Em Cabul, no Afeganistão, qualquer homem com dinheiro no bolso pode encontrar e comprar uma esposa para si ou para os seus familiares. Porque na capital afegã tudo tem um preço, inclusive as crianças.
Quem o escreve é o jornal espanhol El Mundo. Depois de várias semanas a estabelecer contacto com Akbar, um “intermediário para homens que procuram boas esposas”, como o próprio se define, o jornalista Amador Guallar, que assina a reportagem, desvenda pormenores sobre o tráfico de crianças naquele país asiático.
Após conversações com Akbar, o jornalista marcou um encontro. O objetivo era discutir os termos da compra de uma esposa “jovem, mas suficientemente madura para ser prolífica”.
Este traficante aproveita o desespero de famílias pobres e negoceia a venda de crianças a homens com dinheiro, um negócio “normal” naquele país.
“Esta é a minha cultura, não faço nada que não tenha sido feito durante centenas ou até mesmo milhares de anos. Mesmo antes do profeta, Deus o tenha em sua glória. A mulher deve formar uma família, e eu ajudo-as a encontrar um marido”. É desta forma que Akbar explica o seu “trabalho”. “Não sequestro as meninas, não obrigo ninguém a dar-me as filhas. O que faço é pôr em contacto as famílias que decidiram casá-las com homens que necessitam de uma mulher”.
Neste negócio, Akbar conta que divide as jovens de acordo com a idade, a origem e as habilitações. Depois, estabelece um preço. O preço de uma mulher “satisfatória” é de cerca de 150 afeganis (cerca de dois euros), para além dos dez mil afeganis (cerca de 120 euros) que o traficante ganha pela intermediação.
Várias organizações de defesa dos direitos humanos têm denunciado a violação sistemática do direito das mulheres e das crianças no Afeganistão, um país em que o fundamentalismo religioso assume um papel central na vida dos seus cidadãos.