"É crucial refletir sobre as muitas dimensões que afetam o bem-estar psicológico das pessoas, uma delas sendo o impacto que o diagnóstico de infertilidade e os tratamentos de procriação medicamente assistida (PMA) podem ter na saúde emocional dos casais e, em particular, das mulheres.
Embora a ciência tenha avançado significativamente no campo da reprodução, os desafios emocionais que acompanham este processo continuam a ser muitas vezes invisíveis.
Leia Também: Cinco atitudes que pioram a ansiedade (e como evitá-las!)
Para muitas pessoas, o desejo de ter filhos é algo natural, intrínseco e, até certo ponto, tomado como garantido. A dificuldade em conceber surge frequentemente como uma surpresa triste, que vai além da dimensão física.
O diagnóstico de infertilidade, muitas vezes inesperado, pode abalar a autoestima, gerando um sentimento de inadequação e falha pessoal. A pressão interna e social em torno da parentalidade exacerba essa sensação, desencadeando sintomas de ansiedade.
Susana Martinho© Procriar
A PMA surge como uma esperança, mas pode ser uma jornada emocionalmente exigente. O processo, que envolve uma série de decisões e incertezas exige dos casais uma resiliência mental enorme. A ansiedade gerada pela incerteza do resultado, combinada com a pressão de "tentar de tudo", cria um ambiente emocionalmente exigente.
Além disso, o processo da PMA também pode levar a uma dificuldade na comunicação entre casais. A falta de sintonia emocional ou a dificuldade em partilhar angústias e frustrações pode afetar a relação. Por isso, uma comunicação aberta e constante é essencial para garantir que ambos os parceiros estão alinhados em cada fase do processo, compartilhando emoções e expectativas.
Leia Também: O leitor perguntou: A doença de Crohn tem relação com a fertilidade?
Outro ponto vital é a necessidade de apoio psicológico durante e após o tratamento. A saúde mental não pode ser dissociada da saúde física, especialmente num processo tão sensível. O acompanhamento psicológico ajuda a lidar com os pensamentos de frustração ou tristeza que surgem, fornecendo ferramentas para que os casais possam enfrentar os desafios de forma mais equilibrada.
Muitas vezes, os casais ou as mulheres que passam por este processo sentem-se isolados. Ter uma rede de apoio, seja da família, amigos ou de grupos de apoio especializados, pode fazer uma diferença substancial na forma como lidam com o stress e a ansiedade. Esta rede proporciona um espaço seguro para expressar medos e frustrações sem medo de julgamento.
Por fim, é essencial destacar a importância da informação e da educação sobre os processos de PMA. O conhecimento é um aliado poderoso contra a ansiedade, permitindo que os casais compreendam as diferentes etapas e saibam o que esperar em cada fase.
Leia Também: Estudo revela que a poluição pode aumentar risco de infertilidade
Além disso, estar informados sobre a possibilidade de preservação da fertilidade através da criopreservação de óvulos oferece às mulheres maior controlo sobre o seu futuro reprodutivo, especialmente em casos de doenças, ou quando o contexto social e profissional leva ao adiamento da maternidade.
Em suma, os desafios emocionais da infertilidade e dos tratamentos de procriação medicamente assistida são reais. Por esse motivo, é fundamental que os casais sejam apoiados emocional e psicologicamente durante esta jornada, e que a sociedade em geral reconheça a complexidade emocional que envolve este processo. Neste Dia Mundial da Saúde Mental, é imperativo destacar a importância de cuidar da mente tanto quanto do corpo, e proporcionar o suporte adequado àqueles que enfrentam esta caminhada."
Leia Também: Cansaço ou algo mais? Três sinais de 'burnout' que não deve ignorar