No passado dia 2 de outubro, Jamal Khashoggi, correspondente do Washington Post e crítico do regime da Arábia Saudita, entrou no consulado saudita em Istambul e nunca mais foi visto.
Esta terça-feira, e cumprindo promessa de revelar "toda a verdade" feita nos últimos dias, o presidente da Turquia está a avançar com novos detalhes sobre o caso em declarações perante o parlamento.
Recep Tayyip Erdogan adianta que oficiais sauditas planearam a morte com antecedência e que sabiam que Jamal Khashoggi tinha estado no consulado para tratar de burocracias, a 28 de setembro, poucos dias antes do seu desaparecimento.
A Sky News tem estado a acompanhar a declaração do presidente turco e realça a acusação de que oficiais das autoridades sauditas tinham conhecimento do que se passava e que duas equipas distintas terão participado no crime.
Erdogan não só descreve a morte do jornalista como "selvagem" como reforça que o caso não pode ser alvo de encobrimento. O chefe de Estado turco exige ainda que seja revelada a localização dos restos mortais de Khashoggi.
Às 11h50 [hora local, mais duas horas do que em Portugal Continental] do dia 28 de setembro, o correspondente do Washington Post terá estado no consulado saudita em Istambul para recolher documentação para o seu casamento com uma cidadã turca, adiantou o presidente turco.
Após isso, acrescentou Erdogan, terá sido passada a informação para a equipa que "planeou e assassinou" Jamal Khashoggi com dias de antecedência.
A 1 de outubro, pelas 16h30, véspera do desaparecimento, três pessoas voaram de Riade para Istambul e terão ido primeiro ao hotel, seguindo depois para o consulado. Na mesma altura, um outro grupo terá saído do consulado saudita para ir em missão de reconhecimento a Yelova - uma zona florestal próxima de Istambul.
A 2 de outubro, dia do desaparecimento, uma equipa de três pessoas voou até Istambul, seguida por uma equipa de nove elementos, onde se incluiriam generais. Este grupo voava num avião privado.
Erdogan diz que uma equipa composta por 15 sauditas se encontrou no consulado saudita entre as 9h50 e as 11h da manhã do dia do desaparecimento. Terão levado consigo as imagens de videovigilância do consulado. Às 11h50 dessa manhã contactaram o jornalista para lhe adiantar que tinha marcação para esse mesmo dia.
Poucas horas depois, pelas 13h08, Jamal Khashoggi chegou ao consulado pelo seu próprio pé e entrou no consulado, nunca mais tendo sido visto deste então. No final do dia, pelas 17h50, a noiva de Khashoggi apresentava queixa junto das autoridades turcas, que de imediato lançaram uma investigação, segundo Erdogan.
Erdogan acusa ainda os sauditas de terem usado um sósia para dar a entender que o jornalista tinha abandonado o consulado - reforçando assim a veracidade das imagens já exibidas ontem pela CNN, que davam conta de um homem, com uma barba falsa e com algumas parecenças com o jornalista, a usar as roupas deste.
Saliente-se que aos 15 suspeitos de terem levado a cabo o homicídio se juntam outros três suspeitos. Erdogan defende que devem ser julgados na Turquia, mas faz questão de realçar que não quer ver punidos apenas os autores, mas também os mandantes.
Durante vários dias a Arábia Saudita defendeu que Jamal tinha saído vivo e pelo seu próprio pé do consulado. Nos últimos dias começaram a admitir a morte do jornalista. No passado sábado admitiram finalmente a morte, mas sugerindo que terá sido "um erro" resultante de uma luta durante um interrogatório.
A versão da autoridades turcas, porém, é particularmente mais violenta: a equipa de sauditas interrogou, torturou e matou o jornalista, tendo desmembrado o corpo deste para ser mais fácil retirá-lo do consulado.
Após semanas de dúvidas, é mais do que certa a possibilidade de Jamal Khashoggi estar morto. Não se sabe ainda, no entanto, onde estarão os restos mortais.
[Notícia atualizada às 11h00]