Um estudo europeu publicado esta semana, que seguiu 6.600 doentes com cancro da mama em nove países europeus durante mais de cinco anos, concluiu que o teste 'MammaPrint' permite poupar a quimioterapia a 46% dos casos de doentes com cancro da mama precoce que, pelos critérios tradicionais, a fariam.
Segundo a médica Fátima Cardoso, que é a investigadora principal do estudo, a comunidade científica tem consciência que uma grande percentagem de doentes com cancro da mama precoce é sobretratada.
Isto deve-se ao facto de o cancro da mama só ser curável em fase precoce, uma vez que quando aparecem metástases (doença à distância ou recidiva) a doença torna-se incurável. Por essa razão, em caso de dúvida sobre o risco de recidiva, os médicos preferem fazer quimioterapia.
Uma questão crucial é como identificar os tumores precoces com um risco de recidiva tão baixo que permita prescindir de quimioterapia.
"Na prática clínica, decide-se se a quimioterapia será necessária ou não baseada em caraterísticas patológicas do tumor e características do doente. Mas há casos de tumores com as mesmas caraterísticas, que recebem o mesmo tratamento mas cujo comportamento é completamente diferente. Ou seja, existem outras características que são fundamentais para o risco de recidiva", explicou em entrevista à agência Lusa a investigadora da Fundação Champalimaud Fátima Cardoso.
Usou-se uma nova tecnologia para analisar o genoma do tumor, traçar uma espécie de bilhete de identidade, olhando para os seus 44 mil genes e tentando encontrar caraterísticas que diferenciem entre baixo e alto risco de recidiva.
Foi assim descoberta uma assinatura de 70 genes (MammaPrint) que permite fazer essa distinção. O estudo avaliou este novo teste em associação aos critérios patológicos e clínicos tradicionais.
Avaliou-se o risco de recidiva das 6.600 doentes do estudo pela forma tradicional e também com o novo teste genómico MammaPrint.
Quando os dois métodos indicavam que o tumor era de alto risco, encaminhava-se o doente para quimioterapia. Quando a indiciação de ambos era de risco baixo, não se aplicava quimioterapia.
Em caso de discordância na resposta dada pelos dois métodos -- o que acontece em cerca de um terço dos casos -- os investigadores propuseram-se perceber qual devia ser o método seguido.
Dividiram os doentes e metade seguiu o método de avaliação de risco tradicional do tumor e outra metade o risco apontado pelo MammaPrint.
"O estudo concluiu que quando os critérios tradicionais indicam alto risco mas o teste genómico diz baixo risco não precisamos de fazer quimioterapia. Na verdade, permite poupar quimioterapia a 46% de pessoas que normalmente fariam quimioterapia pelos critérios tradicionais", indicou Fátima Cardoso.