Nunca ouviu falar de doença de Cushing? É uma condição rara que afeta entre 40 a 70 pessoas em um milhão de habitantes, segundo a Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (SPEDM). Por exemplo, Amy Schumer, atriz e comediante norte-americana, revelou que sofre desta condição no ano passado.
Já em território nacional estima-se que por ano sejam diagnosticados cerca de 18 a 32 novos casos. Para entender melhor esta condição, o Lifestyle ao Minuto, no âmbito da rubrica O Médico Explica, falou com Joana Menezes Nunes, uma endocrinologista.
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O que é a doença de Cushing?
Trata-se de um distúrbio endócrino que resulta da exposição do organismo durante um período prolongado de tempo a glicocorticoides, cortisona ou cortisol, seja por produção endógena (pelo próprio organismo humano), seja por via exógena, isto é, pela exposição a glicocorticoides que provenham do exterior.
© Joana Menezes Nunes
É importante saber que existem diferenças entre Doença de Cushing e Síndrome de Cushing. Porquê?
Porque, apesar de ambas fazerem parte do mesmo espectro de doença, têm causas diferentes. Doença de Cushing é causada por um tumor na hipófise (uma glândula que se encontra no cérebro) que produz em excesso uma hormona chamada ACTH, hormona esta que 'manda' as suprarrenais produzirem cortisol a mais, causando a doença.
Já a Síndrome de Cushing ocorre por uso prolongado de glicocorticoides; tumores das glândulas suprarrenais; produção ectópica de ACTH, como, por exemplo, tumores nos pulmões que produzem ACTH, que, como já vimos, estimula a produção de cortisol pelas glândulas suprarrenais.
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Que tipo de sintomas pode causar?
Os sintomas mais comuns são o ganho de peso, especialmente na região central do corpo; a face arredondada ('face em lua cheia') por vezes ruborizada, ou seja, vermelha; acumulação de gordura na parte superior do tronco; e giba dorsal, a acumulação de gordura no pescoço entre os ombros.
Também pode causar pele fina e frágil, com sangramento e equimoses/hematomas fáceis, assim como difícil cicatrização; estrias violáceas no tronco e abdómen; depressão ansiedade e irritabilidade, alterações do humor, da memória e do sono; cansaço generalizado; acne; diminuição da libido e até infertilidade; e aumento das tensões arteriais e do edema; e desgaste ósseo.
Pode ainda provocar fraqueza muscular. Por exemplo, alguns doentes queixam-se de dificuldade em atividades como levantar de uma cadeira sem apoio ou estender/sacudir a roupa.
Mulheres podem relatar o aparecimento de pelos pretos com distribuição masculina e irregularidades menstruais. Já nas crianças falar ainda de baixa estatura (cruzam percentis na estatura, durante o crescimento) e estar atento ao aumento de peso fora do esperado.
Quem está em risco de ter este problema?
Todos estamos em risco de ter qualquer doença que exista ou que ainda venha a existir.
Existem formas de prevenir a condição?
Se falarmos em termos de prevenção de tumores, não há forma de prevenir. Se falarmos em iatrogenia (glicocorticoides): 'nim'. Ou seja, sim por um lado, se não os tomarmos, e não por outro lado porque existem doenças que só estão controladas/tratadas com a sua toma e portanto não há outra alternativa.
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O que envolve o tratamento?
O tratamento de qualquer doença passa pela sua causa, pelo que podemos falar de cirurgia, radioterapia ou até medicamentos para controlar a produção de cortisol (como a metirapona, cetoconazol ou mifepristona), assim como de medicamentos para controlar a doença ou as recidivas da doença (como cabergolina ou pasireotida). Cada caso é um caso e deve ser avaliado individualmente. A identificação e o tratamento precoces são fundamentais para reduzir complicações e melhorar a qualidade de vida dos doentes.
É uma condição que se consegue curar?
Sim, é possível curar. Cada caso deve ser avaliado por profissionais de saúde qualificados e credenciados na área.
Pode levar a outros problemas de saúde?
Sim, os mais comuns osteoporose, hipertensão arterial, diabetes mellitus tipo 2.
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