Cinco anos após o seu desaparecimento, Karl Lagerfeld (1933-2019) continua a dar que falar. A vida e a genialidade do kaiser da moda, conhecido pelo seu espírito politicamente incorreto, aparência exuberante e criações de luxo, deram o mote à muito aguardada série 'Becoming Karl Lagerfeld', que estreou na Disney+ no início deste mês.
Adaptada da biografia 'Kaiser Karl', da jornalista do Le Monde Raphaëlle Bacqué, esta minissérie de seis episódios, produzida pela Gaumont e pela Jour Premier, transporta-nos para a Paris dos anos 70. É uma história de amores, traições, intriga e de ambição. Tem início quando Lagerfeld (Daniel Brühl) já trabalhava na Chloé, onde esteve durante dois períodos: de 1963 a 1983 e de 1992 a 1997.
Com 38 anos, Karl (nascido Karl-Otto Lagerfeldt) era um mercenário do pronto-a-vestir e um nome desconhecido no mundo da moda. Bem longe do homem que viria a ficar eternizado pelo seu cabelo impecavelmente branco, o colarinho alto, as luvas sem a ponta dos dedos e os seus óculos escuros. Uma imagem de marca fabricada ao detalhe por si.
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Na época, os olhos da indústria estavam todos postos no seu ex-amigo Yves Saint Laurent (Arnaud Valois), que era já um génio da alta costura. Foi por essa altura que Karl conheceu Jacques de Bascher (Théodore Pellerin), o seu eterno companheiro de vida. Mais tarde, veio a saber-se que Bascher manteve um relacionamento com Lagerfeld e Saint Laurent ao mesmo tempo, o que espicaçou o choque de egos entre os dois estilistas, algo retratado na série.
Em declarações ao Lifestyle ao Minuto, nas vésperas da estreia da produção, a argumentista Isaure Pisani-Ferry fez questão de frisar que "não se trata de uma série biográfica". "Abrange um período de dez anos e centra-se numa fase muito particular da vida quer profissional como pessoal de Karl", muito antes de se ter tornado um ícone da moda a nível mundial. "É sobre a relação que tem consigo mesmo, a sua necessidade de controlar o que as pessoas percecionavam e sabiam dele, a forma como se apresentava ao mundo e o que escondia dele. Karl era uma pessoa extremamente secreta aos olhos de todos."
Também a jornalista Raphaëlle Bacqué corrobora, dizendo que a série "não é uma história sobre moda". "Ele [Karl] foi uma pessoa muito secreta à frente do mundo, mais inteligente e menos talentoso do que Yves Saint Laurent, mas mais disciplinado. Queria ser famoso e era, na realidade, muito poderoso", refere também.
Lagerfeld morreu antes de a sua biografia ser lançada. Bacqué conta que "a investigação decorreu em dois momentos: um quando ele ainda estava vivo e após a sua morte". "Da segunda vez, foi mais fácil encontrar testemunhos reais", recorda, sublinhando que, "enquanto jornalista, foi muito interessante encontrar a verdade por detrás da lenda".
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"Estamos todos fascinados por este personagem. Temos todos uma paixão por este homem", confessa o realizador Jérôme Salle, para quem Karl "foi, de certa forma, o primeiro influencer". "Teve muita influência no mundo em que vivemos. A sua marca é o seu nome. Tornou-se um ícone, gostando-se ou não."
Sobre a escolha do ator espanhol Daniel Brühl, que interpreta Lagerfeld na série, revela: "Sem ele talvez não estivéssemos aqui. Não tínhamos um plano B".
Daniel Brühl e Théodore Pellerin nos papéis de Karl Lagerfeld e Jacques de Bascher, respetivamente© Becoming Karl Lagerfeld
Karl mudou-se para Paris, em 1953, com a mãe. Foi lá que se formou em desenho e história. Um ano depois, venceu um concurso de casacos promovido pela Secretaria de lã Internacional. Não tardou muito até iniciar a sua carreira como aprendiz de Pierre Balmain, de quem foi assistente. De lá, mudou-se para a Jean Patou, em 1958, onde esteve durante cinco anos. Nesse ano, apresentou a sua primeira coleção, usando o nome de Roland Karl. Seguiu-se a Chloé, em 1964, onde começou a dar nas vistas. Em 1967 já era diretor criativo da casa francesa e, pouco depois, a Fendi contratou-o.
Chegou à Chanel em 1983, onde fez nome durante quase quatro décadas e influenciou várias gerações de outros criadores. Karl desenhava 14 novas coleções por ano e transformava os seus desfiles em espetáculos. Era um dos momentos mais esperados a cada estação.
Fundou a sua sua marca homónima em 1984. A etiqueta viria a ser vendida, em 2025, ao grupo Tommy Hilfiger.
Karl Lagerfeld, em março de 1987, no seu estúdio de moda. © Pierre Guillaud/AFP via Getty Images
Karl Lagerfeld nasceu em Hamburgo, na Alemanha, a 10 de setembro de 1933, filho de um empresário produtor de leite e de uma vendedora de lingerie. Morreu a 19 de fevereiro de 2019, aos 85 anos, no Hospital Americano de Paris, vítima de cancro do pâncreas. Não se conhecem herdeiros do criador, além da gata Choupette.
Karl chamava 'choupettes' às suas modelos preferidas, em homenagem à sua gata de estimação. Portugal chegou a estar representado pela modelo Maria Miguel no desfile de outono-inverno 2018/2019 da Chanel.
Lagerfeld acompanhado por Helena Christensen, Claudia Schiffer e Cindy Crawford no desfile de alta-costura da Chanel, em janeiro de 1993, em Paris© Pool Arnal-Picot/Gamma-Rapho via Getty Images
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