Passou mais de um mês que tivemos o primeiro caso de Covid-19 em Portugal e o que era outrora uma utopia passou a ser uma realidade.
No entanto, são ainda muitas as pessoas que acreditam que tudo isto não é real e estão em total negação. Multiplicam-se na Internet e nas Televisões notícias de pessoas, das mais variadas regiões e idades que tentam 'furar' o estado de emergência e desafiam as medidas impostas.
O número de detidos por não respeitar as normas aumenta todos os dias, e também todos os dias descobrimos comportamentos que nos deixam completamente admirados e sem reação.
Se é verdade que este tipo de pessoas sempre existiram, e estes comportamentos não são novidade o que nos espanta, é manterem-se no cenário atual, onde falamos de uma pandemia que atua a nível mundial.
Infelizmente o avanço do contágio não espera que estas pessoas 'acordem' e vejam a realidade.
Poderíamos dizer que são apenas pessoas irresponsáveis. No entanto, este comportamento do ponto de vista psicológico é muito mais do que isso.
Podemos falar de um erro de atribuição, basicamente o cérebro humano falharia na hora de aplicar o instinto mais importante do ser humano, o de sobrevivência. Esse erro acontece quando pensamos que os outros estão agindo de modo equivocado ou exagerado, pelo que o desfecho era acreditar que tudo não passa de uma 'gripe' e continuar a adotar as mesmas rotinas diárias. Minimizar e eliminar a importância do perigo de infetar outros, de sofrer uma doença que se vai agravando ou de serem responsáveis pela perda de vidas.
Por outro lado, há pessoas que priorizam o seu bem-estar acima de tudo. Não estão dispostas a mudar seu estilo de vida por um bem maior, por preservação da sua identidade não alteram o comportamento.
Por fim a negação da pandemia também pode ser explicada pelo efeito da irrealidade. Há factos inegáveis que vemos todos os dias, as pessoas ao nosso lado, as notícias, as árvores, o sol, mas não vemos o vírus que está a abalar a vida de milhões de pessoas. E como diz a sabedoria popular, “o que os olhos não veem, o coração não sente”, logo ingenuamente as pessoas assumem que não existe nada e a existir será resolvido num curto espaço de tempo. De forma ingénua acreditam que num mundo tão avançado como o nosso, a cura será rápida e que as pandemias não são mais do que coisas do século passado. Acrescenta-se a este raciocínio repleto de fantasia e de ilusão que como não se sente, não se vê, não se cheira, provavelmente alguém anda a ver demasiados documentários e séries na Netflix que quer transpor para a realidade. Cegos por este efeito de irrealidade assumem que a doença, a morte estarão muito longe da sua casa e dos seus, agindo assim de forma completamente irresponsável.
Mas, a irresponsabilidade destas pessoas pode ser devastadora.
O preço de negar o efeito da pandemia é pago em VIDAS.
Pense nisso!
Psicóloga Vera de Melo© DR