Várias foram as notícias que davam conta que nas últimas semanas, um produto tem vindo a desaparecer das prateleiras do supermercado, falo obviamente do papel higiénico.
Muitos de nós, ao ouvir e ver tal fenómeno ficamos incrédulos e não encontramos motivo para tal compra desenfreada, no entanto a psicologia tem uma explicação, é o chamado 'panic buying', ou as compras motivadas pelo pânico.
Nervosismo, pressa, olhares inquietos que espelham o medo de ficar sem recursos.
Num contexto de incerteza e medo, ter recursos em casa que permitam satisfazer as nossas necessidades básicas gera tranquilidade, algo perfeitamente compreensível. No entanto, não precisamos de muitas quantidades.
Ao saber que vamos ficar várias semanas em casa, o cérebro humano necessita de o fazer com um nível mínimo de bem-estar e há vários produtos dos quais é difícil abdicar. O papel higiénico é um deles. Não é um alimento é certo, mas simboliza limpeza, dignidade e irracionalmente o cérebro precisa dele.
Psicóloga Vera de Melo© DR
No entanto, realisticamente não precisamos de muitas quantidades, nem de muitas coisas. Acredito que ter a despensa cheia de alimentos e produtos de primeira necessidade alivia, reconforta e nos concede a sensação de 'normalidade' e a tão necessária ideia de controle da realidade.
No entanto, a compra por pânico, gera ainda mais pânico.
Mas as compras por pânico não acontecem apenas por uma reação instintiva das pessoas diante de uma situação de medo, de incerteza, julgo que outra causa é a 'infodemia'.
O que nos chega são as imagens dos corredores do papel higiénico vazios, o que despoleta a necessidade de comprar esse mesmo produto, tendo ou não necessidade dele.
Por outro lado, o facto de o volume de compras do papel higiénico ser tão elevado desperta ainda um outro medo, a possibilidade de ficar sem, originando o sentimento de falta. Este sentimento evoca a necessidade de apressar a compra, caso contrário há risco de não ter. Logo, o desfecho é comprar.
Inevitavelmente, agimos de determinadas maneiras guiados por evidências sociais. Olhamos para os outros para obter informações sobre o que deveríamos ou não deveríamos fazer. Trata-se de um comportamento mais instintivo do que emocional. Deste modo se os outros compram papel higiénico temos uma necessidade extrema também de comprar. O papel higiénico pela sua embalagem vistosa tem a vida também facilitada. Dado que é altamente visível no carrinho das compras, origina que se alguém o vê num carrinho, reforça a necessidade também de o comprar.
Mas há alternativa a esta compra…
A alternativa, a compra racional. Sabendo que a compra é impulsiva e irracional devemos desenvolver um conjunto de comportamentos que nos ajudem a ser mais racionais.
Atue com calma, equilíbrio e inteligência. Elabore uma lista de compras com o que realisticamente necessita e precisa. Depois quando entrar no supermercado, recorde-se que possivelmente haverá pessoas em pânico, por isso seja inteligente e não aja da mesma forma que outras pessoas estão a agir. Por fim, não antecipe futuros catastróficos irracionais, os supermercados não vão fechar, poderá continuar a comprar conforme as suas reais necessidades.
Vamos às compras?