A escola é o local onde as crianças e jovens passam a maioria do seu tempo. E quando falamos de estudantes do ensino superior, a exigência é ainda maior e a verdade é que, no meio da correria do dia a dia, a alimentação saudável passa muita vezes para segundo plano. Saltam-se refeições e corre-se o risco de não obter todos os nutrientes fundamentais para uma vida sã.
A solução? Refeições simples, de fácil e rápida confeção. "Enquanto pais, dar o exemplo em casa, oferecer e proporcionar uma alimentação nutritiva, saudável e diversificada e orientar a criança sobre o que deve ser priorizado e evitado na alimentação (e os motivos para tal), são alguns pontos de extrema importância", afirma a nutricionista Renata Miguéis, em entrevista ao Lifestyle ao Minuto, a propósito do Dia Nacional do Estudante, que se assinala esta sexta-feira, 24 de março.
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Como vai a alimentação nas escolas em Portugal?
Em constante evolução. Apesar de uma evolução mais lenta do que se gostaria e o que era de se esperar com medidas regulamentares para a disponibilidade de alimentos nos estabelecimentos de ensino existentes desde 2007, é um processo que está a evoluir dia após dia pela positiva, passando de orientações a obrigações para que as recomendações passem, de facto, à prática.
Medidas mais drásticas como a proibição da comercialização de certos alimentos ou até a aplicação de taxas são necessárias para direcionar escolhas e para que as orientações e recomendações sejam executadas
Considera que é possível ter boas refeições nos estabelecimentos de ensino?
Desde que as escolas em questão cumpram as normas vigentes e que estejam devidamente inscritas em sistemas, como o regime escolar, por exemplo, perfeitamente, uma vez que desta forma viabilizam, proporcionam e facilitam a alimentação saudável.
Entende que a escola deve proibir ou, pelo contrário, privilegiar a educação para uma alimentação mais saudável?
Num contexto ideal, era ótimo que a educação alimentar por meio de orientações e recomendações fosse suficiente para que as escolhas alimentares da população efetivamente se alterassem, mesmo em ambientes tentadores e repletos de alimentos que não são recomendados numa rotina alimentar. Por vezes, medidas mais drásticas como a proibição da comercialização de certos alimentos ou até a aplicação de taxas são necessárias para direcionar escolhas e para que as orientações e recomendações sejam executadas.
Concorda com as restrições à venda de hambúrgueres, sumos com açúcar adicionado e pizzas, por exemplo, nos bares das escolas e máquinas automáticas?
Sim, mas não como medida exclusiva. Além da proibição é necessário investir na educação nutricional da população. De nada adianta proibir se não fizer sentido ou se os argumentos para tal não forem fundamentados. Enquanto nutricionista e profissional de saúde, percebo perfeitamente a intenção destas medidas, mas pessoas leigas no tema ou quem lucra com a venda destes produtos, certamente não as compreendem e encaram-nas simplesmente como a restrição/privação de um direito.
O que estava a falhar nas cantinas escolares?
Em diversos estabelecimentos existia a disponibilização excessiva de alimentos não recomendados, além de irregularidades nas proporcionalidades de alimentos disponíveis para consumo. Iam contra as recomendações existentes para orientar o consumo alimentar em ambiente escolar, desde documentos de 2007, a 2012 e, ainda, 2018.
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Mas compete às escolas ter o papel de ensinar a comer de forma saudável? Isso não deveria ser da competência das famílias?
Ambos. Nenhum responsável pode responsabilizar terceiros para a educação de um menor, pois cada um deve cumprir o seu papel. Enquanto pais, dar o exemplo em casa, oferecer e proporcionar uma alimentação nutritiva, saudável e diversificada e orientar a criança sobre o que deve ser priorizado e evitado na alimentação e os motivos para tal, são alguns pontos de extrema importância. A escola, enquanto entidade, deve viabilizar a prática de todas as recomendações de alimentação saudável que devem ser trabalhadas em casa, além de fornecer informações sobre o papel e efeitos fisiológicos e de saúde num contexto de alimentação saudável, além de alertar para os malefícios de uma alimentação desequilibrada.
O ensino sobre alimentação saudável deve ocorrer nas salas de aula ou de forma prática nos próprios bares/refeitórios?
Os professores podem educar por exemplo, representatividade e educação, inclusive, fora da sala de aula. A educação nutricional é construída e lecionada não só por aulas, mas no dia a dia, por vivências e experiências. A teoria e a prática são formatos de ensino que se complementam. Criar regras para restringir certos alimentos nos bares e refeitórios e ter materiais disponíveis e visíveis nestes estabelecimentos, como a representação por imagem do que é um prato saudável, por exemplo, é fazer com que os estudantes visualizem e coloquem em prática o que aprendem em sala de aula sobre mecanismos de saciedade, o papel das fibras na alimentação e as funções dos macronutrientes (hidratos, gorduras e proteínas) no corpo humano.
Refeições equilibradas são aquelas onde os alimentos estão presentes em quantidades e qualidades ideais e que vão ao encontro das necessidades da população em questão
E os nutricionistas devem ser chamados a participar neste processo?
Claro. Conforme a própria classificação da Associação Portuguesa de Nutrição, o nutricionista é o profissional de saúde que desenvolve funções de estudo, orientação e vigilância sobre todos os temas relacionados à alimentação e nutrição. Por isso, é uma mais-valia envolver este profissional nas atividades de educação alimentar, quer sejam teóricas ou práticas. O nutricionista, se formador, pode participar ativamente no processo de educação por meio de aulas teóricas ou workshops práticos tendo por objetivo a promoção da saúde e do bem-estar e a prevenção e tratamento de doenças, de acordo com as respetivas regras científicas e técnicas, desmistificando muitos dos mitos existentes sobre o que é, de facto, uma alimentação saudável para a população em questão.
Pode partilhar sugestões de lanches saudáveis para crianças e jovens?
- Iogurte sem açúcar adicionado + peça de fruta inteira;
- Sanduíche em pão 100% integral sem açúcar com pasta de frango desfiado e queijo cottage e salada;
- Bolinhos caseiros assados de carne ou leguminosas com hortaliças + peça de fruta;
- Batidos de fruta com leite, bebida vegetal ou iogurtes sem açúcar + sementes;
- Ovos mexidos preparados com pouca gordura + pão 100% integral sem açúcar;
- Bolos e bolachas caseiras preparados com pouca adição de açúcar e, preferencialmente, com farinhas integrais + copo de leite.
O que devemos ter em conta quando preparamos lanches para os mais novos?
Refeições equilibradas são aquelas onde os alimentos estão presentes em quantidades e qualidades ideais e que vão ao encontro das necessidades da população em questão. Idealmente, os macronutrientes (proteínas, gorduras e hidratos de carbono) devem estar presentes de forma equilibrada na rotina alimentar. Além disso, o exagero deve ser evitado nas quantidades consumidas. Para ter lanches saudáveis e equilibrados, também faz parte evitar a presença constante de alimentos de baixo valor nutricional no dia a dia, como alimentos processados e ultraprocessados e com grandes quantidades de açúcares e gorduras, como fritos, panados, com natas e molhos, bolachas, bolos, gomas, sumos e refrigerantes, por exemplo.
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