Na sequência da notícia da morte de John McCain, os tributos ao senador do Arizona sucederam-se, recordando não só a sua carreira como político mas também a sua integridade como pessoa. O republicano é recordado como um "político corajoso", sem medo de criticar um ato de intolerância ou de apontar uma injustiça, mesmo que em conflito com o seu próprio partido.
Em 2014, por exemplo, McCain defendeu, em oposição a todos os seus colegas republicanos, a divulgação do relatório da CIA sobre o uso de tortura depois do 11 de Setembro, pedindo clareza sobre um tema que muito lhe dizia respeito. O senador, recorde-se, foi um piloto feito prisioneiro de guerra durante a guerra do Vietname, onde foi torturado.
Um dos momentos mais lembrados pelos admiradores do antigo candidato à Casa Branca aconteceu, porém, durante a campanha às eleições presidenciais de 2008, que opôs McCain ao democrata Barack Obama.
McCain acabaria por perder as eleições e dirigir a Barack Obama um discurso de concessão que manifestava admiração pelo seu oponente, mas durante a campanha o tom nem sempre foi amigável. No entanto, num comício no Arizona, McCain defendeu Barack Obama quando um participante do evento lhe disse que tinha "medo" do candidato democrata.
Tonight -we remember a true leaderMay his dignity, courage & humility be a guide to us all.Tonight- I remember a Presidential nominee defending his opponent bc it was the right thing to do #greatamerican@SenJohnMcCain Counters Obama 'Arab' Question https://t.co/DbK1JTQioo
— Stephanie Ruhle (@SRuhle) 26 de agosto de 2018
"É uma pessoa decente e uma pessoa que não deve temer como presidente dos Estados Unidos", disse, recebendo alguns apupos da plateia. Depois, fez o mesmo quando uma mulher lhe disse que não confiava no candidato democrata, que dizia ser "um árabe".
“Não, minha senhora. É um homem de família e um cidadão decente, com o qual discordo em temas fundamentais e é sobre isso que esta campanha acontece”, afirmou, cortando de imediato a voz à mulher e granjeando de alguns aplausos da plateia republicana, conforme pode ver no mesmo vídeo acima.
O vídeo deste momento é agora recordado como um dos atos que vão "moldar o legado" do senador, conforme escreve o The Guardian.
Não foi a primeira vez que McCain defendeu Obama num comício, durante aquela campanha presidencial onde circulavam várias teorias sobre a cidadania de Barack Obama, baseadas fundamentalmente no preconceito e no racismo e aproveitadas por outros oponentes republicanos (como, mais tarde, Donald Trump).
O senador do Arizona, recorde-se, morreu no sábado, poucos dias antes de fazer 82 anos, no seu rancho em Sedona, após 13 meses de luta contra um cancro no cérebro.