaliação destes doentes alguns exames como uma ecografia aos rins e à bexiga e análises à urina. No caso da HBP faz parte da avaliação diagnóstica o exame da próstata (toque rectal) e por vezes análises sanguíneas.
É fácil fazer um diagnóstico precoce?
Como anteriormente referido, o diagnóstico porque se baseia nos sintomas também á fácil numa fase inicial. Para isso, é importante a informação/formação de todos os interessados, os doentes e os prestadores de cuidados de saúde.
A Hiperplasia Benigna da Próstata (HBP) afeta homens de todas as idades?
Os sintomas causados pela HBP provocam incómodo e são um dos motivos de consulta médica mais frequentes nos homens com mais de 50 anos. Na verdade, cerca de 50 % dos homens com mais de 50 anos têm queixas urinárias devido a esta doença da próstata, podendo esta percentagem atingir os 80 % nos homens com mais de 75 anos.
A Bexiga Hiperativa afeta tanto mulheres como homens?
A Bexiga Hiperativa é mais comum do que se julga, embora não existam dados reais sobre a incidência da doença em Portugal. No entanto, estima-se que cerca de 10-15% da população sofre de Bexiga Hiperativa, afectando tanto homens como mulheres, sendo mais frequente nas pessoas mais idosas.
Como é o dia a dia das pessoas que sofrem destas condições?
Como se compreende, a qualidade de vida pode estar seriamente afectada nestes doentes, pela interferência constante dos sintomas na sua qualidade de vida, na sua qualidade de sono e na sua vida laboral, social e mesmo íntima.
Quais são os tratamentos que estão atualmente disponíveis?
Felizmente, fruto de um melhor conhecimento nas últimas três décadas da forma como funciona a bexiga e a próstata, dos mecanismos envolvidos nestas doenças e do desenvolvimento de medicamentos eficazes no controlo dos sintomas, a maior parte dos doentes pode esperar uma melhoria dos seus sintomas e mesmo no caso da HBP esta deixou de ser uma doença com tratamento essencialmente cirúrgico para se tornar numa doença com tratamento essencialmente médico e individualizado de acordo com as características, sintomas e expectativas dos doentes.
Convém aqui lembrar que o tratamento da HBP (com medicações ou com cirurgia) não impede o aparecimento da doença maligna e um doente que está medicado ou foi operado por causa da doença benigna tem o mesmo risco de ter uma doença maligna da próstata.
O objectivo principal do tratamento é a melhoria dos sintomas, o que se consegue na maior parte dos doentes com medidas comportamentais e alterações do estilo de vida (redução de peso, a ingestão moderada de líquidos, evitar as bebidas gaseificadas, café e cessação de tabaco) e medicações.
No caso da Bexiga Hiperativa além de vários medicamentos que 'relaxam' a bexiga, temos também a possibilidade da fisioterapia do pavimento pélvico. Os casos menos frequentes que não melhoram com estas medidas devem ser referenciados para centros onde terapêuticas mais invasivas como a injecção intradetrusor de toxina botulinica e a neuromodulação podem ser oferecidas a estes doentes, para melhoria da sua qualidade de vida.
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