Não, a maternidade nem sempre é assim tão cor-de-rosa como nos levam a acreditar. As alterações hormonais e corporais deixam marcas, algumas delas invisíveis. A transição de mulher para mulher-mãe "pode ser uma experiência avassaladora", afirma a psicoterapeuta Liliana Jesus Coelho ao Lifestyle ao Minuto.
Numa fase inicial, os tempos são de adaptação e de "redefinição de identidade". "Há competências que a sociedade espera que a mulher já tenha desenvolvido" e, em alguns casos, a gestão emocional a ser feita pode, nas palavras da especialista, "ser esmagadora e desafiante". O que acontece é que "algumas mulheres podem sentir dificuldade em conciliar os diferentes papéis que desempenham na vida e encontrar um equilíbrio saudável entre ser mãe e simplesmente uma mulher".
Ainda nesse sentido, alerta que "a constante negligência das suas próprias necessidades também pode afetar negativamente os relacionamentos interpessoais, seja com o parceiro, filhos, amigos ou colegas de trabalho". "Passam a ser mães, mas não deixam de ser mulheres", pelo que "necessitam de reservar um tempo para si mesmas, cuidando de sua saúde mental e bem-estar", defende. "É importante que as mulheres sejam gentis consigo mesmas durante esse processo."
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Para contrariar eventuais sentimentos de culpa e angústia, a especialista vinca que as mulheres devem "cultivar uma atitude de amor-próprio ao invés de se criticarem severamente". "Reavaliar expectativas e adotar uma abordagem mais realista e flexível pode ajudar a reduzir a pressão auto imposta e promover uma maior aceitação de si mesma", diz.
"Conversar com outras mães, ter apoio de profissionais de saúde mental, como psicólogos ou terapeutas, e comunicar as suas necessidades com parceiros, familiares e amigos também são passos importantes para se reencontrar após a maternidade", defende. Ainda assim, lembra que "cada mulher tem o seu próprio caminho nesse processo".
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São "transições naturais da vida", acrescenta. "É importante que as mulheres tenham o apoio necessário para atravessar essas fases com compreensão, paciência e cuidado consigo mesmas. Falar abertamente sobre as emoções e os desafios enfrentados durante essas transições pode ajudar a tornar o processo mais suave e satisfatório."
Além disso, "promover uma cultura de apoio e empatia em relação às mulheres após a maternidade é essencial". Isso envolve "desafiar estereótipos e expectativas prejudiciais em relação à maternidade, reconhecendo que as mulheres são seres que merecem ter as suas necessidades atendidas".
Utilizando o termo 'crise de identidade' para se referir a este conflito interior, Catarina Lucas, psicóloga e diretora do Centro Catarina Lucas, explica que estas mudanças "desafiam a compreensão da mulher sobre quem ela é e o seu lugar no mundo". E, continua: "A mulher pode questionar a sua identidade anterior, as suas prioridades, objetivos e até mesmo a sua autoimagem, à medida que se ajusta ao papel de mãe e lida com as mudanças físicas, emocionais e sociais associadas à maternidade".
"Não há uma maneira única de se reencontrar após a maternidade e é importante que cada mulher encontre um equilíbrio que seja gratificante e significativo para ela", conclui.
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Serviços telefónicos de apoio emocional em Portugal
SOS Voz Amiga (entre as 16 horas e as meia-noite) - 213 544 545 (número gratuito) - 912 802 669 - 963 524 660
Conversa Amiga (entre as 15 e as 22 horas) - 808 237 327 (número gratuito) e 210 027 159
Telefone da Esperança (entre as 20 e as 23 horas) - 222 080 707
Telefone da Amizade (entre as 16 e as 23 horas) – 228 323 535
Todos estes contatos garantem anonimato tanto a quem liga como a quem atende. No SNS24 (808 24 24 24), o contacto é assumido por profissionais de saúde. Deve selecionar a opção 4 para o aconselhamento psicológico. O serviço está disponível 24 horas por dia, sete dias por semana.
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