Interrupção de antidepressivos pode levar a recaída, alerta estudo

Mais de metade dos doentes com depressão crónica que tentam parar a toma de medicação antidepressiva têm uma nova crise no espaço de um ano, comparativamente aqueles que continuam a tomar ininterruptamente a medicação indicada.

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Notícias ao Minuto
04/10/2021 09:42 ‧ 04/10/2021 por Notícias ao Minuto

Lifestyle

Tratamento da depressão

Um novo estudo britânico, publicado no New England Journal of Medicine e citado pela CNN, descobriu que "as medidas de qualidade de vida e os sintomas de depressão, ansiedade e abstinência de medicamentos foram geralmente piores em pacientes que interromperam o tratamento com antidepressivos". 

Ainda assim, e surpreendentemente, os investigadores apuraram que uma pequena percentagem de indivíduos conseguiu interromper com sucesso o a toma de antidepressivos sem sofrer outro episódio depressivo.

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"Algumas pessoas podem interromper a medicação sem experienciar uma recaída, embora no momento não possamos identificar quem são essas pessoas", afirmou  à CNN a co-autora do estudo Gemma Lewis, professora de epidemiologia psiquiátrica da University College London, no Reino Unido. 

Quando as pessoas enfrentam uma crise depressiva pela primeira vez, a prática comum é prescrever antidepressivos entre quatro a nove meses após a remissão da depressão, partilhou Jonathan Alpert, presidente do Conselho de Pesquisa da Associação Psiquiátrica Americana.

A remissão define-se como um período de dois meses sem sintomas de depressão grave, como tristeza, apatia e redução do interesse ou prazer na vida.

"Na minha própria prática, se o paciente tem um primeiro episódio de depressão, e particularmente se foi desencadeado por um evento de vida – morte de um ente querido, negócio falido – então tento o meu melhor para fazer os pacientes entrarem em remissão, então trato-os por um mínimo de seis meses após atingirem a remissão", explicou Jeffrey Jackson, professor da Faculdade de Medicina de Wisconsin, que estuda a depressão.

Acrescentando: "se permanecerem em remissão por esses seis meses, então podemos considerar a redução gradual dos antidepressivos – com a pessoa monitorizando cuidadosamente os seus próprios sintomas depressivos". 

Infelizmente, o perigo de um novo surto de depressão mais tarde na vida é significativa e perigosamente elevado, disse Alpert, que também é chefe de psiquiatria do Sistema de Saúde Montefiore, no Bronx, nos Estados Unidos.

"Se alguém teve um episódio de depressão, as chances de um segundo episódio em algum momento da vida são de 50%", disse.

"Se alguém já teve duas depressões, o risco de uma terceira é ainda maior – mais de 75% das pessoas que tiveram duas ou mais crises depressivas terão outra". 

A ciência sabe há muito tempo que as pessoas com depressão recorrente apresentam uma dificuldade mais acentuada em abandonar a toma de antidepressivos e uma maior probabilidade de recaída quando o fazem, acrescentou Alpert.

"Para pacientes que tiveram três ou mais episódios depressivos, geralmente planeio tratá-los pelo resto da vida", salientou Jackson.

Pesquisas desatualizadas que contribuem para a desinformação

Conforme explica a CNN, muitos estudos acerca da eficácia e segurança a longo prazo da toma de antidepressivos são antigos e limitados e como tal o novo estudo foi realizado com o intuito de preencher essa lacuna. 

"Muitas pessoas estão a tomar antidepressivos a longo prazo, e as evidências para aconselhá-los a continuar a manutenção ou descontinuar o tratamento são fracas", referiu Gemma Lewis

Para efeitos daquela pesquisa, foram recrutados 478 doentes de 150 clínicas no Reino Unido. Cada um dos voluntários havia experienciado pelo menos dois episódios depressivos ou tomado medicamentos antidepressivos durante dois anos ou mais. Todos se sentiram bem o suficiente para parar de tomar a medicação.

"Este é o maior estudo feito num ambiente de atenção primária do mundo real", contou Alpert.

"Tal é importante porque a maioria dos pacientes com depressão são tratados pelo seu provedor de cuidados primários", disse Jackson.

Somente indivíduos que tomaram as dosagens de manutenção de quatro antidepressivos específicos foram incluídos na pesquisa, nomeadamente citalopram, fluoxetina , sertralina e mirtazapina. 

Metade dos voluntários recebeu doses reduzidas do seu antidepressivo durante um período de dois meses. No começo do terceiro mês, todos estavam a tomar um placebo. A outra metade do grupo continuou a tomar sua dose normal de antidepressivo.

Passado 52 semanas de monitorização, 56% dos doentes que haviam parado de tomar antidepressivos recaíram num estado depressivo, comparativamente com 39% dos indivíduos que continuaram a tomar os fármacos que lhes haviam sido prescritos. 

"Os pacientes que interromperam seus antidepressivos tiveram uma recaída mais cedo do que os pacientes que permaneceram com os antidepressivos", acrescentou Lewis.

Adicionalmente, os sintomas de depressão e ansiedade foram mais elevados entre os voluntários que cessaram a medicação.

Para o Dr. Tony Kendrick, professor de cuidados primários da Universidade de Southampton, no Reino Unido, os dados apurados são indicadores dos benefícios do uso de antidepressivos a longo prazo.

"É reconfortante saber que as pessoas que tomam antidepressivos a longo prazo estão de facto a ser beneficiadas. Não é algo que estejam a tomar desnecessariamente", concluiu 

Leia Também: Um em cada quatro jovens no mundo tem sintomas de depressão elevados

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