Olga Carmona ficará para a história como a autora do golo que deu a primeira vitória de sempre de Espanha no Mundial de Futebol Feminino, este domingo, no Estádio Olímpico de Sydney, na Austrália. A jovem de 23 anos dedicou a conquista à mãe de uma das suas melhores amigas, recentemente falecida. Pouco depois dos festejos, foi informada da morte do próprio pai.
A decisão de comunicar a notícia apenas depois do jogo partiu da família e dos amigos mais próximos. A questão que se impõe é: contar ou não contar. Contactada pelo Lifestyle ao Minuto, a psicóloga clínica Melanie Viola Tavares é perentória: "Saber antes não iria contribuir em nada para minimizar a dor. Foi a melhor decisão". "Quando se passa por uma situação de luto de alguém muito próximo, os neurotransmissores sofrem uma alteração e há um desiquilíbrio naquilo que é a serotonina e a dopamina. Iria seguramente afetar o rendimento da atleta", explica.
A mesma opinião é partilhada pela psicóloga Ana Filipa Eustáquio, que defende que "receber a notícia antes do jogo, por melhor preparada que estivesse, afetaria o seu desempenho. A família teve uma decisão muito difícil em mãos". A especialista faz também questão de sublinhar que a notícia da morte de um familiar "deve sempre ser dada com alguma cautela, num ambiente protetor e por pessoas que, em termos emocionais, estejam ligadas ao indivíduo em causa".
Melanie Viola Tavares teme que a morte do progenitor possa gerar um sentimento de culpa em Olga, "por ter sentido felicidade enquanto acontecia algo tão trágico com a família". "Há um conflito emocional. A vitória vai estar sempre associada a uma dor e ao momento traumático da perda do pai. Essa dissociação nunca deixará de existir", crê.
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"A atleta deve tentar gerir a perda, a dor e toda a tristeza, mas sem nunca deixar de valorizar o momento especial e feliz da carreira", considera. Até porque, no seu entender, esta situação "pode ter um efeito galvanizador dependendo da forma como a jogadora integrar este episódio na sua vida". "Isolamento, absentismo laboral, dificuldade em falar sobre aquilo que sente e choro fácil são indicadores de que a pessoa não está a lidar bem com o processo de luto", alerta.
Lembrando que cada luto é individual e único, a psicóloga Ana Filipa Eustáquio lembra que "não há um padrão linear". "É uma dor intensa emocionalmente e obriga a um processo de adaptação para uma nova realidade."
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Todos estes contatos garantem anonimato tanto a quem liga como a quem atende. No SNS24 (808 24 24 24), o contacto é assumido por profissionais de saúde. Deve selecionar a opção 4 para o aconselhamento psicológico. O serviço está disponível 24 horas por dia, sete dias por semana.
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