Separemos as águas. A que bebe diariamente pode não ser a melhor para si

Acha que sabe tudo sobre água? Escolhe a que bebe ou aceita uma 'qualquer'? Numa altura em que o calor aperta e a sede é uma constante, o Lifestyle ao Minuto esteve à conversa com a nutricionista Fernanda Marques.

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Ana Rita Rebelo
28/08/2024 08:30 ‧ 28/08/2024 por Ana Rita Rebelo

Lifestyle

Entrevista

É essencial para a vida na Terra e para a nossa saúde (o nosso corpo é 60% a 85% água). Ainda assim, uns preferem da torneira, outros engarrafada. Discussões à parte, fique o leitor a saber que uma hidratação adequada é um dos hábitos mais importantes que devemos ter. Para a nutricionista Fernanda Marques, isso é 'claro como água'. 

 

No entanto, também é verdade que não existem duas águas iguais e, como tal, não são todas adequadas a qualquer pessoa ou estilo de vida. Em entrevista ao Lifestyle ao Minuto, a especialista de nutrição da Clínica Pilares da Saúde assume-se defensora da água mineral natural. "É, sem dúvida, a melhor opção", afirma.

Qualquer água vai ser sempre melhor do que não ingerir nenhuma

Que tipos de água existem e quais as principais diferenças?

Em primeiro lugar, existe a água mineral, retirada de fontes hidrominerais de áreas protegidas de poluição e, normalmente, riquíssimas em nutrientes. Mas cada fonte pode ter composições diferentes desses minerais, sejam eles magnésio, sódio, potássio... E isso difere entre uma água e outra. Temos também a água mineral com gás, que é uma água de fonte natural com dióxido de carbono, naturalmente gaseificada. E há ainda a água gaseificada, que é originada a partir da água mineral e passa por um processo artificial de gaseificação.

Notícias ao Minuto © Nutricionista Fernanda Marques, da Clínica Pilares da Saúde

E há um tipo de água mais benéfico para a nossa saúde?

Em primeiro lugar, é importante ressalvar que qualquer água vai ser sempre melhor do que não ingerir nenhuma. No entanto, a água mineral pura, diretamente da fonte, é, sem dúvida, a melhor opção. Ainda que exista pouca evidência que defina exatamente qual a melhor água para a saúde. Nesse sentido, diria que é importante analisar alguns fatores para selecionar uma água que traga mais benefícios.

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Tais como?

É importante considerar que a maioria das águas tem os seus prós e contras e selecionar a opção que, no seu caso e fase de vida, traga mais benefícios.

Que aspetos devemos ter em conta?

Vamos por partes. Normalmente, a água tratada possui cloro. Isso faz com que a água se mantenha microbiologicamente adequada. Entretanto, esse cloro deve ser retirado antes do consumo. Por isso, uma água com menor teor de cloro é mais indicada. Por sua vez, uma água engarrafada é tratada e uma boa opção. No entanto, o engarrafamento é habitualmente feito em garrafas de plástico que libertam muitos compostos químicos na água e causam prejuízos para a saúde.

Sendo que essa é uma questão muito na ordem do dia.

Sim. Até porque se sabe que a exposição humana ao bisfenol A [BPA] e ftalatos, compostos presentes no plástico, são um problema de saúde pública, e podem estar na origem de perturbações endócrinas, tumores e infertilidade. Por outro lado, a água da torneira em Portugal é analisada quanto à presença de microrganismos e é indicada para consumo. No entanto, este tratamento não lhe retira metais pesados como o alumínio e cobre e, por isso, pode não ser a melhor opção. Ainda assim, existem alguns filtros com carvão ativado que retiram o cloro e alguns com osmose reversa que conseguem diminuir os metais pesados. A opção de água é aquela com menos resíduos e, por isso, utilizar água mineral filtrada engarrafada em vidro, filtros de barro ou com osmose reversa parecem ser as melhores opções. Escolher uma água de qualidade, não contaminada, é importantíssimo para a saúde.

Uma água com pH mais alcalino é mais oxidante e isso poderia ser um fator interessante. Ainda assim, a água alcalina por si só não tem uma capacidade significativa de neutralização de ácidos, por isso não deve ser a primeira questão a ser analisada

Quais os riscos da água contaminada?

Alguns dos principais produtos químicos conhecidos como contaminantes da água são desreguladores endócrinos, como subprodutos de desinfeção, substâncias fluoradas, bisfenóis, ftalatos, pesticidas e estrogênios naturais e sintéticos que podem estar relacionados com alterações endócrinas, por exemplo. Por outro lado, o excesso de cloro também pode afetar o sistema nervoso central, aumentar o risco de neoplasias e prejudicar o rim e fígado.

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Há quem afirme que devem preferir-se as águas alcalinas, com um pH superior a 7. É assim ou isso não passa de um equívoco?

A Organização Mundial de Saúde e a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos recomendam que o pH da água potável não exceda 8,5-9,5. Uma água com pH mais alcalino é mais oxidante e isso poderia ser um fator interessante. Ainda assim, a água alcalina por si só não tem uma capacidade significativa de neutralização de ácidos, por isso não deve ser a primeira questão a ser analisada. Esse pH não chega às nossas células. Os resíduos sim. Alguns estudos demonstram que uma água mais alcalina (com pH mais alto) pode trazer alguns benefícios, principalmente a nível gástrico e pelo efeito antioxidante que possui, mas o excesso de alcalinidade pode contribuir para o desenvolvimento de uma hipercalemia [que consiste no aumento dos níveis de potássio no sangue] até uma redução da absorção de nutrientes. 

Para terminar a nossa conversa, a pergunta que não quer calar: afinal, qual a quantidade ideal de água que devemos ingerir diariamente? Beber dois litros por dia é regra?

Primeiramente, é de sublinhar que a água é o nutriente que o corpo mais precisa. Como tal, a quantidade de água ingerida é fundamental para que o organismo funcione de maneira adequada. Existe um cálculo que nos consegue dar uma quantidade média de água a ser consumida por dia: 35 mililitros a multiplicar pelo peso da pessoa em questão. Esta seria a necessidade diária.

É o estilo de vida que determina quanto de água devemos beber?

Sim. Existem alguns fatores que podem aumentar a necessidade de água. Quem pratica atividade física, por exemplo, precisa de mais água para se manter hidratado. O mesmo acontece em dias de calor. De todo o modo, a ingestão de água - seja ela qual for - é essencial para hidratar, nutrir e desintoxicar o nosso organismo. Sintomas como fraqueza, cansaço, intestino preso, urina amarelo escura e dores articulares são sintomas de desidratação a que devemos estar atentos.

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