Luigi Mangione. É normal romantizar crimes? Falámos com um neuropsicólogo

Já deve ter ouvido falar do caso de Luigi Mangione, o homem que está a ser acusado de matar Brian Thompson, CEO da seguradora de saúde norte-americana UnitedHealthcare. Causou múltiplas reações online que nem todos consideram apropriadas. Falámos com Alberto Lopes, neuropsicólogo das Clínicas Dr. Alberto Lopes no Porto, em Aveiro e em Lisboa.

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Margarida Ribeiro
23/12/2024 07:52 ‧ há 3 horas por Margarida Ribeiro

Lifestyle

Saúde Mental

Já deve ter reparado que o nome Luigi Mangione tem estado nas 'bocas do mundo' e não pelas melhores razões. É o principal suspeito da morte de Brian Thompson, CEO da seguradora de saúde norte-americana UnitedHealthcare, e, ao longo dos últimos dias, tornou-se numa espécie de 'estrela' nas redes sociais. 

 

Mangione, um jovem de 26 anos, enfrenta uma acusação federal passível de pena de morte e na internet, as piadas, os comentários e os 'memes' aumentam a cada dia. Muitas das reações focam-se no crime que aconteceu em plena via pública em Nova Iorque, nos Estados Unidos. 

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Já outras mencionam o aspeto físico do alegado homicida e, aliás, muitos internautas têm vindo a revelar a atração que sentem por Luigi Mangione. É uma reação normal? Estamos a ficar dessensibilizados em relação a acontecimentos violentos? Existe a tendência de romantizar alguns crimes e quem os comete?

Para esclarecer as dúvidas, o Lifestyle ao Minuto fez estas e outras perguntas a Alberto Lopes, neuropsicólogo das Clínicas Dr. Alberto Lopes no Porto, em Aveiro e em Lisboa.

Do ponto de vista psicológico, este humor negro funciona como um mecanismo de defesa: é uma forma de as pessoas lidarem com a ansiedade que a violência provoca

Notícias ao Minuto © Alberto Lopes

Hoje em dia, certos acontecimentos como homicídios, causam rapidamente alvoroço nas redes sociais e levam a muitas reações, piadas e memes. São reações 'normais' a um acontecimento como este ou estamos a ficar cada vez mais dessensibilizados para estes atos de violência? 

Esta reação de transformar um evento trágico, como o homicídio de Brian Thompson, em piadas e memes pode ser interpretada como uma resposta de dessensibilização crescente à violência potencializada pelo mundo digital.

A constante exposição a notícias violentas nas redes sociais cria um cenário onde o impacto emocional é diminuído, levando à banalização. Do ponto de vista social, também estamos a observar uma cultura de dominância da performance digital e a desumanização do outro.

Banalizar a violência não é saudável nem desejável para uma sociedade empática, mas por mais paradoxal que possa parecer, os memes e as reações rápidas são formas de marcar presença no mundo digital, de participar numa narrativa coletiva, não importa se é boa ou má.

Do ponto de vista psicológico, este humor negro funciona como um mecanismo de defesa: é uma forma de as pessoas lidarem com a ansiedade que a violência provoca.

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Qual seria a reação esperada e considerada 'normal' para acontecimentos como este? 

Geralmente, em sociedades com maior exposição a crimes violentos, como, por exemplo, a cultura americana, a apatia ou humor pode ser considerada normal, mas isso não a torna saudável.

O ideal seria uma reação equilibrada, que reconhecesse a gravidade do acontecimento sem o trivializar. Uma reação 'normal' seria de consternação, empatia para com a vítima e família, e uma profunda reflexão sobre as causas e implicações do ato.

Piadas ou memes desviam a atenção do impacto real da violência, desumanizam o ato condenável, e dificultam a construção de um diálogo sério sobre o tema.

A romantização de criminosos pode refletir uma idealização do poder ou uma tentativa inconsciente de lidar com o medo

O que podemos fazer individualmente e como sociedade para lidar melhor com este tipo de coisas? 

Enquanto sociedade, precisamos promover uma cultura de empatia e responsabilidade digital. Isso começa na educação, ensinando desde cedo o impacto das nossas ações online e a importância de respeitar a dignidade humana, mesmo num espaço virtual.

Individualmente, é importante consumir informação de forma consciente, refletindo sobre como reagimos e evitando alimentar discursos que banalizam a violência. Por fim, devemos exigir responsabilidade dos media na cobertura de tragédias como esta.

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Também surgiram muitas reações e comentários sobre Luigi Mangione, o homem acusado de matar o diretor executivo O que faz com que as pessoas romantizem este tipo de situações e pessoas? O facto de ser uma pessoa atraente tem algum tipo de impacto? 

A romantização de criminosos pode refletir uma idealização do poder ou uma tentativa inconsciente de lidar com o medo.

A aparência física amplifica este fenómeno, devido ao 'efeito halo', onde associamos características positivas a pessoas atraentes, mesmo que as suas ações sejam condenáveis. Acrescentaria que as redes sociais oferecem uma arena para a projeção de angústias pessoais. 

Quando vemos a romantização de um criminoso, como Luigi Mangione, especialmente se ele for considerado atraente, entramos no território da idealização narcisica. Atração por criminosos ou 'serial killers' é um fenómeno bem documentado, conhecido como hibristofilia. Muitas vezes, reflete uma tentativa inconsciente de lidar com o medo e o caos projetando segurança ou controle na figura do transgressor. É uma forma de transformar o medo em fascínio.

Quem sente atração por um alegado criminoso deve ficar preocupado? Deve procurar ajuda? 

Creio que sim! Quem começa a sentir atração por criminosos deveria refletir sobre as raízes desse sentimento. Muitas vezes, a atração pode indicar mazelas psicológicas na infância ou carências emocionais, assim como uma busca por figuras 'fortes' ou até uma idealização da transgressão como poder. 

Procurar ajuda torna-se mais recomendável se a fantasia interferir com a realidade. É importante para entender as razões subjacentes a esses sentimentos e um psicólogo pode ajudar a trabalhar esses aspetos de forma saudável e consciente.

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Serviços telefónicos de apoio emocional em Portugal

SOS Voz Amiga (entre as 16 horas e as meia-noite) -  213 544 545 (número gratuito) - 912 802 669 - 963 524 660 

Conversa Amiga (entre as 15 e as 22 horas) - 808 237 327 (número gratuito) e 210 027 159

SOS Estudante (entre as 20 horas e a uma da madrugada) - 239 484 020 - 915246060 - 969554545

Telefone da Esperança (entre as 20 e as 23 horas) - 222 080 707 

Telefone da Amizade (entre as 16 e as 23 horas) – 228 323 535

Todos estes contatos garantem anonimato tanto a quem liga como a quem atende. No SNS24 (808 24 24 24), o contacto é assumido por profissionais de saúde. Deve selecionar a opção 4 para o aconselhamento psicológico. O serviço está disponível 24 horas por dia, sete dias por semana.

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