Jejum intermitente: Perca peso e previna doenças com esta prática milenar

O jejum intermitente é uma prática milenar e atualmente uma das grandes novas tendências internacionais no que diz respeito à nutrição. Porém, este tipo de jejum ainda suscita inúmeras dúvidas: 'não vou ter fome?', 'vou conseguir concentrar-me no trabalho'?, 'posso beber café em jejum' ou 'não faz mal ficar tantas horas sem comer'' - questões às quais Alexandra Vasconcelos, farmacêutica e terapeuta natural integrativa, responde nesta entrevista ao Lifestyle ao Minuto.

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Liliana Lopes Monteiro
06/05/2021 08:30 ‧ 06/05/2021 por Liliana Lopes Monteiro

Lifestyle

Entrevista Alexandra Vasconcelos

"O jejum intermitente é um modo de vida em que se concentra as refeições numa determinada janela horária do dia e se respeita um período longo, no mínimo de 12 horas, sem comer. Esta prática constitui uma ferramenta não farmacológica no controlo de inúmeras doenças crónicas. O jejum intermitente é uma prática milenar e validada por uma vasta e robusta bibliografia. Muitas religiões, e sobretudo as monoteístas, impõem ou aconselham a prática do jejum: o cristianismo, o islamismo, o judaísmo, o budismo", explica Alexandra Vasconcelos. 

Após o sucesso do livro 'O Poder do Jejum Intermitente', que foi a obra de não-ficção mais vendida em 2020, Alexandra acaba agora de publicar o novíssimo 'As Receitas do Jejum Intermitente'.

Dois livros que servem como guias práticos, com dicas e estratégias para aplicar o jejum no dia a dia e que incluem ainda planos de jejum e receitas saudáveis.

Em entrevista ao Lifestyle ao Minuto, Alexandra Vasconcelos diz-lhe tudo o que sempre quis saber sobre o jejum intermitente e desmistifica a prática alimentar, destacando os seus benefícios para a saúde física e mental. 

O que é o jejum intermitente?

O jejum intermitente é um modo de vida em que se concentra as refeições numa determinada janela horária do dia e se respeita um período longo, no mínimo de 12horas, sem comer. Esta prática constitui uma ferramenta não farmacológica no controlo de inúmeras doenças crónicas. O jejum intermitente é uma prática milenar e validada por uma vasta e robusta bibliografia. Muitas religiões, e sobretudo as monoteístas, impõem ou aconselham a prática do jejum: o cristianismo, o islamismo, o judaísmo, o budismo.

Na pré historia, na era do paleolítico, época melhor documentada que começou há cerca de 2,5 milhões de anos quando os nossos antepassados começaram a produzir os primeiros artefactos em pedra e que caçavam e comiam apenas uma vez por dia. Só muito recentemente e especialmente com o crescimento da indústria alimentar após a 2.ª Guerra Mundial, surge o aconselhamento e o hábito de comer várias vezes ao dia.

O nosso ADN é igual há milhares de anos e as alterações dos nossos comportamentos, principalmente os alimentares, levaram ao aparecimento ou a um aumento exponencial de doenças autoimunes, da obesidade, doenças cardiovasculares e cancros.

O jejum Intermitente é um modo de vida que respeita a nossa genética.

Qualquer pessoa pode fazê-lo?

O jejum de 12 horas é aconselhado para todas as pessoas. No entanto, situações de convalescença, grávidas, mulheres a amamentar, pessoas com peso extremamente baixo, diabéticos tipo 1 e crianças devem ser acompanhadas por profissionais de saúde formados na área. Períodos de jejum com duração superior a 24 horas e particularmente aqueles com duração de 3 ou mais dias devem ser realizados sob a supervisão de um médico e de preferência numa clínica com experiência nesta área.

Notícias ao MinutoDr. Alexandra Vasconcelos© Facebook/DR

Quais são os benefícios do jejum intermitente?

Quando não comemos e introduzimos alternância de períodos em que nos alimentamos com períodos contínuos de jejum, induzimos uma alteração e reprogramação metabólica com o aumento da produção da hormona de crescimento e incremento dos processos de autofagia.

A alteração metabólica que se instala em situações de jejum prolongado, consiste na troca do recurso energético (da glicose pela gordura) e tem implicações muito benéficas, nomeadamente na melhoria da sensibilidade à insulina.

Se não comermos durante algumas horas, as reservas em açúcar acabam e inicia -se o processo de glicogenólise (formação de açúcar através da lise do glicogénio armazenado no músculo e fígado). Passado algum tempo o corpo recorre a um outro “armazém” de energia: a gordura.  

As repercussões atribuídas à alternância destes metabolismos estão muito estudadas, tanto em modelos animais como em pessoas e origina então esta reprogramação que provoca maior resistência ao stress, menor inflamação, remoção e substituição de células danificadas e proteção celular.

Existem malefícios?

Felizmente nenhuns. Dos milhares de estudos efetuados em nenhum é apontado qualquer efeito negativo ou nocivo para a nossa saúde. Existia, por exemplo, o mito de que a prática do desporto não era possível em jejum. Também este mito caiu e, por exemplo, há uma meta-análise efetuada  e publicada por investigadores da Faculdade de Motricidade Humana de Lisboa e da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa que comprovam os efeitos benéficos da prática de jejum intermitente por desportistas.

Como afeta os níveis de concentração e de energia?

Durante o jejum o corpo vai buscar energia numa primeira fase ao glicogénio no fígado e músculo e depois à gordura acumulada. Existem milhares de calorias acumuladas sob a forma de gordura cuja oxidação fornece a energia necessária. Esta troca metabólica (metabolismo normal pelo cetogénico) liberta corpos cetónicos, como o betahidroxibutirato, muito benéficos na cognição, memória e plasticidade cerebral. Assim a cognição, atenção, concentração e memória melhoram com a introdução da prática do jejum intermitente. 

Durante o jejum há também um aumento da produção de adrenalina e estes níveis elevados revitalizam-nos e estimulam o metabolismo, fazendo com que se gastem também mais calorias.

Beber água, chá ou café quebra o jejum?

Não. É, no entanto, proibido adicionar açúcar ou qualquer adoçante a estes líquidos. Por isso também não devem ser ingeridos quaisquer sumos de fruta, mesmo os naturais.

Durante quantos dias ou meses posso fazer o jejum intermitente?

O jejum intermitente, por ser uma prática e um modo de vida, deve ser feito sempre. Não é uma atividade sazonal ou periódica, é um comportamento equivalente à nossa respiração ou ao sono. Por isso, se quer viver bem, com qualidade de vida, com um envelhecimento saudável e não precoce deve adotar o jejum intermitente para sempre.

O que se pode comer?

Eu respondo com o que se deve comer.

Todos os estudos mostram que excesso calórico e dietas com muitas proteína e hidratos de carbono estão relacionadas com aumento da incidência de várias doenças, nomeadamente diabetes, cardiovasculares, autoimune, obesidade entre outras. Uma ingestão moderada e equilibrada promove a longevidade, aumenta a resistência a doenças  e mantém o peso.

A má alimentação está, nos últimos anos, a assumir um papel determinante como fator desencadeador de doenças. Neste sentido, é necessário deixar claro que o jejum intermitente e a alternância do metabolismo normal pelo cetogénico são importantes e implicam alterações metabólicas determinantes para a manutenção da saúde, mas é fundamental que a alimentação seja cuidada. Fazer jejum é bom, mas não resulta se não tiver cuidado com o que come. 

Neste sentido deve-se comer legumes, vegetais de várias cores, gordura saudável (ovos, frutos secos, sementes, abacate, coco, alguma carne bio, peixe gordo de mar por exemplo), alguma proteína e limitar a ingestão de hidratos de carbono e açucares.

Notícias ao Minuto© Editorial Planeta

Quais são os alimentos proibidos?

Antes de mais tudo o que não é natural, como refinados, processados. Depois tudo o que tenha açúcares, explícitos ou escondidos. Glúten e lácteos não são benéficos para qualquer pessoa.

Quem segue este regime pode fazer exercício físico?

Estamos biologicamente preparados para fazer exercício físico em jejum. Somos programados para produzir a nossa própria energia à custa da própria gordura e do que respiramos.

Fazer exercício em jejum, e se possível com HIIT (treino intermitente de alta intensidade) vai adaptar o seu corpo ao metabolismo da gordura e transformá-la em energia.

O exercício físico em jejum permite adaptar mais rapidamente o corpo a este metabolismo e ensinando-o a usar esta gordura acumulada.

Fazer exercício em jejum promove uma maior oxidação da gordura corporal comparativamente com o mesmo mecanismo em pessoas que fazem exercício depois de comer.

Quais são os principais desafios ou dificuldades que podem surgir durante o jejum intermitente?

A primeira frase que as pessoas dizem após realizarem o primeiro jejum é: Incrível, afinal é mais fácil do que pensava e não tenho fome. A grande maioria sente desde logo maior vitalidade, energia e saciedade. Muitos referem também que se sentem mais desinchados, menos inflamados e com maior concentração. A sensação de bem-estar é notória em todas as pessoas, após alguns jejuns de 16 a 18 horas de jejum, em resultado da libertação de alguns corpos cetónicos. O intestino também pode ficar mais regulado, bem como se sente uma melhoria nos níveis de stress, sono e peso.

O importante é entender e saber interpretar as mensagens que o nosso corpo nos transmite: o que sentimos é vontade de comer. Fome é outra coisa muito diferente, é privação de alimento durante dias, semanas.

Por isso termino como disse ao início: O jejum Intermitente é um modo de vida que respeita a nossa genética.

Alexandra Vasconcelos

Farmacêutica, Naturopata, Master em Medicina Integrativa e Humanista e Pós Graduada em Nutrição Oncológica pela Universidade Católica Portuguesa - Lisboa.

Autora dos livros:

'O Segredo para se Manter Jovem e Saudável'

'Jovem e saudável em 21 dias – Programa para reeducar o seu sistema imunitário, reverter e prevenir doenças'

'O Poder do Jejum Intermitente'

'As Receitas de O Poder do jejum Intermitente'

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