A rápida evolução e propagação da Covid-19 por todo o mundo, e agora em fase de mitigação em Portugal, obrigou os sistemas de saúde a profundas adaptações do seu funcionamento. Naturalmente, e à semelhança do que aconteceu noutros países europeus, “foi necessário mobilizar com urgência a comunicação social, a população e o Serviço Nacional de Saúde para o combate à pandemia”, salienta o Prof. Vítor Tedim Cruz. “No entanto, esse esforço pode estar a ter um impacto negativo no funcionamento da Via Verde para o AVC e na capacidade da população em diferenciar uma situação emergente, como é um AVC, de uma situação potencialmente urgente, como é a infeção por SARS-CoV-2”, afirma o especialista de Neurologia, esclarecendo que “no primeiro caso, a escala continua a ser aferida em minutos, enquanto no segundo, falamos certamente de dias ou semanas”.
Neste contexto, a SPAVC mostra-se preocupada com “o impacto potencialmente dramático que este facto terá nas taxas de mortalidade global do nosso país, bem como no estado funcional dos doentes com AVC”, salienta o Prof. João Sargento Freitas, também médico neurologista e membro da SPAVC. Assim, “urge perceber, quantificar e agir perante estes dados, correndo o risco de não conseguirmos evitar as suas consequências também a este nível”.
Procurando facilitar o diálogo entre os profissionais de saúde envolvidos na abordagem do AVC, esta sociedade médica organiza, durante a tarde de amanhã, um fórum de discussão em formato de webinar, em parceria com a iniciativa Angels. O programa de trabalhos previstos inclui reflexões multidisciplinares sobre diferentes momentos da cadeia de tratamento do AVC, integrando ainda a apresentação dos resultados de um inquérito quantificativo aplicado pela SPAVC a todas as Unidades de AVC e centros com capacidade para tratamento trombolítico, procurando sinalizar problemas e tendências, bem como analisar especificidades regionais.
Pretende-se, com este debate, partilhar perspetivas, experiências e opiniões, na tentativa de desenvolver uma “estratégia para mitigar os efeitos deletérios desta pandemia também no AVC, de modo a garantir que todos os doentes possam receber os melhores cuidados, mas também que haja profissionais sãos e devidamente protegidos que possam propiciar esses cuidados”, refere o Prof. João Sargento Freitas.
“Neste momento, os profissionais procuram orientações práticas que os ajudem a gerir esta situação de múltiplos desafios e limitações”, reforça a coordenadora a iniciativa Angels em Portugal, Cláudia Queiroga, afirmando que “a Angels tem como missão garantir o melhor tratamento aos doentes com AVC, estando ao lado das instituições e dos profissionais para que isso seja possível”.
“Por tudo isto, temos de nos unir e discutir em conjunto os nossos problemas, nesta casa que é a SPAVC. Só assim conseguiremos depois no terreno, ter o discernimento e convicção para defender o que é mais relevante, para mantermos os bons resultados que vínhamos conseguindo no tratamento dos doentes com AVC em Portugal, apesar da pandemia COVID-19”, finaliza o Prof. Vítor Tedim Cruz, que integra a Direção da SPAVC.
Os profissionais receberão um convite da SPAVC para acompanhar a reunião, que resultará num parecer oficial em nome da Sociedade, a divulgar às entidades decisoras na área da Saúde. Caso se inclua no grupo dos destinatários desta iniciativa e tenha interesse em acompanhar o debate, entre em contacto com a SPAVC.