"Tumor ósseo muito agressivo que afeta particularmente crianças e adolescentes", o osteossarcoma é um tipo de cancro que apresenta "grande propensão para a metastização pulmonar", sublinha a UC, numa nota hoje divulgada.
Os investigadores acreditam que "a maioria dos doentes já tem micrometástases na altura do diagnóstico clínico, que depois progridem para metástases pulmonares, sendo esta a sua principal causa de morte, pelo facto de as terapias convencionais apresentarem uma eficácia limitada".
Por isso, "é urgente um diagnóstico mais precoce e novas estratégias terapêuticas capazes de eliminar estas pequenas lesões e travar a sua progressão", afirma Célia Gomes, do Instituto de Investigação Clínica e Biomédica de Coimbra (iCBR), da Faculdade de Medicina da UC, que lidera o estudo, em parceria com Antero Abrunhosa, do Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde (ICNAS).
O projeto, distinguido recentemente pela Liga Portuguesa Contra o Cancro e Lions Portugal, e que conta agora com 250 mil euros de financiamento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), foca-se numa abordagem que tira partido do conhecimento atual sobre o papel dos exossomas na formação de metástases e dos avanços nas tecnologias de imagem e de terapêutica baseada em radionuclídeos.
Facilmente isolados a partir de amostras biológicas (de sangue ou urina, por exemplo), "os exossomas podem ser administrados num organismo como veículos de entrega de moléculas para órgãos-alvo", funcionalidade que lhes confere "um elevado potencial diagnóstico e terapêutico".
As experiências já realizadas, revela Célia Gomes, permitiram demonstrar que "os exossomas libertados pelas células do tumor primário (osteossarcoma) induzem alterações no tecido pulmonar que favorecem o desenvolvimento das micrometástases".
"Comprovámos ainda a afinidade dos exossomas pelas lesões metastáticas, e a capacidade de entrega do seu conteúdo, o que substancia o grande propósito do nosso projeto: utilização dos exossomas como eficientes veículos de entrega de radionuclídeos com especificidade para células-alvo".
O financiamento atribuído pela FCT vai permitir explorar a potencialidade dos exossomas como agentes de terapêutica "através da sua funcionalização com radionuclídeos emissores beta, já aprovados para uso clínico, como por exemplo o Lutécio-177", explicita, citada pela UC, a investigadora do iCBR.
"Iremos também avaliar em contexto clínico se os exossomas podem ser utilizados, de forma não invasiva, como biomarcadores de risco ou de progressão da doença metastática", acrescenta.
Ao longo dos três anos de duração do projeto, realizado em colaboração com a Unidade de Tumores do Aparelho Locomotor do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), vão ser isolados exossomas de amostras de sangue de doentes com osteossarcoma, tendo em vista uma "caracterização em larga escala do seu conteúdo molecular e identificação de uma assinatura molecular preditiva do risco de doença metastática, cada vez mais importante para o prognóstico e para uma decisão terapêutica mais adequada", afirma a investigadora.
A abordagem proposta neste projeto, finaliza Célia Gomes, "representa um avanço nas aplicações biomédicas dos exossomas e pode servir de base para a exploração dos exossomas como plataformas de teranóstica para o osteossarcoma e outras neoplasias metastáticas, abrindo caminho à medicina de precisão".
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