Se está à espera de encontrar neste artigo uma lista de resoluções infalíveis para o novo ano para se tornar mais feliz, desengane-se. Desconfie sempre de artigos de resolução de novo ano... se passa 365/6 dias sem prestar muita atenção à sua saúde mental, porquê mudar agora, na transição de ano e até de década?
Bem sabemos que estas alturas de transição convidam à reflexão e aos balanços, quer pelo confronto do que ficou pendente do ano anterior, do que não concretizamos, quer para alimentar uma esperança renovada que desta vez será diferente, até porque munidos das passas e de todos os rituais, ficamos ilusória e temporariamente mais fortes.
Sejamos honestos...a esta altura do ano, metade da lista que preparou apressadamente no dia 31 de dezembro já está muito provavelmente em incumprimento, sublinhando a sua perceção de falhanço e fazendo-o sentir-se, invariavelmente, ora culpada/o ora desesperançada/o. Neste cenário, não será de estranhar que já tenha inclusivamente desistido e adiado, para o próximo ano, o rol das resoluções. Respire fundo...
O melhor que pode fazer para encurtar o caminho entre as intenções e a efetiva mudança comportamental, isto é, conseguir pôr em prática todas as suas resoluções é o estabelecimento de um plano simples com objetivos claros do que pretende alcançar. E isso será atingível quando parar para refletir um pouco sobre o que realmente quer para si, não para o novo ano, mas para o momento presente, para hoje, para este instante. E como poderei fazer isso? Estará neste momento a questionar-se...
E que tal começar por descomplicar complicando. Por um lado, quanto mais pressão coloca sobre si mesmo, maior a sensação de perceção de que está a falhar, pois dificilmente consegue responder a todas as frentes, ser eximia/o em todas as atividades em que se envolve. Por outro lado, há muitas coisas que tem de continuar a fazer e a dar o seu melhor. Então fica muitas vezes preso e imobilizado neste discurso, acabando por não mudar, por não concretizar.
Uma estratégia muito útil para começar a sair desse impasse poderá ser começar por tentar desenvolver empatia sobre as suas próprias emoções, apreciando e aceitando os bons e os maus momentos, na certeza que quer uns, quer outros são efémeros. Por vezes, acreditamos que somos vítimas das nossas próprias emoções. Ficamos surpreendidos com as nossas reações emocionais, sejam elas positivas fazendo-nos sentir bem, sejam elas mais negativas fazendo-nos sentir mal, aparentemente sem razão lógica. Se conseguirmos estar atentos aos acontecimentos emocionais, aprendendo a estar com esses estados e a descortinar o que eles nos pretendem transmitir, conseguiremos começar a distinguir quando as emoções são saudáveis e adaptativas que nos orientam para uma vida saudável e adaptativa, e quando as emoções são desadaptativas e provocam alguma disfuncionalidade.
Este processo é extraordinariamente complexo, e à semelhança de muitas outras competências, estas também podem e devem ser aprendidas. Algumas emoções precisam apenas de ser verbalizadas em voz alta, outras precisam ser controladas e amparadas, outras necessitam de ser refletidas e outras ainda necessitam apenas de ser permitidas para nos orientarem na nossa capacidade de decisão e consequente ação.
Isto permitirá melhorar as suas competências de autorregulação emocional e competências de autoapaziguamento, tornando a sua vida emocional mais tranquila e pacificada e, o mais importante, alinhada com os seus sonhos e objetivos de vida.
Porém, se não conseguir fazer isto sozinha/o, se o balanço entre os momentos positivos e negativos estiver desequilibrado, talvez esteja na altura de procurar ajuda profissional para se sentir melhor. Cuide de si e da sua saúde mental, um psicólogo/a pode ajudá-lo/a criando um ambiente facilitador que propicia através do estabelecimento de uma relação terapêutica de qualidade a promoção de um espaço onde os indivíduos possam identificar os seus próprios objetivos e como desejam concretizá-los, promovendo assim a auto-atualização que Rogers nos falava. Não tem que o fazer sozinho, por vezes, apenas expressar o que pretende realizar e como o vai fazer, com alguém que o escute verdadeiramente, criará a energia necessária para facilitar a mudança.
Exemplo irrealista de resoluções:
- Emagrecer
- Deixar de fumar
- Mudar de emprego
- Meditar
- Viajar mais
- Ser feliz...
Exemplo realista e mais objetivo:
- Vou perder x kg para me tornar mais saudável, para isso vou:
1) Aumentar a atividade física: Tornar-me criativamente mais ativo, incorporando movimento nas minhas rotinas diárias, como por exemplo, passear o cão, ir a pé ao supermercado, estacionar o carro mais longe do emprego (ou ir a pé), etc. Realizar exercícios aeróbicos 3 a 4 vezes por semana (como caminhada rápida, ciclismo, natação, etc.) ou exercícios de recreação como alguma modalidade de desporto coletivo ou individual. Limitar o tempo de sedentarismo ao mínimo possível.
2) Adotar uma alimentação saudável: diminuir o consumo de produtos processados, optando pelos produtos frescos e da época. Manter uma alimentação equilibrada respeitando a roda dos alimentos; organizar as minhas refeições semanais e a lista de compras do supermercado; evitar comprar alimentos não saudáveis e deixar as pequenas tentações apenas para os dias de festa, idas ao restaurante ou a casa de amigos.
Um exercício prático para o ajudar a conhecer as suas próprias emoções, aumentando a consciencialização emocional, poderá ser com a escrita de um diário emocional. Escrever várias vezes ao dia um diário sobre as emoções experienciadas e respondendo às seguintes questões:
1) Qual o nome que dá à emoção? Procure diversificar o léxico emocional, evitando a atribuição repetida dos mesmos termos vagos e pouco precisos.
2) Foi um estado emocional repentino ou corresponde a um sentimento mais duradouro e estável? Especifique a duração.
3) Teve sensações corporais durante o episódio emocional? Corpo, maxilar ou punho tenso; sensação de calor ou suores; frio ou arrepios; batimento cardíaco acelerado? Outras sensações?
4) Surgiram alguns pensamentos associados ao episódio emocional? Quais? Relacionados com o passado, futuro ou presente?
5) O que fez ou lhe apeteceu fazer ou expressar? Aproximou-se ou afastou-se? Reagiu agressivamente? Fez alguma expressão facial?
6) O que desencadeou essa emoção ou estado de humor? Descreva com detalhe a situação. Foi um acontecimento interno?
7) Que informações a emoção está a enviar? Está a dizer-lhe algo sobre si mesmo/sobre um relacionamento? Está a transmitir-lhe o seu progresso num objetivo?
Reflita agora na sua resposta emocional em relação à situação e tente dar-lhe um sentido ao episódio emocional. Tente identificar a mensagem subjacente para o ajudar a decidir o que pretende fazer: Deve seguir o sentimento? Deve aprofundá-lo e tentar descobrir se existem outros sentimentos por trás?