"O conhecimento da alteração do padrão das crises provocada pela utilização de equipamentos de proteção individual é muito importante para monitorizarmos os doentes com cefaleias. Mas é também importante compreender se a utilização destes equipamentos está a desencadear crises de cefaleias em pessoas que não sofriam desta doença, de forma a compreendermos como atuar e sensibilizar a população", conta Raquel Gil Gouveia, médica neurologista da Sociedade Portuguesa de Cefaleias (SPC).
Decorrente da necessidade atual de uso de máscaras e viseiras, como forma de proteção contra a propagação da Covid-19, por várias horas, nomeadamente nos locais de trabalho, têm dado origem a depoimentos de diversos doentes com enxaqueca que se queixam de um aumento de crises de cefaleias.
De modo a melhor entender o impacto que a utilização destes acessórios está a ter relativamente às crises de enxaqueca e cefaleias, a MiGRA Portugal e a Sociedade Portuguesa de Cefaleias uniram-se para desenvolver um projeto de investigação que pretende avaliar a existência de dores de cabeça na população desde o início da utilização dos equipamentos de proteção individual.
Para contribuir para este projeto só tem de preencher um questionário que está disponível online e deve, segundo ambas as associações, ser preenchido por todos, tanto doentes com enxaqueca e ou outros tipos de cefaleias, como pessoas que nunca sofreram com dores de cabeça, e será possível de preencher até 30 de novembro.
Madalena Plácido, presidente da MiGRA Portugal, explica que "apenas se tivermos dados e conseguimos demonstrar com este projeto de investigação quais os impactos da utilização destes equipamentos de proteção ao nível das cefaleias, poderemos sensibilizar a população e entidades patronais para uma maior compreensão com os doentes que veem a sua doença a agravar, mas também com pessoas que estão a experienciar o impacto destas crises pela primeira vez".
"Sabemos que a utilização de máscara tem contribuído para aumentar o número de crises, mas temos consciência de que a sua utilização é necessária no período que atravessamos. Manter-se hidratado é uma das principais estratégias para diminuir o número de crises, uma vez que muitas vezes com a máscara, há menos tendência para bebermos água e a desidratação é um dos grandes desencadeadores de crises Não saltar refeições e não fazer longos períodos de jejum, são também bons conselhos, que nos ajudarão a evitar algumas crises", acrescenta.
Os doentes devem ainda controlar os níveis de stress e ansiedade, e dar primazia a momentos de lazer, que lhes permitam relaxar. Entretanto, o teletrabalho poderá ser uma opção para os doentes que agravaram as suas crises com a utilização da máscara.
Quanto à medicação, a médica Elsa Parreira, presidente da Sociedade Portuguesa de Cefaleias diz que "numa altura como estas é imprescindível que os doentes retomem as consultas com os seus médicos, privilegiando as teleconsultas sempre que possível e que mantenham a medicação que lhes foi recomendada na última consulta com o seu médico".
As cefaleias são a segunda causa de incapacidade na população portuguesa dos 5 aos 49 anos e afetam aproximadamente metade da população mundial, apesar de serem muitas das vezes desvalorizadas.