Dez anos de Latitid. "Queremos internacionalizar a marca"
A marca, que antes do nacional ser tendência já se orgulhava da sua produção 100% portuguesa, celebra uma década. Conversámos com uma das fundadoras sobre os primeiros tempos, o crescimento em ano de pandemia, as imitações e o futuro promissor.
© Latitid
Lifestyle Entrevista
Marta Fonseca não encontrava, num país com tanta costa, fatos de banho que lhe enchessem as medidas como do outro lado do Atlântico. Vai daí e começou a fazer os próprios modelos. Resultado: uma dessa criações foi a um concurso, ganhou e, em abril de 2013, nasce a Latitid, orgulhosamente feita em Portugal.
A irmã Inês, vinda da área de gestão, e a tia Maria Fernanda Santos, empresária têxtil, foram os elementos que faltavam para um projeto a seis mãos que ajudou a abrir um novo capítulo da história da moda de praia portuguesa. Um ano depois, a pedido da clientela, surgiu a Latitid Mini, com modelos para crianças. Há também quem insista numa coleção masculina, mas isso não está nos planos. "Iria desvirtuar a marca", diz Inês Fonseca, uma das fundadoras, durante uma conversa com o Lifestyle ao Minuto sobre a primeira década da Latitid.
Em 10 anos, tudo mudou. "Nesse primeiro ano produzimos mil peças. No último ano, foram feitas mais de 20 mil." Hoje, com a produção a bater recordes, um mercado maioritariamente português e uma loja online a dar cartas lá fora, pensam na internacionalização. Por enquanto, a data redonda é celebrada com uma coleção composta por 10 modelos icónicos, referentes a cada ano da marca.
Inês e Marta Fonseca© Latitid
A marca comemora os seus 10 anos e a data foi assinalada com o lançamento de novas peças. Em que consiste a coleção 'The Iconics'?
Ao contrário de todas as outras coleções, esta é inspirada na própria marca, porque revisita 10 modelos icónicos de biquínis e fatos de banho que nos marcaram ao longo desta década. Cada um deles tem três a quatro variações de cores ou padrões em licras estampadas ou lisas.
Mas as novidades não se ficam por aqui. Há também um livro.
Sim. Quisemos passar as memórias desta década para as páginas do livro '3650 Days of Sun'. É um livro que conta a história da marca de uma forma descontruída e maioritariamente através de fotografias. Lá dentro, conseguimos encontrar referências a todas as sessões fotográficas, as nossas inspirações, uma página dedicada a cada sócia e revelamos o 'backstage' da Latitid.
Embora digam que os nossos modelos pareçam simples, por vezes é na simplicidade que está a complexidade
Recuando uma década... Numa altura em que pouco ou nada se apostava em moda de praia em Portugal, como é que surgiu a ideia de criar a Latitid?
Tudo começou em 2012. Estava a trabalhar na Jerónimo Martins, a minha irmã [Marta] na Parfois e a Fernanda, que é nossa sócia, trabalhava como agente têxtil. Eu sempre quis ter o meu negócio e a Marta já desenhava fatos de banho para si, porque não encontrava em Portugal nada que se adequasse ao gosto dela. Foi então que começaram a perguntar-lhe porque é que não fazia modelos para vender e eu comecei a ver ali uma oportunidade de mercado. Temos seis meses de verão por ano, praia, uma costa espetacular e quisemos aproveitar essa mais-valia. Não entendia como é que naquela altura não existiam marcas portuguesas de moda de praia e tínhamos de ir buscar biquínis e fatos de banho ao Brasil quando até tínhamos boas fábricas têxteis cá dentro. Depois, falámos com a Fernanda e juntámo-nos. A minha irmã desenhou milhares de modelos. Vários nem chegaram a sair do papel. Muitos não se adequavam e outros não conseguíamos fazer por falta de fábricas com condições ou que acreditassem no projeto.
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Tem ideia de quantas peças produziram até hoje?
Para ter uma noção, posso dizer-lhe que nesse primeiro ano produzimos mil peças. No último ano, foram feitas mais de 20 mil.
Como é o processo desde o momento em que têm a ideia de um modelo até chegar às mãos dos clientes?
Começámos por fazer uma pesquisa de tendências e um 'moodboard'. Seguem-se os desenhos e a ida às fábricas para apresentar a coleção. É feito um protótipo e essa peça vai para teste até estar como queremos. De seguida, é produzida uma peça de amostra em cada licra e cor e faz-se a escala de tamanhos. A partir daí a coleção começa realmente a ser feita.
Falar da Latitid é falar dos destinos que vos inspiram.
Sim, sem dúvida. O nome surge da fusão das palavras latitude e atitude. Latitude porque vamos buscar inspiração em latitudes diferentes todos os anos. A primeira coleção foi inspirada na cidade do Porto, onde todas nascemos. Mas já nos inspirámos em Barcelona, Istambul, Londres... E atitude está justamente relacionado com a mensagem que queremos transmitir com a marca. Mulheres com atitude é, aliás, o mote da marca.
Está nos planos criar outra coleção inspirada em Portugal?
Este ano não, até porque não gostamos de repetir países, mas só o futuro o dirá.
Dizem que ajudam a criar processos de produção mais sustentáveis e benéficos ao país desde o primeiro dia. De que forma têm vindo a trilhar esse caminho cada vez mais 'eco-friendly'?
A Latitid não tem produção própria. Nós produzimos em fábricas que têm vindo a cumprir e a melhorar esses requisitos de sustentabilidade. O que fizemos internamente foi reduzir o uso de plástico. Substituímos as bolsas de plástico habituais para guardar os biquínis e fatos de banho por bolsas de pano, que podem ser reutilizadas como carteiras, por exemplo. São bolsas até colecionáveis, uma vez que existem em diferentes cores. Atualmente, as nossas licras estampadas são todas produzidas com fio reciclado, feito a partir de garrafas de plástico. Já os processos de impressão são feitos através de energia solar. E isso é algo em que já estávamos a apostar há, pelo menos, dois anos. Embora quiséssemos muito fazê-lo mais cedo, a oferta também não era muita, o toque não nos agradava particularmente e as cores eram insuficientes. Nada a ver com o que é possível ter hoje. Agora conseguimos estampar em licra reciclada e essa é, no meu entender, a grande diferença.
Uma década depois, a Latidid mantém uma linha muito 'clean'. A própria aposta em padrões é comedida desde o início.
Isso deve-se ao gosto da própria designer, a Marta, mas também ao facto de todas gostarmos muito de biquínis sem padrão e um pouco com a faixa etária para a qual comunicamos. Ao falar com algumas mulheres, sentimos que existia mesmo uma falha nesse sentido. Havia quem não conseguisse encontrar em Portugal biquínis lisos, com bons cortes e design apelativo para mulheres entre os 25 e os 55 anos. Ainda assim, temos bastantes estampados, ainda que talvez mais comedidos, como disse. Embora digam que os nossos modelos pareçam simples, por vezes é na simplicidade que está a complexidade. Para vestir bem é preciso tempo e investimento.
Todas as coleções da Latitid retiram inspiração de locais do mundo que nos marcaram e inspiraram
No seu entender, o que é que o biquini ou o fato de banho perfeitos têm de ter?
Um bom corte, licra de qualidade, conforto e, acima de tudo, versatilidade. A peça não pode ser estanque e isto é algo que eu própria tenho vindo a aprender. Quero com isto dizer que tanto devemos poder usar um top de biquíni na praia como para ir correr ou treinar e um fato de banho como bodies para sair à noite.
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Quem é a cliente Latitid?
É uma mulher com atitude, confiante, cosmopolita, que gosta de viajar, de praia e de simplicidade, mas que está atenta às tendências. Acima de tudo, isto é aquilo que queremos que seja com as nossas peças.
Recentemente, lançaram uma nova coleção. Porquê a Riviera Francesa?
Todas as coleções da Latitid retiram inspiração de locais do mundo que nos marcaram e inspiraram. A Riviera Francesa é um deles. Está envolta numa mística de glamour que nos transporta para a época dourada do cinema e das grandes musas de Hollywood e foi esse o conceito que quisemos transmitir na campanha.
O que tem de especial?
Em French Riviera, a estética retirou inspiração principalmente dos cortes dos anos 70. Pela primeira vez - e depois de ouvirmos os pedidos das nossas clientes - é possível comprar tamanhos diferentes para a parte de cima e parte de baixo dos biquínis. Este ano, introduzimos também um padrão com textura em turco, que se juntou às lycras brilhantes e tecidos que já são clássicos Latitid. Quando há uma marca que copia uma peça - que já aconteceu - é frustrante. Ao mesmo tempo, fico orgulhosa, porque é sinal que gostam. É o reverso da medalha
Numa altura em que o mercado português está inundado de marcas novas de 'swimwear', qual é o vosso maior trunfo?
É complexo apontar algo, mas diria que é a qualidade e o design.
E como lidam com as cópias?
Não adoramos, claro. Cada peça envolve muito trabalho e o trabalho custa dinheiro. Uma coisa é inspiração e outra é cópia. Quando há uma marca que copia uma peça - que já aconteceu - é frustrante. Ao mesmo tempo, fico orgulhosa, porque é sinal que gostam. É o reverso da medalha.
Depois da linha para crianças - a Latitid Mini -, pensam lançar peças para homem?
Não está nos nossos planos. De todo!
Em 2020, a Latitid reduziu a produção em 20% e mesmo assim cresceu. Foi algo que nos apanhou de surpresa
Porquê?
Creio que iria desvirtuar a marca. Nós nunca quisemos ser uma marca para toda a família, nem nada disso. A Latitid Mini é um apontamento.
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Sobre o último ano, a pandemia afetou o negócio?
Apesar de ter sido um ano desafiante, foi inacreditável a nível de vendas. Em 2020, a Latitid reduziu a produção em 20% e mesmo assim cresceu. Foi algo que nos apanhou de surpresa. Não esperávamos. E em 2021 crescemos 50%. Foi mesmo uma loucura! As pessoas estavam fechadas em casa a sonhar com o verão e com o convívio na praia. Pelo meio, o cliente mudou e a forma de comprar também. Quem nunca comprou online começou a fazê-lo e de forma exigente. Neste momento, temos uma pessoa inteiramente dedicada ao atendimento ao cliente na loja online.
Portanto, essa é uma das lições que a pandemia deixou.
Exatamente. E fez-nos perceber também que não adianta planear tudo e mais alguma coisa, porque pode sair tudo ao lado. Acima de tudo, a pandemia ensinou-nos a reinventar e ajudou-nos a pensar fora da caixa, mantendo a calma e acreditando que tudo irá correr pelo melhor.
A marca aproveita o inverno para apoiar várias causas sociais. Pretendem fazer disso um hábito?
É um caminho que temos vindo a percorrer e gostávamos de fazê-lo, pelo menos, uma vez por ano. Durante a pandemia, associámo-nos à Liga Portuguesa Contra a Fome com uma recolha de alimentos. A segunda foi com iMM – Laço Hub, um projeto que resulta de uma união entre o Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes e a extinta Associação Laço. Tivemos à venda um 'bucket hat' e doámos parte do valor das vendas
A que causa pretendem associar-se este ano?
Ainda não está definido, mas poderá estar relacionado com a Ucrânia.
O que esperam para os próximos 10 anos?
A verdade é que a pandemia fez-nos perceber que planear a longo prazo não é possível. Nunca nos passou pela cabeça que pudéssemos ter o crescimento que tivemos. No futuro, queremos internacionalizar a marca, através da loja online e de feiras, solidificar o mercado português e introduzir algumas novidades ao nível da roupa e acessórios.
Planeiam ter uma nova loja?
Para já, não. Mas aumentámos o espaço da loja de Lisboa, que fica na Embaixada, no Príncipe Real, que tem agora cinco provadores e um ponto de 'pick-up' para que as clientes que compram online não tenham de esperar em filas. Passaremos, ainda, a vender em alguns hotéis em Portugal, nomeadamente no Algarve.
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