A pesquisa inédita internacional examinou o cérebro de mais de 12 mil pessoas que sofrem de défice de atenção/hiperatividade, autismo, depressão, doença bipolar, perturbação obsessivo-compulsiva e esquizofrenia.
"Com esta descoberta vamos conseguir compreender melhor como é que as doenças se estabelecem e como evoluem para podermos encontrar novas formas de as tratar. Até ao momento o que fazemos é tentar reduzir os sintomas de doenças completamente estabelecidas do ponto de vista cerebral, isto é, já vamos tarde para reparar as alterações cerebrais que começaram muito cedo e muito precocemente a acontecer", elucida Pedro Morgado, coordenador da equipa de investigação portuguesa, do ICVS da Escola de Medicina da Universidade do Minho.
Acrescentando: "Se for possível conhecer as alterações cerebrais é possível intervir mais cedo porque sabemos quem são as pessoas que têm potencial de adoecer. O nosso objetivo é um dia conseguirmos prevenir o aparecimento das principais doenças psiquiátricas porque identificamos as pessoas que têm essas alterações cerebrais e implementámos técnicas que as possam reverter ou que possam mitigar a sua expressão patológica, ou seja, que a doença se expresse".
Pedro Morgado© DR
O trabalho foi publicado, esta semana, no JAMA Psychiatry e analisou o funcionamento de 34 zonas do cérebro, tendo identificado disparidades na densidade cortical, por outras palavras as pessoas que sofrem das doenças psiquiátricas mencionadas apresentam um córtex com menor densidade celular, comparativamente aos indivíduos sem nenhuma da patologia.
A distinção reside num valor mais diminuto de neurónios piramidais. Células essas que são essenciais para estabelecer a ótima comunicação entre diferentes zonas cerebrais e que "estão envolvidas no processamento das informações dos sentidos, no controlo dos movimentos, na geração de emoções e nos processos de tomada de decisão".
De acordo com os académicos, o novo estudo permitiu mapear cerebralmente as doenças, ao nível da região cerebral e como um todo, e também relativamente às características das células de diferentes zonas cerebrais, reconhecendo relações entre os genes e as células.
Essa análise permitiu verificar que algumas das alterações cerebrais sucedem prematuramente, enquanto outras surgem ao longo do desenvolvimento por ação de fatores psicossociais.
Pedro Morgado conta que tal é indicador que "embora a estrutura cerebral seja amplamente influenciada por fatores genéticos, a verdade é que essa estrutura não é rígida podendo ser modulada pelas experiências de vida".
O artigo tem 299 autores de mais de 20 países. A equipa portuguesa inclui os investigadores Pedro Morgado e Maria Pico-Perez, da Escola de Medicina da Universidade do Minho.
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