De norte a sul do país, não faltam areais abertos a animais de companhia durante a época balnear (todos os anos definida em portaria publicada em Diário da República). Isto já para não falar das praias não-concessionadas, onde os cães podem ir a banhos à vontade, a menos que haja sinalização municipal a impedir a circulação e permanência de patudos. Quando assim o é, sujeita-se ao pagamento de coima. Depois, há os cuidados a ter quando levamos os nossos 'cãopanheiros' à praia, pelo bem deles e dos veraneantes.
Vamos por partes. Em primeiro lugar, certifique-se que o animal está apto para passar o dia com as patas na areia e a chapinhar na água do mar. Os cães devem ter as vacinas em dia (o protocolo vacinal está completo por volta das 16 semanas de idade). Desta forma, "estará a protegê-lo contra doenças infeciosas graves e, consequentemente, garante que o sistema imunológico se mantém forte para combater infeções, além de zelar pela saúde pública e a de outros animais", começa por apontar Patrícia Cachola, diretora clínica do AniCura Algarve Hospital Veterinário, ao Lifestyle ao Minuto.
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Para que nada falhe, faça uma lista de objetos essenciais, na qual deve constar um guarda-sol, para manter uma área de sombra, água fresca e, em alguns casos, protetor solar são alguns deles.
Cães também apanham escaldões
À semelhança do que é pedido à população, os animais também devem evitar a exposição ao sol durante os períodos de maior calor, nomeadamente entre as 11 e as 17 horas. O médico veterinário Nuno Paixão, do Hospital VetCentral, vai mais longe nas recomendações: "No caso dos cães de pelo curto e pelagem branca, o cuidado com o sol deve ser maior. Se tiver pelagem grande, mais escura, não há tanto risco de apanhar sol, mas aquece rápido".
Menos consensual é o uso de protetor solar. O tema divide opiniões. Patrícia Cachola considera-o dispensável, "exceto se o cão for de coloração branca". "Nesses casos, deve colocar-se protetor nas orelhas e na transição da mucosa do nariz com a pele", frisa.
Por outro lado, a médica veterinária Mariana Fonseca, da ZU, entende que deve ser aplicado nas zonas do corpo do animal onde existe menor densidade de pelos e a pele está mais exposta, como orelhas e plano nasal. "Se tiver pelagem curta, branca ou clara, o cuidado deve ser maior", acautela ainda, explicando que "são animais mais suscetíveis a sofrer queimaduras solares".
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A própria areia pode causar queimaduras nas almofadas plantares dos cães (o tecido sem pelo nas patas). "Se não é confortável para nós, é legitimo admitir que não o será para eles", argumenta o médico veterinário Nuno Paixão, do Hospital VetCentral.
Além disso, "o calor excessivo e a atividade num dia praia podem levar a um sobreaquecimento do animal e originar um golpe de calor", avisa Mariana Fonseca. Frequência cardíaca e respiratória aceleradas, pele muito quente, salivar excessivo, tremores, mucosas avermelhadas, vómitos, diarreia, estado avançado de descoordenação, confusão mental, prostração, convulsões e coma são os principais sinais de que algo não está bem. Em casos extremos, pode mesmo levar à morte.
A especialista deixa ainda alguns recados: "Cães muito jovens, geriátricos, com excesso de peso, problemas cardíacos e respiratórios, assim como animais braquicéfalos, ou seja, com crânio encurtado, têm tendência a ser mais suscetíveis a sofrer um golpe de calor. Por isso, uma ida à praia deve ser bem ponderada e planeada".
O também provedor dos Animais da Câmara Municipal de Almada, Nuno Paixão, revela que os patudos de focinho para dentro, como o bulldog e o boxer, "correm um maior risco de sobreaquecer, uma vez que não respiram de forma adequada". Nestes casos, os sinais de sobreaquecimento podem ainda incluir arfar, respiração ofegante e pele muito quente. "O cão deve ser retirado de imediato do sol, molhado com água fresca e colocado, pelo menos, na sombra. Se não melhorar, deve ir de imediato ao hospital veterinário mais próximo."
Todos sabem nadar?
O especialista defende ainda que é errado assumir que todos os patudos são bons nadadores. "O afogamento pode ocorrer e não é assim tão raro."
"Apesar de existirem raças de cães que gostam de água e de nadar, existem outras que são mais receosas", reforça Mariana Fonseca. A responsável da ZU é muito clara: "Um cão que tenha medo de entrar no mar não deve ser forçado a fazê-lo". "O tutor deve incentivá-lo aos poucos. Se o cão ficar nervoso ou intimidado, devemos afastá-lo até à areia e calmamente incentivá-lo a aproximar-se ao seu ritmo."
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Mesmo os cães mais confiantes "devem ser sempre vigiados enquanto permanecerem na água". Para a especialista, os tutores devem considerar o uso de coletes salva-vidas.
Por sua vez, Patrícia Cachola, do AniCura Algarve Hospital Veterinário, lembra que há cães com características físicas que dificultam a natação, como "pernas curtas ou corpos pesados". "A maioria dos buldogues franceses não consegue nadar devido à sua estrutura corporal."
Quanto à ingestão de água salgada e areia, é altamente desaconselhada. "Contêm muito sódio e podem levar a desequilíbrios eletrolíticos que podem provocar gastroenterites graves e até mesmo desidratações severas, bem como obstruções intestinais", diz.
Sobre a necessidade de banho após um dia de praia, os três especialistas ouvidos pelo Lifestyle ao Minuto concordam que é essencial para retirar todo o sal, areia e sujidade dos pelos e da pele. No caso de cães que frequentam muito a praia, a médica veterinária Mariana Fonseca admite que possa "não ser necessário tomar banho com champô todos os dias". "Pode ser dado um banho somente com água limpa."
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