Benedita chegou a pesar 92 quilos. Agora, é um exemplo de força
Em entrevista ao Lifestyle ao Minuto, a autora do livro 'Obesidade Nunca Mais' dá um forte testemunho. Lembra a obsessão com os números da balança, a pressão social, as compulsões. Explica como combateu gatilhos e reforça o convite ao amor-próprio.
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Lifestyle Entrevista
E se lhe disséssemos que para perder peso não tem de deixar de comer as coisas de que gosta? Esta é uma das muitas aprendizagens que Benedita Stüve Figueiredo quer transmitir no seu livro 'Obesidade Nunca Mais", que chega agora às livrarias.
"Nem queria acreditar que no meu plano alimentar tinha arroz, massa, batata, banana, chocolate, manteiga de amendoim… Isso fez com que fosse muito fácil começar a gostar de ser cada vez mais saudável", explica em entrevista ao Lifestyle ao Minuto.
Benedita, de 31 anos, não é nutricionista nem atleta. Não tem, aliás, qualquer formação na área da saúde. Nasceu com 3,300 kg e sempre teve um peso considerado normal. Mas a chegada da adolescência trouxe também o desejo de perder uns quilos extra. Experimentou de tudo: batidos proteicos, dietas restritivas, comprimidos e abordagens mais conversadoras.
Depois de anos de luta, decide, em 2020, somar a palavra 'saúde' à sua lista de resoluções. Procurou ajuda, perdeu 30 kg, ganhou saúde e ficou a sentir-se a sua melhor versão.
Começa por escrever, no início do livro, que foi educada para praticar exercício físico, mas que sempre gostou muito de comer. Em criança, como era a sua relação com a comida?
Até começar com dietas rigorosas que me deixaram com uma relação péssima com a comida, sempre foi boa. Gostava muito de comer e bem. Nunca fui miúda de comer porcarias, mas desde pequena que um bom cozido à portuguesa me deixava com um sorriso na cara.
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Quando é que deixou de se sentir confortável com o seu corpo?
Na verdade, sentia-me confortável, mas sabia que tinha de perder peso para ser mais confiante. Quando a minha mãe ficou doente, decidi começar uma dieta. Desta vez, foi mesmo dieta e não reeducação alimentar. O nutricionista que me prescreveu esta dieta era muito focado no físico e não na saúde, tanto que proibia musculação e certos alimentos saudáveis apenas pelo simples facto de serem bastante calóricos. Nunca me ensinou a comer e nunca me explicou o porquê dos alimentos. Nesta altura, quando perdi peso, só valorizei o corpo e como não dei atenção à minha saúde, desisti de fazer dieta e engordei muito rapidamente, chegando mesmo a ser obesa.
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Chegou a pesar quanto?
Estive anos sem ir à balança. Só o fiz após umas férias com amigas. Éramos jovens, fomos sozinhas para o Algarve e as contas do supermercado eram dividas irmãmente. Lembro-me que acabei as férias a sentir-me mais leve, porque comia menos, e tive vontade de voltar a ter uma vida mais saudável. Nesta fase, inscrevi-me no boxe e quando o treinador me fez subir à balança pesava 92 kg.
Pensava que só passando fome e com muito esforço é que poderia algum dia emagrecer. Cheguei a ficar sem menstruação e com níveis de colesterol altíssimos
Fale-me da sua primeira experiência com dietas.
Optei por emagrecer como muita gente infelizmente faz hoje em dia. Segui um regime doloroso, sem ter prazer no que comia e a passar bastante fome. Tinha de deixar os eventos sociais de parte, porque corria o risco de desviar-me da dieta e tinha de me pesar todos os dias. Foi muito doloroso. As pessoas devem sempre optar pela reeducação alimentar, ou seja, aprender a comer e a criar uma boa relação com a comida. Nutrir o corpo é fundamental e ninguém engorda por comer certos alimentos. Engorda é por comer mais do que é necessário para se manter com energia e saudável.
O que é que falhou?
A falta de conhecimento. A restrição de alimentos, passar fome, não ter prazer na comida e não conseguir desfrutar dos momentos à mesa com familiares e amigos. Estava sempre a pensar no que ia comer. Se ia aos eventos, comia tudo o que podia e, se não ia, ficava em casa triste e vingava-me na comida. Penso que, hoje em dia, os nutricionistas já estão mais focados a ensinar e a explicar o porquê de certas decisões que fazem nos planos de reeducação alimentar que nos passam. Por exemplo, pessoas que queiram ganhar ou perder peso certamente terão as mesmas opções alimentares. O que acontece é que as quantidades vão ser diferentes para cada objetivo. Por aqui podemos concluir que o importante é nutrir o corpo e fazer escolhas mais saudáveis e que nos saciem.
Quando é que decide mudar radicalmente de vida?
Desde 2013, quando decidi mudar de vida, sempre fiz tudo para conseguir ser mais magra. Nessa altura, não pensava em ser saudável. Tentei de tudo, desde dietas restritivas, compridos, batidos proteicos, tudo! E nunca encontrei o equilíbrio entre ser saudável e, por consequência, ter um corpo mais bonito, estar mentalmente feliz e curada. Quando comecei a praticar boxe, em 2013, tentei comer melhor. Segui a dieta fantástica da Ágata Roquette, mas como não tinha consultas personalizadas chegou a uma altura em que não consegui perder mais peso e foi quando decidi voltar a ter consultas com o nutricionista que tinha consultado anteriormente.
A alimentação que tinha com o antigo nutricionista não me permitia ter força. Comia uma colher de sopa de aveia e um kiwi
É aí que volta às dietas restritivas...
Sim. Como nunca me tinha sido ensinado a importância de cada alimento, pensava que só passando fome e com muito esforço é que poderia algum dia emagrecer. Cheguei a ficar sem menstruação e com níveis de colesterol altíssimos. Para este nutricionista, a única coisa que importava era o físico. Por isso, também para mim esse era o único foco. Se aumentava 200 gramas era um drama... E, convenhamos, podemos alterar o peso sem ganhar gordura por variadíssimas razões, uma das quais até é um indicativo saudável, porque se aumentarmos a massa magra e não diminuirmos a massa gorda, vamos automaticamente ficar mais pesados, mas também estamos mais saudáveis.
Eis que chega a Covid-19 e a quarentena. O que mudou em si?
Nesta fase deixei de ter pressa. Penso que o mundo, não só para mim, mas para todos, parou. E foi quando encontrei os meus dois pilares: a Diana Dinis, nutricionista, e o Pedro Cardoso, o meu 'personal trainer' (PT). Nesta altura, seguia os treinos que os PTs disponibilizavam gratuitamente no Instagram. Fazia diariamente os treinos dos meus amigos Afonso e Francisco Vareta, que eram de alta intensidade e foi então que conheci o Pedro Cardoso, nas suas aulas de 3b ('bum bum brasil'). Aqui fazia tudo o que me era proibido pelo nutricionista, porque para ele apenas caminhadas e pilates eram permitidos.
Como comecei a treinar com mais intensidade, a alimentação que tinha com o antigo nutricionista não me permitia ter força. Comia uma colher de sopa de aveia e um kiwi, por exemplo. Comecei a investigar as receitas que as nutricionistas publicavam no Instagram e percebi que, afinal, banana, manteiga de amendoim ou gema de ovo não eram o problema. Comecei a treinar melhor, a comer melhor e o corpo a modificar. Falei com o Pedro e comecei a treinar em abril de 2020. Optámos pro treinos personalizados e, consequentemente, conheci a Diana, que me passou um plano com todos os alimentos de que eu gostava. Nem podia acreditar que no meu plano alimentar tinha arroz, massa, batata, banana, chocolate, manteiga de amendoim… Aqui foi muito fácil começar a gostar de ser cada dia mais saudável. Lembro-me até que tinha muito medo dos hidratos de carbono, pois até então eram totalmente proibidos, e foi uma batalha que conquistei com a Diana e, hoje em dia, alimento-me de forma saudável e sem restrições.
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A ajuda de um nutricionista é essencial?
Sim! Tal como é essencial irmos ao dentista, ao médico de família e fazer análises com regularidade, todos nós devíamos ser acompanhados por um nutricionista, nem que fosse duas vezes por ano.
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Um conselho para quem se encontra na mesma situação em que estava a Benedita no período pré-pandemia.
Procurem um profissional de saúde com o qual se identifiquem. Invistam em vocês e na vossa saúde, por mais que isso signifique que tenham que optar por jantar menos vezes fora, comprar menos roupa... O melhor investimento que podemos fazer é na nossa saúde. Não tenham pressa e não pensem que para ser saudável é preciso sofrer. Basta aprender o que nos faz bem e a melhor forma para atingirmos a nossa melhor versão. Acreditem a pés juntos nos profissionais pelos quais vão optar para que sejam os vossos pilares nesta jornada e desfrutem de cada momento. Valorizem cada conquista e lembrem-se sempre que será uma mudança para toda a vida, por isso tem de fazer sentido para vocês. Se não se identificam ou pensam que em algum momento não serão capazes de continuar com essa rotina, procurem alguém que se adapte aos vossos gostos, horários e condições.
No meu caso, a Diana Dinis e a sua equipa foram os melhores, porque conseguiram ir ao encontro das minhas necessidades Não tenham medo quando um 'personal trainer' vos pede para fazerem musculação, porque essa é chave para conseguirmos perder peso de forma saudável. O corpo, com mais músculos e mais massa magra, vai aumentar o metabolismo e queimar mais calorias. Na prática, queimamos mais gordura e a nossa gordura visceral diminui. Quando fazia dietas restritivas tinha o metabolismo de uma idosa. Totalmente parado! Hoje em dia, posso dizer que tenho um metabolismo de atleta.
Se pesava mais 300 gramas, o dia estava perdido
Quais são os seus exercícios favoritos e aqueles que mais detesta fazer?
Adoro correr. Durante as corridas tenho tempo para mim e para pôr a cabeça em ordem e, no fim, sinto-me mais leve. Adoro conseguir aumentar a distância da corrida e correr cada vez mais rápido. Correr é um vício saudável em que nos desafiamos e conseguimos provar que com dedicação podemos ser sempre melhores. Adoro fazer treino de membros inferiores com bastante peso e sentir que estou cada dia mais forte. Mas detesto os famosos burpees!
O que faz nos dias em que não tem vontade de treinar?
Há muitos dias em que não me apetece treinar e que preferia ficar a dormir em vez de acordar às seis da manhã. Na realidade, são mais os dias em que não tenho motivação, mas é aqui que entra a disciplina. O meu conselho é: sejam disciplinados, desafiem-se e lembrem-se sempre que ninguém o fará por vocês. Há sempre tempo, nem que sejam aqueles 15 minutos a ver televisão que todos têm diariamente ou que usamos para estar nas redes sociais. Garanto que o bem-estar que se sente após praticar exercício físico e a conquista de terem sido mais fortes que o vosso psicológico vão ser compensadores. Depois acaba por ser rotina e quem gosta de fazer exercício sabe que a principal razão é o bem-estar que sentimos diariamente e que não nos deixa desistir.
Tem um capítulo dedicado a falhas. Porque é que decidiu escrevê-lo?
Para mostrar a todas as pessoas que têm uma relação tão difícil com o corpo e com a comida que não estão sozinhas. Antes de encontrar o equilíbrio pensava que era a única a ter episódios de compulsão alimentar, a única a deixar de ir a eventos sociais com medo da comida, a única que deixava que o seu dia fosse impactado pelo número que aparecia na balança. Se pesava mais 300 gramas, o dia estava perdido. Assim, ao passar todas as minhas falhas, sem tabus, e a mostrar que, com a ajuda de bons profissionais, conseguem encontrar o equilíbrio, sinto que posso ajudar muitas pessoas.
Em janeiro de 2021 cria uma página de Instagram.
"E se ajudares uma única pessoa? Isso não te faz feliz?": esta foi a pergunta que levou à criação da página. Deixei a vergonha de parte e no dia 31 de janeiro de 2021 criei a @b.healthypt. Na altura, criei a página porque estava em 'lay-off' e as minhas melhores amigas perguntavam-me constantemente o que ia comer ou que treino ia fazer. No fundo, senti que era uma motivação e inspiração para que elas conseguissem ser mais saudáveis. Foi então que falei com a minha melhor amiga, a Mariana Aires, e decidimos que seria interessante criar uma página de Instagram. A Mariana é 'influencer' e conseguiu ajudar-me a chegar a mais e mais pessoas.
Recebe muitos pedidos de ajuda?
Recebo mensagens muito queridas com relatos de pessoas que começaram a seguir a minha conta e que conseguiram encontrar o equilíbrio entra uma vida saudável e uma mente tranquila. Dizem-me que aprenderam a comer e muitas seguidoras procuraram ajuda com profissionais da área e, hoje, sentem-se cada vez mais fortes, saudáveis e felizes. Também recebo pedidos de ajuda, mas deixo sempre bem claro que a ajuda que posso dar é partilhando a minha história, os meus medos, as minhas falhas, tentado motivar da melhor forma possível e incentivar a serem a melhor versão de si mesmas. Tudo o que diga respeito a um plano alimentar ou sobre treinos, aconselho sempre a procurarem um profissional de saúde.
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