Todas estas restrições são uma resposta de emergência global a uma doença sem paralelos na história recente, conforme explica uma reportagem publicada na BBC News.
E a verdade é que todos queremos saber até quando este período sui generis irá durar, e poderemos finalmente voltar à vida dita normal.
Ora segundo Mark Woolhouse, professor de Epidemiologia de Doenças Infecciosas na Universidade de Edimburgo, na Escócia, em entrevista à BBC, "o novo coronavírus veio de certa forma para ficar".
O especialista refere que obviamente manter tudo fechado e sem funcionamento não é sustentável a longo prazo, já que os dano sociais e económicos serão catastróficos.
"O que os países precisam é de uma 'estratégia de saída', ou seja, uma maneira de eliminar as restrições e conseguir voltar ao normal", diz.
"Mas o coronavírus não vai desaparecer. Se suspendermos as restrições que estão a reter o vírus, os casos inevitavelmente aumentarão".
"Realmente temos um grande problema em saber qual é a estratégia de saída. É um enorme desafio científico e social", diz Mark.
Existem basicamente três maneiras de sair dessa situação. Todos estes cenários mudariam a capacidade do vírus se espalhar:
- Vacinação;
- Quantidade suficiente de pessoas a desenvolver imunidade por meio da infecção;
- Mudar permanentemente o nosso comportamento e a nossa sociedade.
Vacinas (12 a 18 meses)
A vacina deve dar imunidade a uma pessoa para que não adoeça se for exposta. Imunizando o suficiente, cerca de 60% da população, o vírus não pode causar surtos, que é o conceito conhecido como imunidade de grupo.
Na semana passada, nos Estados Unidos, uma pessoa recebeu uma vacina experimental, após os investigadores terem recebido permissão para 'saltarem' as regras usuais que instruem a realização de testes em animais antes de testar em humanos.
De acordo com a BBC, a pesquisa de vacinas está a ser realizada a uma velocidade sem precedentes, mas não há garantia de que será bem-sucedida, e isso exigirá imunização à escala global. O melhor palpite é que uma vacina pode ficar pronta de 12 a 18 meses, se tudo correr bem.
"Esperar por uma vacina não deve ser considerado uma estratégia, porque isso não é uma estratégia", disse Woolhouse à BBC.
Imunidade natural (pelo menos dois anos)
Autoridades de saúde de todo o mundo têm tentado evitar o aumento acelerado do número de casos. "Achatar a curva", como se diz, é uma medida crucial para evitar a sobrecarga dos serviços de saúde e limitar o número de mortes.
A redução dos casos pode permitir que algumas medidas de restrição sejam suspensas por um tempo, até que os casos aumentem e outra rodada de restrições seja necessária.
Quando isso poderia acontecer é incerto. O principal consultor científico do governo no Reino Unido, Patrick Vallance, disse que "não é possível estabelecer prazos absolutos".
Esse cenário poderia, involuntariamente, levar à imunidade de grupo, à medida que mais e mais pessoas seriam infectadas. A chamada imunidade de grupo ficou mais conhecida depois de o governo britânico ter sido criticado pela estratégia de gerir a propagação da infecção para tornar a população imune.
E esse cenário pode levar anos para acontecer, de acordo com o professor Neil Ferguson, do Imperial College de Londres.
Alternativas (sem prazo determinado)
"A terceira opção consiste em alterações permanentes no nosso comportamento, que nos permitam manter baixas as taxas de transmissão", disse Woolhouse.
Isso pode incluir manter algumas das medidas que foram implementadas durante a crise. Ou introduzir testes rigorosos e isolamento de pacientes para tentar monitorar quaisquer surtos.
"Fizemos a detecção precoce e o rastreamento de contactos na primeira vez e não funcionou", acrescenta Woolhouse.
O desenvolvimento de medicamentos que podem tratar com sucesso uma infecção por covid-19 também poderia ajudar em outras estratégias.
Esses medicamentos poderiam ser usados assim que as pessoas apresentassem sintomas, num processo chamado "controle de transmissão", para impedir que passassem para outros.
Ou ainda poderiam ser usados para tratar pacientes no hospital para tornar a doença menos mortal e reduzir as pressões em terapia intensiva. Isso permitiria aos países lidar com mais casos antes de precisar reintroduzir bloqueios drásticos.
Aumentar o número de leitos de terapia intensiva teria um efeito semelhante, ao aumentar a capacidade de lidar com surtos maiores.
Questionado sobre qual seria sua estratégia de saída, o consultor médico chefe do Reino Unido, Chris Whitty, disse: "A longo prazo, claramente uma vacina é uma maneira de sair disto e todos esperamos que isso aconteça o mais rapidamente possível".
E afirmou que "globalmente, a ciência apresentará soluções".