Titan. E quando não há corpo para velar no último adeus?
Uma especialista contactada pelo Lifestyle ao Minuto alertou para o impacto que esta situação tem na saúde mental dos enlutados.
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Lifestyle Luto
É preciso ver para crer. Não ter um corpo para velar é um fenómeno com grande implicação no processo de luto. "Independentemente da cultura e sociedade em que ocorre, pode tornar o processo de luto mais difícil e patológico", afirma Cátia Lopes, licenciada em psicologia e hipnoterapeuta da Clínica Dr. Alberto Lopes, no Porto, contactada pelo Lifestyle ao Minuto, a propósito da morte dos tripulantes do submarino que implodiu durante uma visita aos destroços do Titanic.
A falta do corpo põe em causa o processo que ajuda a enfrentar a dor. E isso não tem apenas um impacto imediato. "Torna a aceitação da perda mais complexa e pode resultar num pior ajustamento e reposicionamento para continuar a vida", diz. "O luto corre o risco de tornar-se patológico e deixar sequelas clinicamente significativas, que interferem com o equilíbrio e atividades da vida diária, que, se não forem tratadas, podem constituir quadros psicopatológicos mais graves, como ansiedade, depressão, stress de separação e stress traumático."
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Sendo uma certeza e um acontecimento natural, "a morte ainda nos dias de hoje é um assunto complexo e difícil de ser abordado para a generalidade das pessoas". Para a especialista, "continua a ser uma encarada como uma espécie de tabu".
Cátia Lopes© Clínica Dr. Alberto Lopes
Destacando que "o tipo de ligação afetiva, o grau de parentesco e também a forma como a pessoa morre são fatores que influenciam o luto normal ou patológico", acrescenta que outro aspeto a ter em conta são "os recursos internos que cada individuo possui, bem como a religião que segue". "No budismo, por exemplo, existe a crença de vida para além da morte e o hinduísmo defende a reencarnação, pelo que olha para a morte como algo que não é irreversível, o que pode facilitar o processo de luto normativo." Independentemente de tudo isso, "a morte é sempre um evento stressante e o luto um processo doloroso".
Para que possa ser ultrapassado da forma menos dolorosa possível, Cátia Lopes recomenda a procura pelo apoio. "Devemos exprimir as nossa emoções. Quando as reprimimos o processo não é integrado de maneira normativa e pode ocorrer um impacto no funcionamento cognitivo, emocional e psicossomático na pessoa", alerta.
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A hipnoterapeuta sublinha que não existem duas formas iguais de viver esta tristeza. No luto normativo "existe uma janela de tempo que varia de pessoa para pessoa, em que ocorre a expressão emocional, aceitação da perda, ajustamento e reposição na vida após a perda".
Todavia, "quando não ocorre a aceitação da perda, a dor não é ultrapassada e há comprometimento significativo da vida do enlutado". Nessas situações, podemos estar perante uma situação de luto patológico, que depende da ligação emotiva, das características de personalidade do enlutado, crenças em relação à morte, história de múltiplas perdas, falta de suporte familiar e historial de depressão, ansiedade ou perturbação de stress pós-traumático. E é aqui que entra a importância da terapia, ao "auxiliar a travessia deste processo chamado luto", remata.
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Serviços telefónicos de apoio emocional em Portugal
SOS Voz Amiga (entre as 16 horas e as meia-noite) - 213 544 545 (número gratuito) - 912 802 669 - 963 524 660
Conversa Amiga (entre as 15 e as 22 horas) - 808 237 327 (número gratuito) e 210 027 159
Telefone da Esperança (entre as 20 e as 23 horas) - 222 080 707
Telefone da Amizade (entre as 16 e as 23 horas) – 228 323 535
Todos estes contatos garantem anonimato tanto a quem liga como a quem atende. No SNS24 (808 24 24 24), o contacto é assumido por profissionais de saúde. Deve selecionar a opção 4 para o aconselhamento psicológico. O serviço está disponível 24 horas por dia, sete dias por semana.
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