O índice de eficácia global aponta a capacidade da vacina de proteger em todos os casos, ou seja, infetados com sintomas leves, moderados ou graves.
A eficácia do imunizante chinês está dentro da taxa mínima recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e também pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão regulador de medicamentos do Brasil, que é de 50%.
Os dados foram anunciados pelo Instituto Butantan, órgão de investigação ligado ao governo regional do estado brasileiro de São Paulo, que comandou a pesquisa e os testes do imunizante no Brasil.
O instituto também deverá fabricar o medicamento quando for aprovado pelas autoridades sanitárias do país.
Segundo o Butantan, os resultados foram submetidos a um comité internacional independente na Áustria. A pesquisa envolveu 16 centros de pesquisa científica no país. O teste duplo cego, com aplicação da vacina em 50% dos voluntários e de placebo nos demais, envolveu 12,5 mil profissionais de saúde.
De uma amostragem de 9,2 mil participantes, 85 dos casos muito leves foram de pessoas que receberam vacina, e 167 em voluntários que tomaram placebo.
Já o resultado de eficácia dos casos leves, classificado como 'score' 3, em pacientes que precisaram receber alguma assistência, foi de 77,96%, sendo que sete pessoas haviam recebido a vacina, e outras 31 o placebo.
Para os casos moderados e graves que necessitaram de hospitalização, a eficácia foi de 100%. Nenhum paciente infetado que recebeu a vacina do Butantan precisou de internamento. Entre os que tomaram placebo, houve sete pacientes que precisaram de ser internados.
Todo os voluntários eram profissionais de saúde, com risco muito alto e contínuo de exposição ao novo coronavírus.
Na quinta-feira, o Instituto Butantan anunciou que, nos testes feitos no país, o imunizante atingiu 78% de eficácia em casos leves e 100% em casos graves e moderados, ou seja, a vacina protegeu contra mortes e complicações mais severas da doença.
Neste caso, a eficácia de 78% demonstra o quanto a vacina é capaz de prevenir casos em que é confirmada a infeção pelo novo coronavírus, ou seja, quando infetados apresentam sintomas com a necessidade de intervenção médica.
"Esta vacina é uma excelente vacina, disponível e esperando para ser usada num país onde morrem no momento, em torno de mil pessoas por dia. Esperamos que as nossas autoridades, principalmente, nossas agências reguladoras entendam o momento e nos ajudem a atender o pedido das vacinas, que querem ser usadas", defendeu Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan.
"Essa vacina tem segurança, tem eficácia, e todos os requisitos que justificam o uso emergencial", acrescentou o responsável.
Segundo o médico e diretor de pesquisa do Instituto Butantan, Ricardo Palácios, a vacina foi testada com os profissionais de saúde porque têm a maior exposição ao vírus face à população em geral.
"[O teste da CoronaVac] não é a vida real exatamente. É um teste artificial, no qual selecionamos dentro das populações possíveis, selecionamos aquela população que a vacina poderia ser testada com a barra mais alta. Fizemos deliberadamente para colocar o teste mais difícil para essa vacina, porque se a vacina resistir a esse teste, iria se comportar infinitamente melhor em níveis comunitários", explicou Palácios.
A apresentação dos resultados contou com a participação de profissionais independentes, que integram o programa de pesquisa do Butantan e também médicos infetologistas ligados a universidades e outros órgãos científicos de investigação.
Natália Pasternak, microbiologista e diretora do Instituto Questão de Ciência, avaliou que, numa análise de risco e benefício da CoronaVac, é possível prever que o risco pessoal de quem tomar o medicamento é quase zero já que os efeitos adversos são mínimos.
"Nunca falamos, desde o início da pandemia, que queríamos a vacina perfeita. Queremos a vacina que nos permita sair desta situação pandémica e isto a CoronaVac tem o potencial de fazer. É uma vacina que vai nos permitir começar este processo de controlo da pandemia", avaliou a especialista.
"Não tem justificativa para não usar uma vacina que é adequada para o país, que tem esta condição de risco e benefício e que tem o benefício de reduzir a doença em pelo menos 50%. É uma vacina boa, além desta redução de risco de 50%, ela tem o potencial de reduzir com o percentual maior, provavelmente maior, a manifestação grave da doença e as mortes", concluiu.
A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 1.945.437 mortos resultantes de mais de 90,8 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.