É gordofobia? Pedimos a uma especialista para reagir a crónica polémica
Na sequência de uma crónica de um ex-jornalista considerada ofensiva e que muita tinta tem feito correr, a hipnoterapeuta Cátia Lopes, da clínica Dr. Alberto Lopes, no Porto, deixa vários alertas e explica o que se deve fazer para parar estes comportamentos.
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Lifestyle Body shaming
A polémica está instalada. Uma crónica de um ex-jornalista publicada no Correio da Manhã, comentando a forma física das apresentadoras de televisão Maria Botelho Moniz e Cristina Ferreira e defendendo que a imagem "é tudo" está 'debaixo de fogo'.
"Esteve há pouco de férias a apresentadora que se diz ter o lugar em risco na TVI – desde logo porque é a praia, talvez a única, em que Cristina Ferreira poderá voltar a ser feliz. Mas não é a inoportuna ausência com chuva no canal que me espanta, antes o facto de Maria Botelho Moniz não aproveitar a maior oportunidade profissional da sua vida para tratar da imagem", pode ler-se.
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O autor, Alexandre Pais, antigo diretor do desportivo Record (cargo que assumiu entre 2003 e 2013) e que, de acordo com a lista de profissionais do setor disponibilizada pela Comissão da Carteira Profissional de Jornalista, não possui carteira de jornalista, foi mais longe, considerando que a apresentadora "não estará na melhor estação para isso", tendo em conta o exemplo da diretora de entretenimento e ficção da TVI. "Basta ver como nas ‘galas’ de domingo a sua diretora [Cristina Ferreira], de mangas a cava, exibe - e ergue em vez de proteger - os braços tomados pela flacidez do tempo e da falta de ginásio".
Cátia Lopes© Clínica Dr. Alberto Lopes
Cristina Ferreira, que em 2021 foi acusada de gordofobia por ter partilhado um excerto da novela 'Festa é Festa', no qual a personagem de Inês Herédia, 'Nelinha', faz um comentário sobre mulheres gordas, não esconde a indignação. A apresentadora chega mesmo a ameaçar processar o cronista. "Decidiu tecer considerações sobre o corpo de duas mulheres de forma abjeta e reprovável. Alguém que decide utilizar o espaço que tem humilhando duas apresentadoras de televisão pela sua condição física comparando-as até a outras duas. Isto é inqualificável e merece, para mim, atenção judicial", escreveu na rede social Instagram.
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Desde então, cresce a onda de apoio a Maria Botelho Moniz e a Cristina Ferreira. Esta segunda-feira, dia 3 de abril, Iva Domingues, Nuno Eiró e Sara Sousa Pinto saíram em defesa das apresentadoras, no programa 'Esta Manhã', da TVI, emitindo uma nota de repúdio ao ex-jornalista. "Nunca nesta crónica se falou do trabalho em si ou da competência, apenas gordofobia no seu estado mais puro", disse Iva Domingues.
"Episódios deste género conduzem inevitavelmente ao aumento do preconceito contra o excesso de peso e da gordofobia", diz ao Lifestyle ao Minuto a hipnoterapeuta Cátia Lopes, da clínica Dr. Alberto Lopes, no Porto, licenciada em psicologia e mestranda em psicologia clínica e da saúde. A responsável adverte que o texto "enfatiza que devemos ser magros para sermos perfeitos e aceites socialmente, caso contrário ninguém vai gostar de nós" e "como todo o ser humano tem uma necessidade intrínseca de ser aceite, deixa-se levar por este tipo de preconceito para estar inserido num grupo e sentir-se parte de algo".
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Cátia Lopes não tem dúvidas de que, "infelizmente, vivemos uma era tóxica", onde "este tipo de artigos serve para fomentar o estigma, a discriminação e potenciar exponencialmente fenómenos de bullying entre os jovens". Receia, por isso, que estejamos a promover "uma nova geração com valores e princípios não éticos que ferem o conceito de liberdade".
"O 'gordo', na gordofobia assemelha-se ao 'anormal', havendo por isso uma estigmatização. Nos dias de hoje, não ter o corpo que é considerado o padrão de beleza ideal significa ser alvo de humilhação, discriminação, desprezo, discursos de ódios e exclusão social", o que "pode levar a vítima à depressão, gerar perturbações de ansiedade e um desequilíbrio psicofisiológico que faz com que engorde mais". "Muitas são as perturbações alimentares como a anorexia nervosa, a bulimia nervosa e a ingestão alimentar compulsiva que têm muitas das vezes origem nesta pressão social do perfeito magro", lamenta, alertando para a "falta de empatia" e "julgamento social excessivo".
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A hipnoterapeuta lembra que "peso corporal não é o passaporte para a felicidade". Devemos olhar para o corpo "como se fosse a nossa casa", aconselha.
Mais: "Ninguém sabe o que existe por detrás de cada pessoa com excesso de peso. Pode existir uma condição física ou psicológica de sofrimento. Ninguém deve apontar o dedo". "Partindo deste princípio que ninguém é melhor do que ninguém, a melhor forma de combater a gordofobia começa com a parentalidade, a educação em casa e também como programas que possam psicoeducar e sensibilizar a população geral para a temática", remata.
[Notícia atualizada às 15h45]
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