O fumeiro é um produto de tradições que no Barroso foi passando de geração em geração e que encontra palco para divulgação e venda na Feira do Porco, que decorre entre hoje e domingo, em Boticas.
É neste certame que se dá início à ronda das feiras de fumeiro do distrito de Vila Real. Segue-se a Feira do Fumeiro de Montalegre entre 23 e 26 de janeiro, de 1 a 2 de fevereiro, a Feira de São Brás, em São João da Corveira (Valpaços), e, por fim, a Feira dos Sabores (Chaves), entre 14 e 16 de fevereiro.
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Há 15 anos que Maria Crespo, 53 anos, se dedica à produção de fumeiro. A arte aprendeu-a com a mãe e atualmente participa em vários certames em Trás-os-Montes e no Minho, e vende em casa e 'online', através das plataformas criadas por municípios como Boticas e Montalegre.
O trabalho é feito entre outubro e maio e, este ano, já desmanchou 32 porcos e ainda tem mais 16 para matar.
"É um negócio trabalhoso. Nós temos que aproveitar os recursos que temos na terra, aqui não temos fábricas, grandes oportunidades e então temos que agarrar o que a terra nos permite", afirmou à agência Lusa a produtora de Vila da Ponte, em Montalegre.
E o fumeiro é, frisou, um produto da terra. "Os animais são criados em casa, com o que a gente colhe, e é uma coisa na qual nós podemos investir", salientou.
Maria Crespo considerou as feiras importantes para "dar o produto a conhecer". "É onde as pessoas podem provar, porque apesar de sermos terras vizinhas cada uma tem a sua forma de efetuar os produtos", frisou, realçando que este "é um produto de tradições".
Nos 'stands' vendem-se alheiras, chouriças, salpicões, farinheira, chouriço de abóbora e de sangue, entre outras partes do porco (pés, barrigas, cabeças).
Pelo recinto espalham-se cerca de 40 produtores de fumeiro, num total de 80 expositores de artesanato, mel, licores, pão, um bolo-rei feito com fumeiro, o vinho dos Mortos, por ser enterrado e que é apenas produzido neste concelho, e ainda cerveja de castanha.
Maria do Céu Dias, 69 anos, este ano criou 20 porcos para desmanchar e transformar em fumeiro que vende em Boticas, Montalegre, Vieira do Minho e diretamente em casa.
"Agora há pouco dinheiro e as pessoas compram pouco, mas vai indo, lá se vai vendendo", salientou, referindo que esta é uma atividade que "já compensou mais", mas que "continua a ser uma ajuda para o orçamento familiar".
Os porcos são criados durante o ano inteiro com os produtos agrícolas colhidos em Torgueda da Chã, em Montalegre, e nas feiras arranja clientes que a procuram anualmente.
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Margarida Gonçalves, 55 anos, é da Aldeia Nova, também em Montalegre, e salientou que a participação nas feiras é importante para divulgar o seu produto.
"Aqui é um sítio que apanhamos clientes para o ano inteiro, são clientes fixos", salientou, referindo que mata, por ano, à volta de 20 porcos.
Os negócios, referiu, "não dão fortuna nenhuma", tendo que "trabalhar muito, muito". "Mas são tradições que aprendemos e que queremos continuar. Foi com a minha mãe que aprendi", salientou.
O presidente da Câmara de Boticas, Fernando Queiroga, disse que a Feira Gastronómica do Porco, que se realiza desde 1998, é um "palco de sustento para algumas famílias" e que "ajuda a preservar a paisagem, já que as pessoas continuam a cuidar dos terrenos para alimentar os animais".
No entanto, reconheceu dificuldades em atrair mais jovens para a atividade, explicando que, para incentivar os mais novos, a autarquia pretende levá-los à feira.
"É um dos problemas que temos em mãos, atrair gente jovem e sensibilizá-los para a oportunidade de negócio que têm. Não estamos a conseguir tanto quanto nós queremos, mas não baixaremos os braços, vamos continuar a fazer isso. É um setor muito importante e que nós continuaremos a preservar garantidamente", afirmou.
O autarca destacou ainda o controlo rigoroso dos produtos, através do veterinário municipal, para garantir a sua qualidade.
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