Guardar ou doar sangue do cordão umbilical? Tudo o que precisa de saber

Em Portugal, apenas cerca de 10% das amostras de sangue do cordão umbilical de todos os partos são guardadas em bancos públicos e familiares.

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Ana Rita Rebelo
15/11/2021 14:25 ‧ 15/11/2021 por Ana Rita Rebelo

Lifestyle

Entrevista

A recolha de células estaminais do sangue do cordão umbilical é uma esperança no tratamento de mais de 80 doenças, em crianças e em adultos. Desde a primeira intervenção, em 1988, foram já realizados mais de 45 mil transplantes, a maioria dos quais para travar leucemias, linfomas e outras patologias associadas ao sistema imunitário, mas também para o tratamento de imunodeficiências, doenças genéticas ou metabólicas.

A pretexto do Dia Mundial do Sangue do Cordão Umbilical, Carla Cardoso, responsável de Investigação e Desenvolvimento da Crioestaminal, disse ao Lifestyle ao Minuto que, no futuro, "é expectável que a investigação científica nesta área permita aumentar ainda mais as aplicações terapêuticas desta fonte de células estaminais". 

Leia Também: Células estaminais promissoras no tratamento da infertilidade feminina

Qual o potencial e valor terapêutico do sangue de cordão umbilical? E em que é que este pode ser utilizado?

O sangue do cordão umbilical é, hoje, uma reconhecida fonte de células estaminais com aplicações terapêuticas em mais de 80 patologias, que incluem doenças do sangue, como leucemias e alguns tipos de anemias, e, entre outras, do sistema imunitário. As células estaminais do sangue do cordão umbilical são semelhantes às que se encontram na medula óssea e é por essa razão que o sangue é usado em transplantes em alternativa à medula óssea.

Atualmente, os transplantes hematopoiéticos com células estaminais hematopoiéticas, capazes de formar as células do sangue, constituem a grande maioria das aplicações de sangue do cordão umbilical realizadas a nível mundial. Um transplante de sangue do cordão umbilical é um tratamento que tem por objetivo substituir a medula óssea de um doente por células estaminais normais de um dador saudável. É a partir destas células que se gerará um novo sistema sanguíneo e imunitário no doente.

É completamente indolor, não apresentando qualquer risco para a mãe ou para o bebé

Atualmente, estamos a falar de quantos transplantes já realizados? 

Para já, foram realizados mais de 45 mil transplantes com sangue do cordão umbilical para o tratamento de doenças, em crianças e em adultos.

 Tendo em conta o potencial terapêutico, o que espera para o futuro? 

A administração de células estaminais do sangue do cordão umbilical encontra-se em estudo noutras patologias, como doenças neurológicas, como paralisia cerebral e autismo, também em perda auditiva adquirida, em lesões da espinal medula, AVC e, entre outras, a diabetes. É expectável que a investigação científica nesta área permita aumentar ainda mais as aplicações terapêuticas desta fonte de células estaminais.

Como é que é feita a colheita?

Para que a colheita seja feita, é necessário que os pais, que decidem guardar as células estaminais dos seus bebés, levem consigo para o hospital ou maternidade o 'kit' de colheita da Crioestaminal, por exemplo. Os pais indicam à equipa do parto que pretendem fazer a colheita das células estaminais e, depois do corte do cordão umbilical, é feita uma punção venosa do cordão umbilical que permite colher o sangue. Além disso, é também colhida uma porção do cordão umbilical propriamente dito. 

Apenas cerca de 10% das amostras de sangue do cordão umbilical de todos os partos realizados em Portugal são guardadas, em bancos públicos e bancos familiares

O procedimento causa dor?

Não. É completamente indolor, não apresentando qualquer risco para a mãe ou para o bebé. Após o nascimento, a equipa médica que acompanha o parto colhe o sangue da veia do cordão umbilical do bebé através de um procedimento simples.

Como é que fazem a criopreservação das células?

As unidades de sangue do cordão umbilical que chegam ao nosso banco (Crioestaminal) são processadas e de seguida criopreservadas, sendo, durante o tempo de vigência do contrato, mantidas em contentores de azoto líquido, a temperaturas muito baixas.

Existem bancos públicos e familiares de armazenamento de sangue do cordão umbilical. Nos bancos familiares, são armazenadas amostras de sangue do cordão umbilical para uso no próprio ou em familiares compatíveis, sendo grande parte das amostras libertadas para utilização entre irmãos. Nos bancos públicos, são guardadas amostras de sangue do cordão umbilical que os pais doam para poderem ser utilizadas em transplantes na população em geral, desde que haja compatibilidade entre doente e dador. 

Como é que as famílias podem doar o sangue do cordão umbilical?

Se o objetivo for fazer uma doação para o banco público, as futuras mães devem contactar o banco público. Além disso, é possível fazer doações com o propósito de promover a investigação nesta área. Com esse objetivo, a Crioestaminal criou o Banco de unidades de Sangue e de Tecido do Cordão Umbilical. Estas amostras resultam de doações feitas pelos pais. Assim, se os futuros pais não estiverem interessados em guardar para uma possível utilização futura, podem optar por doar as células estaminais dos seus filhos, ficando disponíveis para projetos de investigação que visam, entre outros objetivos, encontrar respostas terapêuticas para doenças atualmente sem cura

As amostras doadas aos bancos públicos ficam disponíveis para quem quer que delas necessite, não estando garantida a sua disponibilidade para o dador ou para um familiar compatível

Em Portugal, a doação é uma prática recorrente?

Sabemos que apenas cerca de 10% das amostras de sangue do cordão umbilical de todos os partos realizados em Portugal são guardadas, em bancos públicos e bancos familiares.  O sangue e o tecido do cordão umbilical só podem ser colhidos durante o parto, por isso, se por algum motivo não forem colhidos nesse momento, perdem-se para sempre.

Se os pais decidirem doar o sangue do cordão umbilical do bebé, é possível obtê-lo de volta em caso de necessidade médica?

As amostras doadas aos bancos públicos ficam disponíveis para quem quer que delas necessite, não estando garantida a sua disponibilidade para o dador ou para um familiar compatível. Além disso, nem todas as amostras doadas preenchem os requisitos determinados pelos bancos públicos, podendo mesmo ser descartadas ou doadas para investigação.

Quais os mitos associados à doação?

Penso que um deles é exatamente o facto de as pessoas pensarem que após doarem para o banco público, se no futuro tiverem necessidade, poderão usar essas amostras. Outro talvez seja o de se pensar que todas as amostras doadas aos bancos públicos são guardadas.

Leia Também: "Sabia que quando doa sangue pode estar a salvar até quatro vidas?"

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