Radiação UV tem potencial para inativar vírus. Como pode aproveitar isso?
Por exemplo, em Lisboa, no período de março, seriam necessárias 3 a 10 horas para o vírus ser eliminado pela radiação ultravioleta. Por outro lado, no inverno, serão precisas mais de 20 horas, ou seja, "um dia não chega para esterilizar superfícies no exterior".
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O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) informa, através de um comunicado, que foi recentemente publicado na revista internacional 'Photochemistry and Photobiology' um artigo científico que "demonstra o potencial da radiação ultravioleta (UV) na inativação do SARS-CoV-2", o vírus responsável pela Covid-19.
Intitulado 'Potential of Solar UV Radiation for Inactivation of Coronaviridae Family Estimated from Satellite', este é o primeiro trabalho publicado numa revista científica internacional sobre a relação do SARS-CoV-2 (Covid-19) e um elemento meteorológico, neste caso a radiação solar.
A investigação que arrancou durante o confinamento, de março e abril, resultou da cooperação entre o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), o Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde da Universidade do Porto (CINTESIS), Associação Portuguesa de Cancro Cutâneo (APCC) e a Universidade de Medicina Veterinária de Viena (Áustria). Com esta investigação os especialistas pretendem "contribuir para orientação de políticas públicas no combate à propagação do vírus".
De acordo com o IPMA, "os resultados mostram que a radiação solar UV tem um elevado potencial para inativar esses vírus, dependendo fortemente da localização geográfica e da estação do ano".
Para explicar isso mesmo, foram dados exemplos. Nas regiões tropicais e subtropicais (por exemplo, São Paulo, 23,5°S), "a fração diária de sobrevivência do vírus é inferior a 0,01 % durante todo o ano, enquanto que em latitudes mais elevadas (ex.: Reiquiavique, 64°N) essa fração apenas pode ser encontrada em junho e julho".
Por exemplo, em Lisboa e no período de março, "seriam necessárias entre 3 a 10 horas para o vírus ser eliminado pela radiação UV; por outro lado, no inverno temos tempos para esterilização superiores a 20 horas, ou seja, "um dia não chega para esterilizar superfícies no exterior".
O IPMA realça que com este estudo, e todos os trabalhos feitos sobre a influência dos fatores meteorológicos no novo coronavírus, se prova ser "a radiação UV efetiva na inativação do vírus".
Caminhadas ao ar livre, recomendam-se
Os dados em causa "têm importantes implicações potenciais práticas, em termos de recomendações de Saúde Pública, de forma a minimizar o potencial de contágio através de diferentes superfícies e mesmo no potencial de contagiosidade do SARS-CoV-2", pode ler-se.
O instituto destaca que "é ainda argumento para potencial recomendação à população para poder usufruir de exposição solar nesta época de outono/inverno e até ao início da primavera, altura em que os níveis do Índice UV raramente são maiores que 5, pelo que não são nocivos para a pele ou de risco significativo para aumento de números de cancros da pele, nomeadamente para exposições em tempo moderado".
O IPMA reforça, aliás, que o estímulo de caminhadas ao ar livre, em particular em dias de sol, "é de incentivar pelos benefícios psicológicos e físicos, em particular neste tempo de Covid 19".
Adicionalmente, lê-se no comunicado, "poderia haver recomendação para colocar o maior número de objetos, utensílios, roupas, entre outros, à exposição solar que possa ocorrer nestes meses".
O IPMA sublinha também que, neste ano de 2020, os níveis do Índice UV foram muito elevados durante todo o mês de maio (8 a 10, numa escala de 0 a 11, na maioria das localidade de Portugal (Continente e Ilhas), "altura em que se assistiu a forte redução do número de casos Covid 19 e redução da letalidade ao mesmo, mantendo-se estes níveis baixos ate meados de setembro, altura em que os níveis de UV reduziram significativamente".
"Desde essa altura até esta data, os níveis de UV tiveram naturalmente uma redução significativa em cerca de 60%, período em que se assistiu ao recrudescimento do número de casos e taxa de mortalidade", observa o instituto, reconhecendo, contudo, que esta incidência se relaciona com múltiplos factores ( encerramento ou abertura de atividade económica, abertura de escolas, etc).
Participaram no estudo em causa Fernanda Carvalho r Diamantino Henriques, do IPMA, Osvaldo Correia (Dermatologista, Presidente da Associação Portuguesa de Cancro Cutâneo, Professor Afiliado da Faculdade de Medicina do Porto; o Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde da Universidade do Porto – CINTESIS) e Alois Schmalwieser (Universidade de Medicina Veterinária de Viena, Áustria).
Portugal ultrapassou hoje os 4 mil mortos relacionados com a covid-19 ao contabilizar nas últimas 24 horas mais 85 óbitos e 3.919 novos casos de infeção com o novo coronavírus, segundo a Direção-Geral da Saúde (DGS). O país encontra-se, a partir de hoje e por mais quinze dias, em Estado de Emergência devido ao agravamento da pandemia que se reflete no número de infeções diárias, internamentos e mortes.
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