Comer carne ou não comer carne, eis a questão? O debate tornou-se um verdadeiro campo de batalha, conforme explica uma reportagem divulgada pela BBC News.
Estudos revelam, que surpreendentemente, que somente viciados em drogas enfrentam o mesmo grau de estigma que os vegans. Entre este grupo, os vistos ainda como menos populares são aqueles que referem a crueldade imposta aos animais como justificação.
Ora de acordo com a BBC os ‘veganófobos’ têm muitas explicações razoáveis (e outras nem tanto) para justificar o seu desdém. Primeiro, há o argumento da hipocrisia: a ideia de que os vegans também têm sangue nas mãos, na forma de ‘massacres’ de plantas, do custo ambiental dos abacates ou da quinoa e de todos os animais impactados por plantações.
Outros argumentos populares incluem a perceção dos vegans como excessivamente presunçosos.
Entretanto, alguns psicólogos têm outra teoria: a de que, longe de ser motivado por fatores ao alcance de nossa consciência, o ressentimento generalizado que temos pelos vegans resume-se a preconceitos profundamente arraigados na psique humana.
Hank Rothgerber, psicólogo social na Universidade de Bellarmine, nos Estados Unidos, acredita que tudo se resume à pergunta: como continuamos a comer carne?
"Basicamente, vivemos numa era, pelo menos no mundo ocidental, onde há mais e mais evidências, mais e mais argumentos e mais e mais livros sobre como comer carne é mau", diz Rothgerber. "Mas, ainda assim, o nosso comportamento não mudou significativamente".
O especialista sublinha ainda que 2018 terá sido o ano com o maior consumo de carne per capita na história dos EUA. "O que observo é: como as pessoas racionalizam esse comportamento e ainda se sentem boas pessoas?".
Segundo Rothgerber de modo a continuar a comer carne é necessária a prática de uma verdadeira ‘ginástica mental’. Porém, o cérebro humano é extremamente bom a proteger-nos das realidades que não queremos enfrentar e são vários os truque psicológicos aos quais recorremos sem que nos apercebamos.
Desde a ‘dissonância cognitiva’, que ocorre quando uma pessoa tem dois pontos de vista incompatíveis e atua de acordo com o que mais lhe dá jeito. Por exemplo, a sua afeição por animais pode começar a colidir com a ideia de que não há problema em comê-los.
Alguns psicólogos já lhe chamam o ‘paradoxo da carne’ ou ‘esquizofrenia moral’.
Relativamente ao consumo de carne, Rothgerber sugere que temos cerca de 15 estratégias que nos permitem evitar enfrentar o ‘paradoxo da carne’. O que inclui contabilizar que comemos menos carne comparativamente à realidade; ou ignorar a forma como esta foi produzida até chegar ao prato.
Todavia perante estes estratagemas mentais os vegans surgem como verdadeiros ‘estraga prazeres’.
Rothgerber explica que as pessoas tendem a não considerar o comer carne como uma ideologia. A hegemonia do consumo de carne no mundo inteiro ajuda os onívoros entre nós a evitar a ideia de que tal se trata de uma opção escolha, ou seja afinal é o que todos fazemos desde há séculos. Porém, o indivíduo vegan abala essa ideia.
Por outras palavras pela sua mera existência, “os vegans forçam as pessoas a confrontar sua dissonância cognitiva. E isso é extremamente irritante”, conclui o psicólogo.