"Solicitamos da parte da FAO a clara declaração da situação no país para que o país possa mobilizar recursos junto dos nossos parceiros para termos a devida assistência e executarmos o programa de emergência para mitigação da seca e do mau ano agrícola", avançou Gilberto Silva.
Na semana passada, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) incluiu Cabo Verde na lista de países a necessitar de assistência alimentar externa.
De acordo com o mais recente relatório da organização sobre colheitas e situação alimentar no mundo, o agravamento de conflitos e as condições climáticas adversas aumentaram para 39 o número de países a necessitar de ajuda alimentar externa.
Cabo Verde é colocado entre os com "quebra excecional de produção de alimentos", apontando o relatório o fraco ano agrícola de 2017 e a "significativa perda" de cabeças de gado.
A FAO estima em 192 mil (35% da população), o número de pessoas a necessitar de assistência alimentar entre março e maio, sobretudo devido aos défices de produção agrícola e pecuária, mas prevê que, entre junho e agosto, com a habitual época das chuvas, esse número possa descer para as 80 mil pessoas.
Na altura, o primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, referiu que o país não está a atravessar uma crise alimentar, considerando que a integração na referida lista resulta "do impacto da produção agrícola e pecuária e o efeito direto nas pessoas que vivem dessas atividades, devido, principalmente, ao mau ano agrícola de 2017".
Cabo Verde atravessa uma das piores secas das últimas décadas, tendo em aplicação um programa de emergência para o qual mobilizou 10 milhões de euros junto dos parceiros internacionais.
No final de uma vista a silos e grandes armazéns na cidade da Praia, o ministro Gilberto Silva avançou que foi o Governo que solicitou a inclusão na lista da FAO, para poder mobilizar recursos junto dos parceiros para mitigar os efeitos da seca e do mau ano agrícola.
"Temos que ser coerentes, se somos um país que está a beneficiar de assistência para mitigar os feitos da seca, é evidente que temos que constar dos relatórios que justamente dizem que somos um país neste momento em emergência neste domínio", sustentou o governante.
Na terça-feira, a líder do maior partido da oposição cabo-verdiana (PAICV), Janira Hopffer Almada, considerou "um grande recuo" a inclusão de Cabo Verde na lista e quer saber o destino dos fundos mobilizados para resposta à seca e ao mau ano agrícola.
Para Gilberto Silva, "não se deve politizar este assunto", mas sim passar uma "mensagem de coesão, de tranquilidade" para os cabo-verdianos.
"Não está em causa o abastecimento do nosso país em matéria de alimentos", afirmou o ministro, dizendo que o mau ano agrícola põe em causa a produção de hortícolas, frutas e pecuária, produtos que o país normalmente não importa.
O ministro disse que as afirmações da líder do Partido Africano da Independência de Cabo Verde são "completamente irresponsáveis e sem sentido de Estado", notando que o país "sempre foi" objeto de ajuda alimentar.
"É um programa técnico, são dados técnicos, é um relatório técnico, que não merece ser politizado desta forma. Cabo Verde, como todos sabemos, é um país que vive situações de seca e quando há situações de seca os relatórios da FAO reportam isso", prosseguiu.
Gilberto Silva disse que os recursos são suficientes para implementar todas as ações planificadas e que, em função do novo ano agrícola, o Governo vai ver se serão necessários mais recursos.
O programa de emergência tem como medidas prioritárias o salvamento de gado, mobilização de água, acesso a financiamento e criação de emprego no meio rural, mas têm surgido queixas de agricultores e criadores de gado de que as medidas são insuficientes.