Estudo revela graves alterações nas sinapses cerebrais de esquizofrénicos

Investigação abre portas à descoberta de novas oportunidades terapêuticas.

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Liliana Lopes Monteiro
20/01/2020 11:00 ‧ 20/01/2020 por Liliana Lopes Monteiro

Lifestyle

Esquizofrenia

Um novo estudo levado a cabo por uma equipa de cientistas do Instituto de Psiquiatria do King’s College e do Imperial College em Londres, com a participação do médico psiquiatra e investigador português Tiago Reis Marques, revela que o cérebro de doentes com esquizofrenia apresenta um menor número de sinapses, as zonas de comunicação entre dois neurónios e através dos quais os impulsos nervosos passam de um neurónio para outro. O estudo foi aceite para publicação na prestigiada revista científica Nature Communications, uma das mais importantes revistas científicas mundiais.

Os investigadores conseguiram confirmar pela primeira vez estas alterações in-vivo através do recurso à técnica avançada de imagem PET (Tomografia de Emissão de Positrões). “A proteína SV2A é uma proteína-chave que está presente em todas as sinapses cerebrais. Ou seja, é um marcador das sinapses cerebrais. O que desenvolvemos foi um radiomarcador (uma substância radioativa) que se liga a essa proteína e que permite visualizá-la com recurso à Tomografia de Emissão de Positrões (PET)”, explica Tiago Reis Marques.

O ponto de partida foi, acrescenta, “perceber se existia alguma alteração nas sinapses cerebrais nesta doença, se existia alguma redução do seu número. Nós já tínhamos algumas pistas que este era o caso, partindo de dados de autópsias de cérebros de pessoas com esquizofrenia, mas não tínhamos forma de o ver in-vivo. Daí termos escolhido esta proteína, que é um ótimo marcador das sinapses cerebrais”.

O estudo, de que o especialista português foi coautor, descobriu que o cérebro das pessoas com esquizofrenia apresenta níveis mais baixos da proteína SV2A, do que o cérebro das pessoas sem a patologia. “Em primeiro lugar, permite-nos compreender melhor a neurobiologia da doença, ou seja, o que se passa no cérebro de doentes com esta doença mental. A esquizofrenia é uma doença complexa e das que menos se sabe sobre as suas causas e estes resultados permitem-nos compreender melhor os mecanismos a ela associados”, explica o investigador nacional. “Ter uma nova ferramenta que permite caracterizar a distribuição dos cerca de 100 triliões de sinapses que existem no cérebro humano e perceber a diferença na sua distribuição e número representa um avanço significativo na compreensão desta doença.”

Tiago Reis Marques acrescenta ainda que, “ao descobrir-se que existe uma redução desta proteína, mostramos também uma possível nova área terapêutica. O desenvolvimento de fármacos que consigam atuar sobre esta proteína e, de alguma forma, restaurar a função sináptica, pode constituir no futuro uma nova área terapêutica”. De referir que há mais de 60 anos que não surge um fármaco com um novo mecanismo de ação para o tratamento desta doença.

A investigação promete continuar, garante, e os próximos passos vão no sentido de perceber quando é que esta redução acontece, ou seja, “se é um mecanismo primário, que ocorre logo no início da doença ou mesmo se precede o início desta. Para isso, vamos estudar pessoas em risco e doentes logo no início da sua doença. É um novo campo de investigação sobre o qual, de certeza, muitos outros grupos de investigação em todo o mundo se vão debruçar na sequência do nosso estudo”.

A esquizofrenia é uma doença mental grave que afeta aproximadamente 1% da população. Esta é uma das mais complexas e graves doenças cerebrais, e os mecanismos cerebrais subjacentes à doença são ainda pouco conhecidos. “Sabe-se que menos de 70% dos doentes respondem aos tratamentos atuais, e só 10% responde totalmente, sendo que a maioria dos doentes, apesar de responderem parcialmente à medicação, continuam ainda a apresentar sintomas”, refere o médico, que confirma que “desde a descoberta, nos anos 50, dos primeiros antipsicóticos, nunca mais surgiu um medicamento com um novo mecanismo de ação. São 60 anos sem descobrir novas formas de tratar a doença e qualquer investigação que permita avançar com possíveis novas formas de a tratar constitui um grande avanço na compreensão da esquizofrenia”.

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