Milhões de mulheres em todo o mundo têm dor crónica. Segundo a IASP – International Association for the Study of Pain - esta patologia afeta mais mulheres do que homens, no entanto, muitas continuam sem receber o tratamento adequado. Isto deve-se a fatores psicossociais e biológicos, a barreiras económicas e políticas ainda existentes em vários países, que influenciam a forma como a dor é percecionada.
Os tipos de dor que afetam as mulheres têm um impacto global significativo. Destacam-se a fibromialgia, caracterizada por dor crónica generalizada, em que 80 a 90% dos casos diagnosticados são mulheres. Síndrome do intestino irritável, artrite reumatoide, osteoartrite, lombalgia, desordem da articulação temporomandibular, dor pélvica crónica e enxaquecas são outras das condições que afetam de forma desproporcional o género feminino. Apesar de menos conhecidas, outras situações ligadas a problemas ginecológicos como a dor pélvica da endometriose, vulvodinia ou as dores pós-mastectomia são muito frequentes, mas muitas vezes não diagnosticadas.
Segundo Ana Pedro, Presidente da Associação Portuguesa para o Estudo da Dor (APED), “todas as pessoas podem sofrer de dor crónica nalgum momento da sua vida, mas a população feminina é, sem dúvida, uma das mais afetadas, muito pelo facto de a dor crónica estar associada a doenças que são mais frequentes nas mulheres. Por esta razão, muitas vezes a condição, por ser tão vulgar e frequente, não é valorizada”.
E acrescenta: “É importante relembrar que a dor crónica é uma doença por si própria. Trata-se de um problema grave de saúde pública pela extensão de população abrangida e um tratamento eficaz só é possível através de um acompanhamento médico adequado”.
A dor é crónica quando, de modo geral, persiste após o período estimado para a recuperação normal de uma lesão. Esta pode surgir no contexto de várias doenças (cancro, artrose, diabetes, zona, etc.), ser agravada por traumatismos ou posições forçadas ou incorretas, estar associada a uma cirurgia ou surgir sem causa aparente. A dor crónica é a segunda doença mais prevalente em Portugal e é causadora de morbilidade, absentismo e incapacidade temporária ou permanente, gerando elevados custos aos sistemas de saúde, com grande impacto na qualidade de vida do doente e das famílias.