"Esse processo de mutação e evolução acontece diariamente nas células do cancro. Essa eventualidade traz resistência à terapêutica da mesma forma que o vírus pode ficar resistente a uma vacinação, esse processo de mutação e evolução é fundamental para o cancro e para perceber resistência e para saber como evitar resistência terapêutica. É basicamente o nosso trabalho; estamos a estudar esse processo e a aprender formas de evitar a resistência e combater as variantes", afirmou o luso-canadiano.
O luso-canadiano encontra-se no país norte-americano desde 2005 pela "oportunidade de criar um programa de investigação para estudar o cancro da mama e estabelecer um programa de investigação científica básica e translacional na área do cancro".
Além de lecionar na faculdade de medicina da Universidade da Colúmbia Britânica (Vancouver), Samuel Aparício também lidera uma equipa na agência provincial para o tratamento do cancro na província localizada no oeste do Canadá com o objetivo de "combater as variantes do cancro".
"O grande avanço neste campo aconteceu em 2008 e 2009, quando se começaram a desenvolver tecnologias para a sequenciação do ADN, que levou à prática a possibilidade de sequenciar o genoma de indivíduos com cancro e sequenciar o ADN por completo", explicou.
No entanto há 15 anos, sabia-se que "não era tecnicamente possível", conhecendo-se na altura que "havia variações na sequência do ADN" consideradas "importantes para o desenvolvimento do cancro e a resistência terapêutica".
"Só foi após a revolução da sequência do genoma que ocorreu em 2009 que se começou a fazer isso. Fomos o primeiro grupo a nível mundial a descodificar por inteiro um cancro sólido e uma metástase de um cancro para poder ver a evolução do cancro", acrescentou.
Natural de Lisboa, Samuel Aparício, de 57 anos, é formado em medicina interna e anatomopatologia pela Universidade de Cambridge (Reino Unido), investigando a genética e a aplicação à medicina.
Ao longo dos anos, foram-se aperfeiçoando as tecnologias e a aproximação para perceber a evolução do cancro e quais são as variantes importantes na resistência à terapêutica.
"A taxa de sobrevivência ao fim de cinco anos melhorou bastante, nos anos 70 rondava os 60 a 70 por cento, agora atinge os 92 por cento nos cinco anos. Sabemos que dentro número há ainda bastante doentes que têm variantes do cancro, por exemplo os triplos negativos que são cancros da mama que não têm recetores hormonais, não têm ampliação do gene R2, alvo de uma terapêutica importante", sublinhou.
Os cancros "que não têm esses marcadores moleculares são mais difíceis de tratar", continuou Samuel Aparício, justificando que "têm mais tendência a evoluir e a ficarem mais resistentes à terapêutica".
"Sabemos que há essas variantes e ainda temos de perceber quais são as combinações de quimioterapêutica e doutros terapêuticos para poder eliminar o cancro ou uma doença crónica", concluiu.
O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, atribuiu no mês passado, subsídio no valor de 2.4 milhões de dólares canadianos ao projeto liderado por Samuel Aparício 'Cancer Single Cell Dynamics Observatory' (Observatório de Dinâmica de Célula Única do Cancro), do departamento de patologia e medicina laboratorial da Universidade da Colúmbia Britânica.
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